Carlos Heitor Cony
RIO DE JANEIRO - Li com atenção a crônica de Ruy Castro, "Nós em 2214", em que coloca o juízo que a posteridade fará do nosso tempo. Segundo Ruy, a humanidade daqui a 200 anos, não entenderá a idolatria que temos pelo automóvel, o maior vilão de nossa atualidade.
O autor de "O Anjo Pornográfico" explica com humor as razões da vilania dos carros. Concordo com ele, mas não confio na opinião das gerações futuras. Pilatos se justificou: "todos os dias aparecia um cara que se dizia filho de Deus. Os judeus pediam que eu crucificasse os charlatões".
É isso aí. No caso de Pilatos não precisou de 200 anos para que a posteridade tivesse uma opinião diversa dos contemporâneos de Jesus Cristo. Assim sendo, nada de admirar que a humanidade futura tenha de nossa época uma opinião bem diferente do Ruy Castro.
Não me admiraria se, reencarnado daqui a 200 anos, eu nem saberia o que era um automóvel. Desconfio que o homem de 2214 faria um péssimo juízo do nosso tempo. Ninguém saberia quem fora Freud, Marx e Lula. Todos considerariam que os mais importantes teriam sido o Zé Dirceu, o Gilberto Gil e o Woody Allen.
Evidente que ninguém, nem os mais informados, pensariam em mim como o fato e a pessoa de maior relevo no ano da graça de 2014. Em termos de "fato", nem o meu nascimento em Lins de Vasconcelos, num remoto ano do século 20, seria lembrado com a transcendência dos atuais automóveis que despertaram a cólera de Ruy Castro.
Pilatos não se lembrava de ter lavado as mãos depois que mandou crucificar o filho de Deus. Tampouco imaginaria que seu nome seria lembrado pelos séculos afora por ter entrado no Credo das missas rezadas em todo o mundo. Lembro o seu nome por causa de uma pergunta que ele fez a quem dizia que o reino dele era o reino da Verdade. Pilatos perguntou-lhe: "O que é a Verdade".
Folha SP
RIO DE JANEIRO - Li com atenção a crônica de Ruy Castro, "Nós em 2214", em que coloca o juízo que a posteridade fará do nosso tempo. Segundo Ruy, a humanidade daqui a 200 anos, não entenderá a idolatria que temos pelo automóvel, o maior vilão de nossa atualidade.
O autor de "O Anjo Pornográfico" explica com humor as razões da vilania dos carros. Concordo com ele, mas não confio na opinião das gerações futuras. Pilatos se justificou: "todos os dias aparecia um cara que se dizia filho de Deus. Os judeus pediam que eu crucificasse os charlatões".
É isso aí. No caso de Pilatos não precisou de 200 anos para que a posteridade tivesse uma opinião diversa dos contemporâneos de Jesus Cristo. Assim sendo, nada de admirar que a humanidade futura tenha de nossa época uma opinião bem diferente do Ruy Castro.
Não me admiraria se, reencarnado daqui a 200 anos, eu nem saberia o que era um automóvel. Desconfio que o homem de 2214 faria um péssimo juízo do nosso tempo. Ninguém saberia quem fora Freud, Marx e Lula. Todos considerariam que os mais importantes teriam sido o Zé Dirceu, o Gilberto Gil e o Woody Allen.
Evidente que ninguém, nem os mais informados, pensariam em mim como o fato e a pessoa de maior relevo no ano da graça de 2014. Em termos de "fato", nem o meu nascimento em Lins de Vasconcelos, num remoto ano do século 20, seria lembrado com a transcendência dos atuais automóveis que despertaram a cólera de Ruy Castro.
Pilatos não se lembrava de ter lavado as mãos depois que mandou crucificar o filho de Deus. Tampouco imaginaria que seu nome seria lembrado pelos séculos afora por ter entrado no Credo das missas rezadas em todo o mundo. Lembro o seu nome por causa de uma pergunta que ele fez a quem dizia que o reino dele era o reino da Verdade. Pilatos perguntou-lhe: "O que é a Verdade".
Folha SP
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