Dilema Dilma

Marcílio Godoi

 Apesar do recurso constitucional das medidas provisórias, o Executivo Brasileiro, qualquer governo, a não ser que tenhamos profunda reforma política, tem de governar no perverso toma-lá-dá-cá do Presidencialismo de Coalisão.

O sistema dá pra resumir assim: você me dá cargos, vantagens, grana para obras em meu currais eleitorais e, em troca, eu voto apoiando a pauta que lhe interessa. É a festa dos nanicos sem nenhum caráter.


Ora, o que é isso senão o verdadeiro mensalão institucionalizado? O apoio comprado sem nenhuma ideologia ou sequer a mínima valorização do interesse nacional estratégico?

Quando Dilma foi tornada refém numa cela e torturada pelos militares, sofreu a humilhação de seus algozes, declaradamente contrários à sua visão de mundo.

Pois bem, hoje Dilma é sangrada com o requinte da covardia daqueles apoiadores que simplesmente trocaram de lado. A Ditadura, nesse sentido, possuía um lado claro, evidente, declarado, a defesa da diretriz ideológica da repressão às liberdades, paradoxalmente inspirada pelos americanos, a nação "mais livre" do mundo.

Hoje, em tese detentora da maioria no Congresso Nacional, Dilma é, no entanto, refém desses homens menores. Os inimigos torturadores de Dilma, hoje, são seus comensais desfilando desfaçatez no salão do Palácio da Alvorada.

O Capitalismo é o diabo. Inventa para si uma faces e negocia geralmente com os miseráveis de espírito. Sabemos como as presidências do Senado e da Câmara chegaram ao PMDB: em um cenário de chantagem pactuada com a direita e que se perpetua no chamado "sangramento" da Presidente eleita pelo povo.

O que justifica o achincalhe ostensivo desses dois indivíduos, Renan Calheiros e Eduardo Cunha senão estarem a serviço do quarto poder, a mídia, que os poupa no controle que tem dos julgamentos seletivos do Judiciário?

Renan e Cunha estão mais sujos do que pau de galinheiro, sabem que só há uma forma de as investigações não chegarem até eles: usarem o método PSDB de escapar dos tribunais: o conluio Globo-Veja-STF.

E eis que simplesmente continuam a meter a faca nas costas de Dilma e, como o escorpião da fábula, só fazem repetir àquela que os levou até ali: "desculpe, presidenta, é a nossa natureza".

Facebook Valeria Rezende