sexta-feira, 12 de agosto de 2016

As eleições municipais e a reorganização da luta pela democracia.

José Luiz Gomes

Até bem pouco tempo, quando falávamos aqui sobre a influência da conjuntura política nacional nas próximas eleições municipais de 2016 o fazíamos, tão somente, raciocinando em contextos políticos anteriores, quando isso ainda se dava pontualmente, bem distante da conjuntura atual de instabilidade política do país, que nos impõe uma outra leitura e, consequentemente, uma outra postura. O problema não se resume a um simples embate entre as forças que apoiaram o golpe institucional ou aquelas forças que foram temporariamente apeadas do poder. O golpe institucional já foi materializado, trazendo, no seu bojo, uma série de consequências sociais e políticas que já se tornam visíveis no cotidiano do cidadão comum, forçando as forças populares e democráticas a assumirem como capital o embate que deverá ser travado naquelas eleições.



A questão que se coloca, para o campo progressista, deixou de ser se a conjuntura nacional terá ou não alguma influência, mas a de "provocar" essa influência, reiniciando os embates políticos pelos municípios, criando a capilaridade política necessária para os desafios que se apresentarão pela frente, até mesmo no sentido de reinventar-se para esses enfrentamentos, uma vez que as forças conservadoras tomaram o poder quase que sem reação. É preciso acordar do sono político que produziu o monstro. Mesmo essas modalidade de golpes do século XXI tendo ocorrido em Honduras e no Paraguai, creio, até então, não nos levaram a alguma reflexão sobre as manobras golpistas em andamento, de baixo dos nossos olhos, aqui no Brasil.



Com disse antes - mas não custa lembrar novamente - nas câmaras municipais de diferentes rincões do país, "inocentemente", existe algum projeto de lei relativo ao movimento "Escola Sem Partido", que, além de investir contra o direito de cidadania, tolhe sensivelmente a atuação dos professores em sala de aula. Um retrocesso dos diabos, mas que ganha musculatura junto a este novo arranjo de forças de se locupletaram do poder. Num contexto de normalidade democrática, talvez pudéssemos tratar aqui de um saudável rodízio de poder, mas vocês sabem muito bem que estamos distantes disso. A expressão "se locupletaram do poder" diz bem o que está em jogo neste momento delicado do país. Essas forças comem por cima, comem por baixo, comem aqui dentro, comem lá fora. Como em 1964, são sempre o mesmo segmento social que não abdica dos seus privilégios em nenhuma hipótese. Nem para o bem do país. O Cristovam Buarque "daqueles tempos" diria que eles preferem construir muros, ao invés de pontes entre o andar de cima e o andar de baixo da pirâmide social.



Se, por um lado, essas eleições municipais podem assumir um caráter plebiscitário - onde já poderiam ser apontados os enormes prejuízos sociais que já estão engendrados por este governo - desmascarando as forças municipais a ele vinculadas -, por outro lado, o PT entra nessa batalha não naquela perspectiva de poder de décadas passadas, mas bastante fragilizado pelas contingências atuais, onde seus líderes estão sendo presos, usurpados do poder e massacrados por setores da "grande" mídia e do judiciário, conforme é o caso do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Como afirmei em outros momentos, perdemos a batalha de comunicação para a mídia golpista.



E, pelo andar da carruagem política, vamos ter que nos resolver nos tribunais internacionais, assim como fez o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, quando sentiu que os seus direitos mais essenciais estavam sendo violados pela sanha persecutória de um certo juiz lá do Paraná. É difícil antecipar aqui até onde vai esse pacote de maldades do governo do senhor Michel Temer, mas de uma coisa já temos certeza: eles estão muito mal-intencionados, a julgar, até mesmo, pela composição do ministério, com nomes escolhidos a dedo para implementar esse conjunto de reformas que atentam contra a garantia dos direitos sociais mais essenciais, constitucionalmente tidos como atribuição do aparelho de Estado.



Alguns eleições realizadas depois do golpe militar de 1964 assumiram um caráter plebiscitário, provocando reações importantes no estamento militar que governava o país, contribuindo, em certa medida, para o seu distensionamento. Não se sabe como seria o comportamento dos atores políticos diretamente envolvidos nessa engrenagem de golpe parlamentar em execução no Brasil, caso ocorresse, nas urnas, uma refrega das forças que os apoiam já nessas próximas eleições municipais. Convém sempre ficar atento ao fato de que uma das motivações golpistas esteve relacionada ao fato de essas forças terem sido derrotadas nas urnas.

Essa erva, pelo andar da carruagem política, pode ser até mais daninha do que os militares da linha-dura que, em décadas passadas, sempre com o apoio das elites oligárquicas rurais e urbanas, golpearam as nossas instituições democráticas. Em todo caso, certamente será muito importante para a luta pela democracia transformar essas eleições municipais de 2016 em eleições de cunho plebiscitário, demarcando bem as diferenças entre o campo democrático de esquerda e as forças que apoiam o arbítrio e o atentado às instituições da democracia.


Blog do Jolugue


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