sexta-feira, 7 de dezembro de 2018

Como cuidar da saúde mental em tempos de notícias difíceis?


Não é fácil digerir o noticiário atual sobre política e direitos humanos. Mas pode ser particularmente difícil para quem se sente alvo direto dessa violência.

Além de estarem presentes nas manchetes, as matérias se tornam temas de conversas nas redes sociais, no almoço ou no jantar em família. No fim das contas, o resultado pode ser positivo, já que estamos falando bem mais de política – mas essas conversas podem ter consequências direta em nossa saúde mental, dizem os especialistas.


“Se você é alvo de alguma violência, o trauma pode paralisá-lo e mudar a maneira como você vive sua vida“, diz Gina Scaramella, diretora executiva do Centro de Crise de Estupros da Área de Boston. “Não é algo trivial; exige muita energia e tempo para lidar [com o trauma]. Pode causar vergonha, medo, tristeza e raiva.”



Por isso, é importante estarmos atentos ao que está sendo noticiado, mas mais do que é isso, é importante cuidarmos de nós mesmos.



O HuffPost conversou com especialistas para entender qual a melhor maneira de lidar com esse ciclo de notícias que geram ansiedade. Veja abaixo algumas maneiras de manter-se engajado na luta, sem deixar de tomar cuidado da sua saúde mental.



1. Dê um tempo no noticiário

Tirar folgas de um dia das redes sociais de vez em quando pode te ajudar a se concentrar no seu próprio bem estar. Faça uma forcinha para não pegar o celular assim que você acorda de manhã, por exemplo.



“Nunca passamos por nada parecido na história da humanidade, uma época em que não temos descanso de histórias angustiantes e de eventos globais aterrorizantes“, afirmou Kathryn Stamoulis, conselheira de saúde mental ao HuffPost, por email. “Temos de nos proteger, e a única maneira de fazer isso é nos desconectar de tempos em tempos.”



2. Compartilhe apenas aquilo que te deixa à vontade

Evitar compartilhar sua história publicamente não a torna menos real ou importante.



“Emprestar sua voz à causa não significa que você tem de contar suas experiências pessoais“, disse Stamoulis. “Se a exposição nas redes sociais (e portanto para colegas, parentes, amigos) não parece a melhor coisa a fazer, não se exponha.”



3. Dê apoio às vivências dos outros

“Você pode atuar dando apoio a outras pessoas que se manifestam, curtindo seus posts, retuitando, enviando mensagens privadas“, disse Stamoulis.



Scaramella afirma que isso pode ser particularmente útil para quem faz trabalho voluntário para organizações que lidam com direitos humanos.



“O estresse das equipes e dos voluntários dessas organizações é intenso. Saber que seu trabalho é apreciado, seja com um email, um post nas redes sociais ou uma carta, é muito mais importante do que você imagina“, afirmou ela.



4. Saiba que essa conversa vai continuar por algum tempo

Sempre haverá oportunidades de se manifestar, então não sinta-se pressionado a fazer nada se não estiver preparado. Tenha calma, a causa ainda estará aí quando você estiver pronto para se engajar de forma mais intensa.



5. Considere trabalhar por outras causas

“Temas como a violência contra a mulher vem recebendo muita atenção, então você pode encontrar outra causa que precise de apoio (animais abandonados, o meio ambiente, cuidar de idosos desamparados), isso será muito bem vindo“, disse Stamoulis.



As pesquisas indicam que o trabalho voluntário ajuda a melhorar o humor, o que significa que ele também pode ser uma forma de cuidado consigo mesmo.



6. Lembre-se de que não existem sentimentos “errados”

Tristeza, raiva, felicidade e alívio são reações perfeitamente normais quando temos que lidar com tantas notícias.



“Não importa o que você esteja sentindo, está tudo bem“, disse Stamoulis. “Não há vergonha. Não significa fraqueza.”



7. Saia para caminhar ou faça exercício

Mexer-se um pouco faz muita diferença. Pesquisas indicam que atividades físicas leves, como caminhadas, podem melhorar o humor e aliviar sintomas de problemas de saúde mental.



Vá para a rua tomar um ar fresco, ajuda!



8. Aprenda a reconhecer os sintomas do estresse pós-traumático

Notícias sobre ataques aos direitos humanos podem provocar reações psicológicas intensas se você estiver sofrendo de transtorno do estresse pós-traumático (TEPT), afirma Stamoulis. Isso pode significar sintomas muito dolorosos.



“Pode haver medo extremo, ansiedade, pesadelos, suadeira e palpitações cardíacas“, afirmou ela. “Às vezes uma história pode não causar nenhuma reação, mas outra, sim, por motivos insuspeitos.”



9. Converse com alguém de confiança

Caso perceba algum desses sintomas, peça a ajuda de amigos, parentes ou colegas em que você pode confiar.



“Seu caso pode ter acontecido há cinco minutos ou há 50 anos, mas você merece apoio da mesma maneira“, diz Scaramella.



10. Não tente afastar suas emoções

Pode parecer mais fácil evitar os sentimentos relacionados ao assunto, mas é importante lidar com eles.



“Pode ser útil aceitar que essa é uma parte negativa do seu passado, em vez de tentar afastar esses sentimentos e lembranças ou então sentir-se mal por ainda não tê-los superado“, disse Stamoulis.



11. Procure ajuda especializada

Se você sente ansiedade, estresse ou sintomas de depressão como choro fácil e retração social, procure um médico. Ele pode te ajudar a lidar com emoções complexas e te ajudar a se sentir melhor.



No fim das contas, é essencial cuidar do seu bem-estar para ter sucesso na batalha.



“Sei que pode parecer óbvio, mas cuidar de si mesmo é lutar. Lutar por si mesmo, e a luta começa por aí”, disse Scaramella.


Unisinos


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