Via The Economist, traduzido por Alexandre Pimenta
A tecnologia pode ajudar a ressurgir a organização dos trabalhadores: sindicatos estão se aproveitando da mesma força que causou seu declínio.
“Se continuarem, nós vamos bater neles onde eles sentem.” Jörg Sprave é um alemão jovial com um sorriso encantador, mas ele não deixa dúvidas de que é um sujeito sério. Se o Google, o proprietário do YouTube, não se movimentar, ele convocará uma greve. O Sr. Sprave dirige o “The Slingshot Channel”, dedicado a vários tipos de estinlingues, que possui mais de 2 milhões de inscritos. Ele também é o fundador do Sindicato dos YouTubers, que conta com mais de 16.000 membros. Ele lançou a organização em março, depois que o YouTube parou de exibir anúncios ao lado de muitos vídeos seus e de outros, devido à pressão dos anunciantes. Isso fez com que sua renda caísse de 6.500 para 1.500 dólares por mês. A principal demanda do grupo é impedir essa “desmonetização”.
É fácil demitir o Sr. Sprave. Seu canal está numa linha tênue entre a travessura e a maluquice. Ser membro de seu sindicato é simplesmente uma questão de se inscrever em um grupo no Facebook e é improvável que outros membros sigam seu chamado de greve para retirar seus conteúdos do YouTube caso ele não consiga seus objetivos. Mas o Sindicato dos YouTubers simboliza uma nova etapa na interação entre o progresso tecnológico e o poder sindical. Os sindicatos estão em declínio a longo prazo em todo o mundo desenvolvido[i] há décadas – principalmente devido à mudança tecnológica. Agora, a tecnologia, da mídia social à inteligência artificial (IA), pode ajudar a organização sindical ressurgir.
A quebra sindical
Um renascimento do sindicalismo parece improvável. Antes de meados do século XIX, quase nenhum trabalhador era sindicalizado. Depois, a industrialização e a urbanização aproximaram os trabalhadores, proporcionando uma oportunidade de organização e uma razão: negociar salários e condições. A taxa de filiação sindical americana atingiu 10% dos empregados em 1915, chegando a 30% em torno de 1950. A Suécia chegou a cerca de 40% em 1930, assim como a Grã-Bretanha na década de 1950, quando 10 milhões de trabalhadores pertenciam a um sindicato. O rápido declínio que se instalou pegou quase todos de surpresa. Em todos os países desenvolvidos, a sindicalização caiu drasticamente. Apenas um em cada dez funcionários americanos está em um sindicato hoje. A mediana da taxa de filiação na OCDE é de cerca de 18%, abaixo do pico de mais de 50% no início dos anos 80[ii].Há muitas explicações para a ascensão e queda dos sindicatos. Algumas teorias enfatizam o papel das leis restritivas. Os primeiros julgamentos sobre sindicatos na América seguiram a legislação inglesa ao considerá-los conspirações criminosas, cuja intenção era aumentar os preços e inibir o mercado. O ambiente institucional para os sindicatos gradualmente tornou-se mais amistoso até que, no final do século 20, a legislação se transformou novamente. Nos anos 80, seguindo o exemplo de Margaret Thatcher na Grã-Bretanha e Ronald Reagan nos Estados Unidos, os governos procuraram combater greves, resistências diversas de trabalhadores e reposições salariais com leis que restringiam enormemente os poderes sindicais.
Mas pesquisas que mostram uma forte ligação entre mudanças legais e adesão sindical são escassas. Um artigo de William Brown, da Universidade de Cambridge, e seus colegas, que analisaram o período entre 1979 e 1997, apoiou a noção de que “a mudança legislativa britânica não exerceu uma grande influência sobre a filiação sindical”. Na verdade, os sindicatos só começaram a florescer décadas depois de terem sido descriminalizados. E seu poder começou a diminuir muito antes das leis mais estritas dos anos 80.
Um florescimento e desvanecimento da “consciência de classe” é outra explicação oferecida pelos historiadores para as altos e as baixos do sindicalismo, embora isso seja difícil de medir. Uma teoria mais convincente, para a qual existe certo apoio empírico, é que o Estado evitou a necessidade de sindicatos fazendo o trabalho deles. A maioria dos países desenvolvidos já garantiu salários mínimos. Em muitos lugares, os direitos dos trabalhadores foram consagrados na lei e estendidos para incluir coisas como licença parental e pagamento por doença. O que resta para os sindicatos barganharem?
No entanto, a ascensão e queda da filiação sindical seguiu um padrão semelhante em tantos países que uma explicação estrutural, com a mudança tecnológica em seu coração, é a mais atraente de todas[iii]. Essa interpretação também mostra porque a ressurreição da sindicalização será difícil.
