Luiz Eduardo Nascimento
Muito se falou nos últimos dias na composição do ministério do segundo mandato de Dilma, composto em parte por políticos conservadores, de centro e centro-direita, detestados pela esquerda. A escolha deles está sendo tratada por alguns como uma traição do governo Dilma. Só não explicam quando foi que Dilma prometeu equipe de Governo mais à esquerda.
A especulação de nomes desde os primeiros dias após as eleições causou polêmicas que vem sendo arrastadas até a confirmação das nomeações. Alguns jornalistas tentaram impor veto a nomes.
Após a confirmação, uma parte da militância e alguns blogueiros cogitam até a perda de representatividade do PT nessa militância de esquerda, como se fossem porta-vozes dessa massa de pessoas, que embora tenham objetivos em comum, tem posições e entendimentos diversos e muitas vezes contraditórios, tão complexa que sequer pode ser definida sem divagações
Embora essas manifestações de “esquerdismo adolescente” sejam comuns a cada novo governo do PT, desde 2003 uma parte da esquerda tenta impor um ministério de pessoas ligadas a luta da esquerda, se torna cada vez mais incompreensível quando vindas de pessoas com mais experiência no cenário político.
Eu também gostaria de um ministério de notáveis de esquerda, mas eu sei que para isso seria necessário que o povo brasileiro escolhesse nas eleições proporcionais majoritariamente políticos de esquerda. Se a parcela de políticos de esquerda no congresso varia de 20 a 25%, seria muita inocência eu achar que o meu ministério dos sonhos poderia existir.
Ao terminar a apuração do primeiro turno das eleições que definiu para a próxima legislatura a composição do congresso mais conservadora desde a ditadura, eu percebi que não só a composição do governo seria menos de esquerda que nos governos anteriores do PT, mas que seria uma batalha permanente que o governo irá trava nesses quatro anos para conseguir governar. PT e PCdoB perderam cadeiras no congresso na próxima legislatura, o PSB passou para a oposição, estava na cara que o ministério seria mais conservador seguindo a linha do congresso.
É a composição do congresso, estúpido. Em um sistema de três poderes como o nosso, em que a constituição de 1988 deu ao legislativo o poder de paralisar e impedir o executivo de governar, nenhum governo pode prescindir de maioria legislativa.
Até os vetos do Presidente da República podem ser derrubados pelo congresso. Não se pode governar sem aprovação de projetos de lei, orçamento. Quem comete a loucura de não garantir maioria no legislativo simplesmente não governa. E se tentar governar na base do confronto, na primeira oportunidade é derrubado.
Irônico que muitos dos que estavam em histeria apontando fantasmas de golpes paraguaios onde não haveria a menor possibilidade de ocorrer, agora ignorem a única possibilidade real de impeachment do governo Dilma acontecer, que só pode vir com o governo sem maioria no congresso e com um presidente da câmara hostil.
Você não lê nas manifestações críticas à escolha do ministério uma solução para resolver o problema que seria para os partidos que apoiaram a reeleição – e pretendem dar sustentação ao seu governo – entenderem que eles não vão estar representados porque parte da esquerda quer ganhar eleições com companhias que desaprovam mas, não querem governar com elas.
Governabilidade é nova Geni da política, só não explicam para que diabos se ganha uma eleição se não se consegue governar. Repetem que as esquerdas deram vitória a Dilma. Fálácia. O voto que deu a vitória a Dilma e Lula quatro vezes é uma composição de votos de esquerda, centro e centro-direita e a prova disso é a composição do congresso.
Para mudar a composição do ministério é preciso eleger um congresso mais progressista, fora isso é espuma para ficar bem na foto. Chamar quem não concorda com os argumentos deles de governistas não funciona mais para esconder a falta de argumentação.
Se Lula tivesse dado ouvido a eles já em 2003, o PT sequer teria chegado ao final do primeiro mandato, milhões de brasileiros deixariam de sair da faixa da miséria, outros tantos milhões deixariam de ascender a classe média, outros tantos milhões de empregos deixariam de ser gerados e o país não teria avançado no quesito justiça social e foco em quem mais precisa.
Texto postado originalmente em:
http://pontoecontraponto.com.br/2014/12/25/e-a-composicao-do-congresso-estupido/
Controvérsia
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