terça-feira, 10 de janeiro de 2017

Não vamos falar de crise, o trabalho liberta

Michel Zaidan

Nunca me esqueci da frase,pronunciada por um delegado da polícia civil, em debate radiofônico sobre a criminalidade no país. Segundo a autoridade policial, a nossa sociedade é criminógeno, ou seja, ela produz o crime e o criminoso e os tipos penais que definem o crime. Não precisaria ir tão longe, no "nascimento da biopolítica" e do "biopoder", ou citar as palavras de Michel Foucault, para chegar a uma conclusão tão límpida, tão clara e óbvia. 0 modelo de sociedade implantado no Brasil ("societas sceleris"), só poderia gerar essa deformação sistêmica de que o crime (o grande crime) compensa. 

Aos pequenos criminosos, aos criminosos de origem humilde, pobre, sem pedigree, é simplesmente destinado dodos os tipos do código penal brasileiro. E são executados sem só nem piedade. São postos num matadouro público para morrer. É uma modalidade fascista da limpeza social. De higienização social, numa época de terrorismo penal ou neo-lombrosianismo. 

Não se trata de impotência estatal ou jurídica, trata-se de uma biopolítica posta em prática na sociedade brasileira, com a conivência das classes abastadas, e o medo da classe média. Não se discute valores, modelo de ascensão social, desigualdade social, falta de socialização política, nada. 

Apenas, se cruzam os braços e se diz que ninguém é culpado pelo genocídio de presos, pobres, negros, prostitutas etc. É uma espécie de mal necessário. Alguém tem de fazer a faxina. Mas ela tem de ser feita, escandalize quem escandalizar.

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