segunda-feira, 8 de junho de 2015

Desertificação atinge grandes áreas do Semiárido



Mais de 1 milhão e 260 mil km2 em 1.440 municípios de oito estados da região Nordeste e do norte de Minas Gerais. Esta é a dimensão da degradação extrema do solo, da cobertura vegetal, da biodiversidade e da perda de capacidade produtiva das atividades agropecuárias em uma vasta extensão de terras do país. Ou seja: susceptível à desertificação, de acordo com o pesquisador Iêdo Bezerra Sá, da Embrapa Semiárido.


https://www.embrapa.br/busca-de-noticias/-/noticia/3240771/desertificacao-atinge-grandes-areas-do-semiarido

Área em processo de desertificação no Semiárido

Para o Senador Fernando Bezerra Coelho, presidente da Comissão Mista de Mudanças Climáticas do Congresso Nacional, esta é uma situação que "já passou da hora" de ser tratada com mais seriedade e atenção. Os dados disponíveis expõem a gravidade que só se acentua com o passar do tempo. Nos últimos 10 anos, por exemplo, o desmatamento da Caatinga atingiu uma área equivalente ao tamanho de Portugal, a ponto de, hoje, estar com quase 50% do seu território afetado por processos acentuados e severos de desertificação.

Fernando Bezerra defende a inclusão deste fenômeno ambiental como um dos temas de políticas públicas para o Nordeste. Como consequência, tornar a desertificação uma das prioridades da proposta que o governo brasileiro levará para a 21a Conferência sobre o Clima (COP 21), organizada pela Organização das Nações Unidas (ONU), em Paris, no mês de dezembro.

Raízes - O quadro mais grave está registrado no Ceará, onde todos os 184 municípios são afetados por esse fenômeno. No Rio Grande do Norte, Paraíba e Piauí a extensão afetada ultrapassa 90% dos seus territórios, a maior parte localizada no Semiárido, onde as condições ambientais são vulneráveis à exploração extrativista ou ao manejo inadequado dos recursos naturais.

Quase a metade da região Semiárida do Brasil – 43%, é caracterizada por solos de constituição frágil, que até chuvas mais intensas podem levar a sua desestruturação. Um deles, os chamados Luvissolos, que se estende por 13,3% do Semiárido, tem a característica de ser raso, com 50-60 cm de profundidade. Quando chove, encharca e, não raro, tem seu horizonte superficial arrastado.

Os Planossolos e os Neossolos Litólicos, que estão em 10,5% e 19,2% do Semiárido, possuem argila ou rocha em pequena profundidade (30-40 cm) ou mostram-se pedregosos e compactados na superfície, respectivamente. Nas duas situações, além da pouca fertilidade, sobressai o impedimento às raízes das plantas de crescerem.

"Atividades predatórias como queimadas, revolver o terreno sem a devida consideração de suas caraterísticas físicas, químicas e biológicas desses solos são como acertar um tiro no pé", garante Iêdo. "O impacto disso põe em risco até mesmo a sobrevivência das pessoas que habitam esses locais".

O termo desertificação remete à imagem de um "mar" de areia, sem planta alguma a compor a paisagem, de poucas chuvas em períodos muito breves do ano, e onde não se pratica agricultura – salvo em alguns poucos oásis. A Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação e Mitigação dos Efeitos das Secas - UNCCD (sigla em Inglês) emprega o termo desertificação para caracterizar realidades de degradação extrema e se aplica à terra, à cobertura vegetal e à biodiversidade e está associada à perda da capacidade produtiva nas regiões áridas, semiáridas e subúmidas secas.

Fragilidade - Iedo Sá explica que existe um amplo consenso de caracterizar a degradação das terras como consequência da ação humana e de fatores climáticos. Nas áreas rurais, são comuns práticas de desmatamento, extração excessiva de produtos florestais, queimadas, sobrecarga animal, uso intensivo do solo e seu manejo inadequado.

Nos últimos quatro anos, a seca prolongada na região tornou evidente as consequências derivadas da ação humana. É significativo, ainda, observar que, nas áreas em processos de desertificação, é "elevada a incidência de pobres e de indigentes, em proporções significativamente maiores que a média nacional".

Para Iêdo, diante da ameaça de expansão dos processos de desertificação, as instituições públicas e as organizações da sociedade civil deveriam ser mais efetivas na implementação de medidas que agilizem a criação de uma maior quantidade de áreas de proteção, além de outras com importância no funcionamento ecossistêmico do bioma. Dentre elas, o caso dos remanescentes do Piauí, a Chapada Diamantina, os Brejos de Altitudes de Pernambuco, da Paraíba e do Ceará, que estão sob forte ameaça.

Mas, além disso, é "fundamental" a aproximação dos departamentos das universidades e centros de pesquisa, das áreas onde são debatidas e definidas as políticas públicas no país, como a Comissão Mista de Mudanças Climáticas do Congresso Nacional, afirma Iedo. "As informações e conhecimentos técnico-científicos produzidos nessas instituições são importantes na elaboração proposta brasileira e da sua apresentação em um fórum internacional como a COP 21".


Marcelino Ribeiro (MTb / BA 1127)
Embrapa Semiárido
semiarido.imprensa@embrapa.br
Telefone: 87 3866 3734


Mais informações sobre o tema
Serviço de Atendimento ao Cidadão (SAC)
www.embrapa.br/fale-conosco/sac/

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