sábado, 11 de abril de 2015
Zaidan: Demorou, mas saiu
Por Michael Zaidan
Quando fui convidado pelo ex-governador de Pernambuco, ainda durante as cerimônias fúnebres da morte de meu saudoso pai, para contribuir criticamente na formulação do programa de governo e na composição de seu secretariado, disse ao ex-mandatário estadual que não imitasse o seu antecessor raivoso, me processando por críticas e reparos à sua gestão. Hoje, vejo que a promessa feita, naquela ocasião, por Eduardo Campos não se cumpriu.
Acabo de saber, através do Blog de Jamildo, que apesar de respeitar a chamada “liberdade de expressão”, o advogado, irmão do ex-governador e pré-candidato à Prefeitura de Olinda, vai ajuizar uma interpelação judicial sobre o conteúdo do artigo publicado neste Blog: “não vamos desistir de vocês”.
Vamos ver se entendi.
A família Campos tem todo direito de usar o espaço público para dizer a alto e bom som que não vai desistir de governar Pernambuco, Olinda e Recife. Mas eu não posso mais fazer críticas a essa oligarquia familiar, sob o risco de responder a uma interpelação judicial sobre o que eu disser.
Se a regra tem reciprocidade por que quando o senhor “Juninho Matuto” atacou a minha honra pessoal, com injúrias e difamação, a serviço dessa mesma oligarquia o dono do jornal (Folha de Pernambuco), onde foi veiculada a matéria, não permitiu o direito legal de resposta?-
O senhor Campos, do alto de seu saber literário e jurídico acha que pode contar com os serviços de um apaniguado para ofender, humilhar, enxovalhar a honra dos críticos da gestão do seu falecido irmão, e ele – pretenso candidato à Prefeitura de Olinda – não pode ser alvo de nenhuma crítica?
Acha mesmo o ilustre filho do escritor Renato Carneiro Campos que vai entrar na vida pública, disputando um cargo majoritário, sem receber nenhuma criticazinha, pelo menos? –
Está redondamente enganado. A administração pública obedece a princípios constitucionais: impessoalidade, legalidade e transparência.
Como compatibilizar esses princípios com a atitude, pouco republicana, de utilizar o nome da família para disputar e ocupar cargos na administração municipal e estadual?
Desde quando utilizar a tipologia weberiana ou o conceito da sociologia americana de “familismo amoral” é uma ofensa à honra de quem quer que seja, senão às pretensões de caudilhos, chefes políticos e oligarcas?
Para esses, a liberdade de imprensa é uma licença poética apenas utilizada por eles para detratar os adversários e a justiça, uma forma de intimidação dos críticos.
E olhe que a admoestação feita pelo advogado/literato estende-se ao Blog de Jamildo, dizendo abertamente que tenha cuidado com o que vem publicando (contra ele). É isso a liberdade de imprensa, em Pernambuco?
O direito de usar a mídia impressa e eletrônica para malbaratar a integridade moral dos críticos e uma forma de propagandear o interesse pela dominação familiar da política de nosso estado?
Quem disse que o irmão do ex-governador usou a sua proximidade com o governo do estado para obter recursos destinados aos convescotes literários de Olinda, não fui eu. Foi o correspondente da Folha de São Paulo (Daniel Carvalho, hoje em Brasília), em entrevista no Shopping Center Recife.
E ele disse mais: o governador retaliou a matéria por ele publicada na Folha, sobre essa privilegiada relação político/familiar. Só repeti uma informação que já vinha sendo repetida em vários lugares.
Também não afirmei que o citado advogado e pré-candidato usa o prestígio (e o poder) da família para arrecadar dinheiro junto a empresas que prestam serviço ao Estado. Só disse que não se deve fazer isso, porque é crime contra a administração pública.
Está aí o escândalo da Petrobrás, onde o irmão de Campos aparece mencionado nos depoimentos como beneficiário da bagatela de 20.000.000,00, nas obras de construção da Refinaria Abreu e Lima.
Nunca afirmei que o doutor Campos tenha sido beneficiado por essa dinheirama. Certamente, com o seu prestígio literário, jurídico e familiar, ele não deve ter dificuldades para arranjar financiadores para seus projetos editoriais e congressuais.
Também não fui eu que disse que o senhor Antonio de Campos, neto de Miguel Arraes e irmão de Eduardo Campos, já foi arrecadador de campanha eleitoral.
A informação foi prestada por um conhecido político do PSDB de Pernambuco, na época que o jornalista Eurico Andrade, da VEJA, estava colhendo informações para a matéria publicada na revista: “Uma biografia arranhada”, sobre Miguel Arraes e o escândalo dos precatórios. Se ele continuou ou não nessa importante tarefa político-literária, não posso dizer e nem disse.
Agora o que não se pode negar é a presença contínua, permanente, constante da nobre figura do advogado, da viúva e da própria família do ex-governador nos eventos políticos do estado. Nos funerais de Eduardo Campos, nos out-doors da cidade, no programação nacional do PSB, nas tratativas do lançamento de Marina Silva à Presidência da República etc.
Isso não é propriamente atitude de luto, tristeza pela morte de um ente querido. É EXPLORAÇÃO POLÍTICA DE UMA TRAGÉDIA PESSOAL PARA FINS ELEITOREIROS, que aliás rendeu muito dividendos e que o advogado espera que continue rendendo (para ele e sua família).
É crime afirmar que “o rei está nu”?
Michel Zaidan Filho é filósofo, historiador, cientista político, professor da Universidade Federal de Pernambuco e coordenador do Núcleo de Estudos Eleitorais, Partidários e da Democracia - NEEPD-UFPE
Blog do Jolugue
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