terça-feira, 8 de abril de 2014

O triunfo do fracasso


Michel Zaidan Filho:

A cada período eleitoral no Brasil, tenho que responder ao meu filho uma pergunta aparentemente embaraçosa: porque votar sempre nos candidatos que perdem, não nos que sempre ganham?

Não é esta uma questão fácil de responder para aqueles que acham a vitória ou sucesso, a qualquer custo, o critério da verdade histórica ou eleitoral. Há muita vitória de "pirro", feita de enganação, fraude, ludíbrio, manipulação do voto dos eleitores.



O nosso sistema político-eleitoral deixa muitas brechas para o abuso do poder econômico, da propaganda enganosa e do efeito de demonstração das pesquisas eleitorais sobre a corrida dos candidatos. Num pleito desigual como o nosso, os pequenos partidos e os candidatos com poucos recursos (e tempo de propaganda na TV) são invariavelmente prejudicados. E isso não tem nada a vem com a qualidade, a honestidade o espírito cívico dos candidatos.

Perder uma eleição não é o fim do mundo. Existem derrotas que deixam muitas vitórias. E vitórias que se transformam rapidamente em derrotas. Um candidato que politiza o debate político, na campanha eleitoral, forçando - pelo efeito da comparação - os demais explicitarem os pontos obscuros, vagos, imprecisos de seus programas, contribui mais para o avanço democrático da sociedade, do que os que ganham, apostando na ambiguidade de suas propostas. De nada adianta ser vitorioso a custa de sofismas e falácias, se depois de eleito tiver que corromper partidos e aliados para governar. Melhor seria perder defendendo publicamente, sem rebuços, teses e princípios republicanos, democráticos, de interesse público. Há muito o que aprender com essas derrotas. Elas nos ensinam a dignidade da política, que nem todos políticos são iguais. E que o discurso político não precisa ser um sofisma.

Estamos na ante-véspera de mais uma campanha presidencial. Quem era do partido A vai se apresentar como partido B. Quem era da situação, vai dizer que sempre foi da oposição. Quem defendia um certo legado político, vai aparecer travestido com um outro legado, se dizendo mais moderno, mais atualizado, "up to date". Mas o eleitor não deve fazer da eleição uma corrida de cavalos. Votar necessariamente em quem está na frente ou pode ganhar a corrida. É preciso discernimento para escolher com paixão e veemência aqueles que mais se aproximam de nossas ideias e convicções. Mesmo que não vençam a eleição. O seu legado de honestidade e desprendimento há de prevalecer sobre os rastos dos discurso vão.



Michel Zaidan Filho é filósofo, historiador e professor da Universidade Federal de Pernambuco

Blog do Luiz


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