Pato na Lagoa |
Ruben Nóbrega
Vamos ser justos. Mesmo depois de trazer o PT e os irmãos Cartaxo para o seu lado na campanha do ano passado, Ricardo Coutinho jamais afirmou categoricamente que fechara uma aliança condicionada ao apoio dele à reeleição do atual prefeito de João Pessoa. Razoável presumir, contudo, que Luciano Cartaxo não apenas espere como até batalhe por alguma reciprocidade do governador reeleito para quando 2016 chegar. Daí haver, entre cartaxistas juramentados, quem aposte na manutenção da parceria entre os dois para a sucessão municipal.
Com todo respeito, os que acreditam nessa possibilidade me fazem lembrar uma velha anedota norte-americana segundo a qual o inglês é um sujeito capaz de levar um pato para brigar numa rinha de galo e o polonês, estando presente, é capaz de apostar no pato. Essa é uma das mil e uma piadas sem graça com que alguns gaiatos dos Estados Unidos costumam zoar seus colonizadores, tal como muitos brasileiros fazem com os portugueses. Por injustiça, despeito ou por acreditarem de verdade que os nossos ‘descobridores’ formam realmente uma raça de néscios.
Deixando a gozação de lado, de minha parte vejo que a aliança Ricardo-Cartaxo começou a grasnar faz tempo. Começou quando o PSB esnobou o espaço oferecido pelo prefeito na administração da Capital. Ficou mais evidente ainda quando Ricardo ‘escondeu’ Lucélio Cartaxo na direção do Porto de Cabedelo, cargo que hoje só daria alguma notoriedade ao seu ocupante se ele esculhambar a Presidente da República, como fez o Doutor Wilbur Jácome, antecessor do irmão do prefeito na superintendência da Companhia Docas. Improvável, em se tratando de um petista feito Lucélio.
Como se fosse pouco, crescem as apostas de que o governador já teria alguém para enfrentar Luciano na guerra do ano que vem. Assim, se quiser ser reeleito, enfrentando competitivamente o candidato ou a candidata de Ricardo, muito mais do que acionar todos os meios de que dispuser para captar votos, Luciano Cartaxo vai ter que se aplicar intensa e incansavelmente para firmar perante o eleitorado da Capital a imagem de “prefeito trabalhador”. Até por que o pouco dessa imagem que tenha conseguido emplacar começou a ser desconstruído por aquele que desde agora aparece como o mais provável ungido da Granja Santana para recolocar a Prefeitura de João Pessoa sob o jugo girassolaico.
Refiro-me ao engenheiro João Azevedo, secretário de Infra e de monte de coisa no Estado, pessoa da mais absoluta confiança do governador. Apesar de negar peremptória e veementemente qualquer preparação de seu nome para a refrega eleitoral daqui a um ano e nove meses, entrevistado na última sexta-feira (16) na Rádio Sanhauá o Doutor João deixou no ar a impressão de estar com um discurso oposicionista bem afiado e ensaiado ao dizer que João Pessoa está precisando mesmo é de “um grande síndico” para administrá-la do jeito que o povo quer.
Se não teve a intenção de lembrar uma suposta qualidade que o atual prefeito não teria, mesmo assim João Azevedo cunhou uma frase que pode lhe valer um bom slogan de campanha. E não me admira se no núcleo criador ricardista alguém já estiver pensando na propaganda eleitoral de 2016, que mostraria na tevê ‘desgraceiras’ de uma João Pessoa sob Luciano Cartaxo ao som da música ‘W/Brasil’, de Jorge Ben. É aquela em que o intérprete e suas vocalistas avisam (ou ameaçam): “Eu vou chamar o síndico! Eu vou chamar o síndico!”.
Alguns observadores da cena política paraibana estão convencidos, todavia, que Ricardo Coutinho prefere não arriscar com novidades e deve optar de novo por Estelizabel Bezerra, deputada estadual recém eleita já testada com relativo sucesso nas urnas de 2012, quando disputou a Prefeitura da Capital e por muito pouco, mas muito pouco mesmo, não passou para o segundo turno tendo como adversário o hoje prefeito Luciano Cartaxo.
Pelo pouco que escapa das manhas e estratégias do governador, sinto que o governador reserva Estelizabel para 2018. Para o embate mais próximo, lançaria um produto novo na praça e, dentro do perfil que teria adotado para o escolhido, João Azevedo seria a melhor pedida. Afinal, trata-se de um quadro técnico profundamente identificado com o ideário político de Ricardo Coutinho, de uma fidelidade a toda prova e com uma insuperável folha de serviços prestados ao chefe e líder, desde quando o homem era prefeito da Capital.
No município, Doutor João revelou-se valoroso e diligente colaborador das suas colegas, as engenheiras Emília Correia Lima e Socorro Gadelha, na Secretaria de Habitação. Graças a esse auxílio luxuoso, Ricardo prefeito realizou um programa habitacional de razoável escala que tem como carro-chefe e vitrine o Conjunto Gervásio Maia, na Zona Sul da cidade. No Estado, como secretário de Recursos Hídricos, João fez avançar obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) em sua área. Obras que os antecessores do atual governador, Cássio Cunha Lima e José Maranhão, conseguiram planejar, projetar, licitar e iniciar com recursos federais, deixando algumas delas com mais de 90% executados.
Por todos esses méritos e títulos, João Azevedo é um bom nome, um quadro qualificado para disputar a Prefeitura de João Pessoa na próxima eleição. Ainda mais porque parece talhado e disposto a seguir o mesmo roteiro que deu a Ricardo Coutinho fama de gestor operoso. Nesse percurso, lembro bem o seguinte: esperto que só ele, Ricardo tirou enorme proveito de várias boas ideias que lhe apresentaram à época auxiliares próximos e colaboradores informais que viam nele o prefeito ideal para fazer de João Pessoa um lugar melhor para muita gente viver e prosperar.
Dois outros fatores lhe favoreceriam ainda mais e extraordinariamente a trajetória. Primeiro, as obras arquitetadas por Luciano Agra, seu então secretário de Planejamento. Algumas de impacto mais visual do que social e outras do gênero cartão postal, feito a Estação Ciência, as obras deram cartaz de realizador mais ao prefeito da época do que ao verdadeiro mentor. Coroando tudo isso, um bom marketing pessoal burilado pela inteligência de um Nonato Bandeira, secretário de Comunicação Social da Prefeitura no primeiro mandato de Ricardo Coutinho que emplacou aquela história de ‘Deixa o Mago trabalhar’. Uma frase ‘chupada’ da campanha de Lula em 2006 que deu muito certo por aqui, para caracterizar que Ricardo não fazia outra coisa na vida além de trabalhar pela cidade e, ainda assim, enfrentava a resistência de opositores ‘mesquinhos e provincianos’.
Jornal da Paraíba
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