A tecnologia impulsionou a ascensão do capitalismo industrial em meados do século XIX e mudou os padrões de emprego. Sob o sistema doméstico do capitalismo pré-industrial, os trabalhadores eram, com frequência, agentes individuais que trabalhavam em casa. Isso tornou a organização impraticável. Como um sistema mais formal de emprego em fábricas ou minas se tornou a norma, os trabalhadores eram agrupados, facilitando a organização. Também ficou mais óbvio para os trabalhadores que eram explorados e quem estava os explorando.
Fatores de produção
Mudanças nos padrões de investimento durante a Revolução Industrial deram mais poder ao trabalho organizado, ajudando os sindicatos a crescer. No século XIX, os patrões começaram a gastar enormes somas em fábricas, minas e ferrovias. À medida que a quantidade de capital fixo cresceu, os trabalhadores puderam exercer maior poder. Tim Mitchell argumenta, em seu livro “Carbon Democracy”, que os mineiros de carvão poderiam explorar os novos pontos de estrangulamento do emergente sistema econômica. Tirar carvão do chão exigia pequenos grupos de trabalhadores nas minas que não eram fáceis de substituir. Isso deu a eles um enorme poder de barganha porque tal era a dependência do carvão em toda a economia, de usinas elétricas a ferrovias, que uma greve poderia em breve paralisar o país.
Nos últimos 30 anos, a mudança tecnológica fez com que os sindicatos caíssem. O custo de coleta e processamento de informações caiu, facilitando a geração de trabalhos individualizados. Nos Estados Unidos, a parcela de empregos com algum elemento de remuneração relacionada ao desempenho subiu de 30% no final dos anos 70 para mais de 40% nos anos 90. Se a remuneração corresponde à produção pessoal, os trabalhadores talvez sintam que é melhorar direcionar suas energias para trabalhar duro do que para se organizarem com seus companheiros.
No mundo desenvolvido, indústrias intensivas de capital, como manufatura e mineração, as bases da sindicalização, encolheram. Eles foram substituídos pelo setor de serviços, que é intrinsecamente menos acolhedor para os sindicatos. As economias ricas agora dependem mais de “intangíveis”, como software e patentes. É mais fácil mover um call center para um local diferente, inclusive para um novo país, do que um estaleiro. É improvável que os trabalhadores que estão felizes pela simples existência de seus empregos negociem e lutem por mais.
O declínio dos sindicatos reavivou os argumentos sobre os benefícios que eles oferecem aos trabalhadores e à economia como um todo. O número de dias de trabalho perdidos em greves no mundo desenvolvido vem caindo ao lado do declínio do poder sindical. Isso aumenta a produção anual. Já não há muito risco de inflação descontrolada à medida que os sindicatos e os trabalhadores lutem por aumentos salariais. Os sindicatos mais fracos podem reduzir as barreiras de entrada em um mercado de trabalho, tornando mais fácil para os jovens, mulheres e minorias étnicas encontrar emprego.
Os economistas de esquerda contrapõem que o declínio dos sindicatos é responsável pela queda na “quota do trabalho” – a proporção do PIB destinada aos trabalhadores na forma de salários e benefícios. A evidência é mista. Uma pesquisa sobre a economia britânica feita por Andy Haldane, economista-chefe do Banco da Inglaterra, descobriu que um aumento de dez pontos percentuais na taxa de sindicalização aumenta o crescimento dos salários em cerca de 0,25 pontos percentuais ao ano. Mas um artigo para o Brookings Institution, um instituto de estudos que analisa dados americanos, encontra uma “relação estatisticamente imprecisa entre mudanças intersetoriais de taxas de sindicalização e declínios em salários”.
Mesmo que as vantagens para os trabalhadores não sejam claras[iv], o apoio à organização sindical está aumentando novamente. E a tecnologia pode voltar a desempenhar um papel central na recuperação – particularmente nos Estados Unidos, onde os ativistas estão tentando maneiras novas e inventivas de organizar os trabalhadores.
O uso da mídia social está tomando o lugar da reunião de fábrica, no que é chamado de “ação conectada”. O Facebook, o Reddit e o WhatsApp, assim como ferramentas como o Hustle, um serviço de mensagens de texto, permitem que grupos trabalhistas façam três coisas: coletar informações, organizar trabalhadores e divulgar campanhas em todo o mundo.
Comecemos com as informações. Embora trabalhem de forma independente, muitos motoristas de Uber estão ativos em grupos de chat e outros fóruns online. A empresa frequentemente testa novos recursos de seu aplicativo em um pequeno grupo de motoristas – sem dizer a eles o que está acontecendo. As comunicações online são uma tentativa de superar essa “desvantagem da informação”, diz Alex Rosenblat, autor de “Uberland”, um novo livro sobre a empresa.
