quarta-feira, 10 de agosto de 2016

O Golpe do Impeachment como construção da Nova Torre de Babel

Mestre João Ferreira

De acordo com Teodorico Ballarini, biblista italiano, membro do Conselho Teológico da Universidade de Bolonha, a narrativa bíblica da Torre de Babel (Gên. 11:1-9), vem articulada em cinco partes constituintes: Uma introdução e uma conclusão, ambas em forma de notícia; e três cenas, consistindo essencialmente, cada uma, em forma de discurso. Nas duas primeiras, o discurso é de natureza exortativa, que exprime uma decisão tomada em comum. Na terceira cena, Javé fala consigo mesmo, usando o estilo da deliberação, CONÍ o verbo no plural, "vamos e confundamos-lhes a língua".

Em notas exegéticas, Ballarini ressalta que toda a terra tinha uma só língua, isto é, a humanidade mantinha um espírito respeitoso, tendo ideias e projetos em comum, sob a orientação de Javé. Na primeira cena do discurso, alguns homens discordavam da orientação divina e começam a fabricar tijolos e betume, no audacioso projeto: Construir uma cidade, com uma torre, cujo topo chegasse ao Céu. Para esse fim, usaram tijolo em vez de pedra e betume em vez de argamassa. Isso significa que fizeram um projeto dentro das conveniências de uma elite e quiseram colocar dentro desse projeto, não somente o resto da humanidade, mas também o próprio Deus.

Assim, a construção da torre assume a conotação de um ousado desafio de além de escalar o Céu, na tentativa de mostrar poder a Deus, como símbolo do poder de uma minoria sobre a maioria. É isso que sugere a expressão: "façamos para nós um nome", um monumento, que indique que somos os melhores. Na terceira cena, o projeto entra em execução. A terra começa a dominar o Céu; o homem começa a fazer a agenda de Deus; a injustiça começa a dominar a justiça; a mentira começa a dominar a verdade; a hipocrisia começa a valer mais do que a sinceridade; o ódio começa a dominar o amor; o espírito competitivo sufoca o espírito fraterno. Resultado: Javé não permite que esse plano tenha êxito, confunde-lhes a língua e o projeto todo passa para a história como TORRE DE BABEL, que significa torre da confusão.

A bem da verdade, os construtores da TORRE DE BABEL, à semelhança dos que aprovaram o processo de impedimento do mandato da presidenta eleita democraticamente, não estão contra Deus, estão agindo sem Deus, pois no lugar de entrar no plano de Deus, estão querendo colocar Deus no seu plano, como quem procura sacrificar a justiça no altar da lei. No lugar da humildade, que leva o homem confiar e esperar no tempo providencial de Deus, precipitam-se na HYPERAFANIA, que quer dizer, a arrogância, pela qual, alguns acham que são donos da consciência alheia. Vimos que muitos deputados evocaram o nome de Deus ao votarem pelo afastamento da presidenta Dilma. Isso, naturalmente, pode representar um ato de tomar o nome de Deus em vão e Deus não tem por inocente aquele que procede dessa maneira.

Vale ressaltar, que no texto bíblico referente à TORRE DE BABEL, o termo LÁBIO é traduzido como LÍNGUA, significando que a confusão de língua foi uma confusão de lábios, o que equivale ao que popularmente convencionou a denominar-se blá-blá-blá, que significa uma fala sem nexo com a razão, sem lógica, desprovida de verdade, configurando mais aleivosidade e má-fé, do que verdade e justiça. Isso não significa que Deus estivesse contra os idiomas que vieram a se desenvolver no seio da humanidade mas Deus não aprova os bate-boca movidos pelo ódio, que distanciam as pessoas umas das outras, levando-as a quererem exercer o poder sobre as outras, no lugar do poder com os outros, como deve acontecer na legítima democracia.

Diante do incidente da TORRE DE BABEL, pode-se perceber que a vontade ativa de Deus, tornou-se vontade passiva. Assim, Deus passou a tolerar a dispersão dos grupos sobre a terra; a pluralidade dos idiomas; e até o triunfo do homem sem Deus; mas não tolerará a existência completa da comunidade humana, fora da graça divina. Assim, essa narrativa bíblica passa a fazer parte da realidade histórica. O plano de Deus de salvar a humanidade passa pela escolha de um povo, do qual, nascerá Jesus Cristo,. o salvador da humanidade.

Vale ressaltar que Jesus Cristo também foi vítima do que hoje se denomina impeachment, que os antigos gregos definam pelo termo EMPÓDION, que dá origem à palavra repúdio, em português. Os fariseus, que se encarregaram de agitar as massas do povo contra Jesus haviam sido descritos por João Batista como "RAÇA DE VÍBORAS" e pelo próprio Jesus, como "HIPÓCRITAS" e como "SEPÚCLUOS CAIADOS", que equivale ao que se denomina hoje CORRUPTOS, que quer dizer apodrecidos. Diante das acusações dos fariseus, o próprio Pôncio pilatos, presidente do Supremo, não via em Jesus nenhum crime, mas diante da forte pressão das massas agitadas pelos esquemas daqueles que temiam a sinceridade de Jesus, a saída é entregar a vítima à decisão da massa, vítima de uma microcefalia ética, que aprova o impeachment de Jesus, como uma sentença de morte com direito à exposição ao vitupério da cruz, morte reservada aos piores dos criminosos.

Os defensores desse golpe, porém, não contaram com a manifestação do poder de Deus na ressurreição de Jesus e muito menos com o Pentecostes, que representa o contraste com a TORRE DE BABEL. Em Babel, os homens procuram colocar Deus em seus planos; no Pentecostes, os homens entram no plano de Deus; em Babel, a confusão de línguas dispersa as pessoas; em Pentecostes, todos se unem, ao ouvirem as grandezas de Deus, em sua própria língua; em Babel, prevalece a arrogância dos homens; no Pentecostes, os homens são tomados pela humildade. Assim, a língua suprimida dos arrogantes de Babel, no Pentecostes, é devolvida aos pobres e humildes de coração.

Uma grande lição: os que pensaram que a morte de Jesus era fim, enganaram-se com a ressurreição. Os que hoje estão pensando que o eventual impeachment de Dilma é o fim do PT poderão ter grandes surpresas. Por essa razão, sugerimos aos petistas humildade, sabedoria, prudência, coragem e discernimento. Vejam onde falharam e façam a hora, sem esperar acontecer", reconhecendo que aquele que nasceu para Babel, nunca chega a Pentecostes e quem nasceu para fariseu, sempre fará aliança com Judas, de olho nas moedas, por falta de capacidade para lidar com a verdade que liberta.

Jucativa-107) 23/06/2016
Facebook Michel Zaidan


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