quinta-feira, 15 de junho de 2017

Um rei delirante na conquista da Patagônia

Olhar de Cinema. Um rei delirante na conquista da Patagônia

Luiz Fernando Zanin Oricchio

CURITIBA – Rey, do chileno Niles Attalah, traz como personagem a figura polêmica do explorador francês que tentou se tornar monarca da Patagônia para nela fundar a utopia da Nova França. Orelie Antoine de Tounens de fato existiu. Foi um advogado e aventureiro do século 19, que se dedicou a conquistar um pedaço de terra americana para nele plantar seus sonhos.



O filme, no entanto, não é uma descrição realista de suas aventuras. Fala delas, porém lhes dá um tom fantasmagórico e delirante, inscrito na própria linguagem cinematográfica empregada. O diretor trabalha às vezes com velhas películas, dando à sua uma aparência antiga, riscada, imperfeita, com som desgastado pelo tempo. Outras, interfere na própria “película”, colorindo-a ou usando outras intervenções.



A própria saga de Orelie comporta essas opções. Ele é visto em meio à selva, guiado por um branco chileno que tem conhecimento apenas aproximativo dos idiomas indígenas. Seus contatos com os nativos tornam-se comédias de equívocos. Além do mais, Orélie enfrenta um processo com o governo chileno quando é acusado de ser na verdade um espião dos franceses, que preparariam uma invasão do Chile.



Há em Orelie algo de Aguirre, o aventureiro retratado por Werner Herzog. São similares os propósitos delirantes, de refundação e purificação de raças e países, na visão desses exploradores já contaminados por uma decadência irreversível. Assim, os europeus cansados encontrariam, no frescor da América, um fator de renovação espiritual. Daí a busca por utopias de pureza. E também por novos territórios e por riquezas. Um belo e inventivo filme.



Luizzanin7

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