Ernesto Lozardo
Quase três décadas após o fim da Guerra Fria, as economias ocidentais ainda buscam uma saída para a primeira crise global. Nos Estados Unidos, a taxa de crescimento deverá permanecer em torno de 2,5% ao ano, quando, anteriormente, era superior a 3% ao ano. A produtividade da mão de obra aumentará metade do registrado no passado, ou seja, 1,5% ao ano. A economia norte-americana não será o principal motor do crescimento econômico global.
A zona do euro continuará sendo o foco das incertezas, com acentuado desemprego, estagnação econômica e deflação. Isso resultará em maior inadimplência das famílias e das empresas, aprofundando a recessão na região. Se, por um lado, os Estados Unidos nos dão esperanças, de outro, a zona do euro apresenta um cenário econômico grave.
No entanto, a China caminha na direção oposta: apresenta uma taxa de crescimento em torno de 7% ao ano, e realiza um amplo programa de reequilíbrio, mais voltado ao mercado doméstico. Quando a economia e o comércio mundial derem sinais de recuperação, por volta de 2020, a China já terá realinhado sua economia por meio da expansão do consumo interno e da realocação de recursos para as estruturas nacionais. A prosperidade chinesa terá ganhado um novo vigor. Mas, por que os comunistas chineses se saem melhor do que os capitalistas de países mais desenvolvidos?
Loretta Napoleoni, com grande versatilidade analítica e histórica, aborda o milagre do desenvolvimento do socialismo e do mercado chinês. A China tem lidado melhor com a globalização do que os países desenvolvidos. Criou estratégias de crescimento e de prosperidade, evitando riscos e explorando as oportunidades da globalização. O modelo socialista chinês entendeu com mais profundidade os preceitos da teoria marxista do que os socialistas ocidentais, particularmente os soviéticos. Estes eliminaram o lucro da equação econômica, acreditando que esse fato seria suficiente para dar força à ditadura do proletariado. Já a China comunista de Mao e de Deng Xiaoping compreendeu que o lucro é uma variável fundamental para o progresso das pessoas e da economia.
Loretta enfatiza que a China vem melhorando o padrão de vida da população a cada dia. Todavia, de acordo com os conceitos ocidentais, tais conquistas não significam muita coisa, pois no país não há democracia. “Aqui, chegamos ao cerne do problema: essa apreciação da falta de liberdade política da população chinesa é, uma vez mais, fruto de um equívoco conceitual. Para os chineses que ocuparam a praça Tiananmen em 1989, sob o pôster gigante de Mao, democracia era sinônimo de igualdade econômica. Logo, de iguais oportunidades de crescimento, algo que foi conquistado por um amplo segmento da população nos últimos vinte anos.” A autora opõe-se ao pensamento neoliberal e afirma que a economia ocidental atravessará as contradições inerentes da democracia neoliberal em um mundo globalizado, no qual países desenvolvidos e emergentes se tornaram interdependentes no intento da prosperidade inclusiva.
Apesar dessas contradições conceituais, o fato é que as economias ocidentais poderão ser estimuladas pelas mãos reais dos chineses e não pela teórica mão invisível de Adam Smith. Para entender a China, ressalta Loretta, é preciso analisá-la pelos olhos do dragão, jamais pelos da águia norte-americana. O livro Maonomics representa uma análise lúcida dos valores de uma sociedade comunista-marxista de sucesso.
Brasileiros
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