A conexão também é difundida entre usuários de plataformas globais de crowdsourcing, como a Mechanical Turk e a Freelancer, onde a mão-de-obra digital é negociada. Dos 658 trabalhadores online na África Subsaariana e no Sudeste Asiático entrevistados por Mark Graham e seus colegas da Universidade de Oxford, 58% disseram que estão em contato digital com outros trabalhadores pelo menos uma vez por semana, principalmente nas redes sociais. Eles geralmente falam sobre como construir uma carreira online e evitar fraudes, mas também sobre preços dos serviços.
A lógica da ação conectada
Quanto ao segundo objetivo, organização, sem ferramentas digitais, as greves de professores na Virgínia Ocidental e em outros estados americanos no início deste ano não teriam sido tão bem-sucedidas como eram antes, explica Jane McAlevey, liderança de longa data e autora de vários livros sobre sindicatos na América. Lá, os professores criaram um grupo no Facebook que estava aberto apenas a colegas convidados. Quase 70% dos 35.000 professores do estado participaram. O grupo se tornou o centro das discussões sobre o que exigir e como organizar os protestos.
A greve da Virgínia Ocidental é um bom exemplo do terceiro objetivo: divulgar as notícias e as campanhas. O grupo do Facebook se transformou em uma fábrica de hashtags e “memes”, imagens ou videos que viralizam. O mesmo tipo de coisa aconteceu quando a Starbucks, uma cadeia de cafeterias, proibiu que os baristas mostrassem suas tatuagens. A administração cedeu depois que os funcionários tiraram fotos de sua arte corporal e as enviaram para a mídia social.
No entanto, serviços como o Facebook e WhatsApp não são projetados para o ativismo em massa. Isso significa que eles têm limitações. Eles não têm ferramentas para ir além da discussão, em direção a formas mais avançadas de organização. O WhatsApp, que é usado por muitos drivers do Uber, limita o tamanho dos grupos. Eles também são propensos a desinformação e trolls. “No Facebook, se você perguntar sobre seus direitos quando estiver grávida, apenas alguns comentários podem ser úteis”, diz Andrea Dehlendorf, da Organização Unidos pelo Respeito (OUR), que apóia os funcionários do varejo no Walmart e em outros lugares.
Como resultado, os ativistas começaram a desenvolver serviços digitais especificamente para grupos de trabalhadores[v]. Coworker.org é um dos primeiros exemplos. Fundado em 2013, o site ajuda os trabalhadores a condensar suas demandas em uma petição e divulgá-las nas redes sociais. Os funcionários da Starbucks lançaram várias campanhas de sucesso e não apenas sobre suas tatuagens. Eles forçaram a empresa a minimizar o “clopening”, por exemplo: quando a mesma pessoa fecha uma loja no final da noite e a abre na madrugada do dia seguinte.
O trabalho reorganizado
Coworker.org foi por muito tempo um exemplo isolado. Recentemente, serviços similares floresceram imitando a abordagem de startups e “desmembrando” os papéis dos sindicatos oficiais. Essas startups estão dividindo as várias funções dos sindicatos em uma série de distintos serviços digitais. Desta forma, uma nova geração de ativistas está mudando a maneira como os trabalhadores podem se organizar.
Algumas startups buscam cumprir o papel de informar os trabalhadores e recrutar membros. Dois anos atrás, o NOS lançou o WorkIT, um aplicativo de smartphone para funcionários do Walmart. Depois de se inscrever, os usuários recebem uma interface de bate-papo simples na qual podem fazer perguntas sobre os complexos regulamentos de local de trabalho da cadeia de varejo. Voluntários, geralmente os próprios funcionários da empresa, respondem.
Outros se concentram em ajudar os trabalhadores a expressar suas opiniões. Os líderes sindicais têm sido frequentemente criticados por não darem muita atenção às demandas da base. Workership é uma plataforma que tenta estruturar discussões online e permitir que os trabalhadores a usem sem medo de repercussões negativas (as postagens são anônimas). Acordos de negociação coletiva, por exemplo, são divididos em pequenos segmentos que os membros podem discutir.
Depois, vem a necessidade de encontrar maneiras de ganhar dinheiro para financiar essas atividades. O Sindicato dos Trabalhadores Independentes da Grã-Bretanha recorreu ao financiamento coletivo de suas ações judiciais contra a Deliveroo, uma empresa de entrega online, acusada de ter negado direitos trabalhistas aos seus empregados. O TurkerView, um site americano que coleta e mostra gratuitamente avaliações de clientes que postam trabalhos na Mechanical Turk, está brincando com a ideia de um serviço premium que cobra usuários que desejam acesso rápido e automatizado a seus dados.
Alguns desses projetos estão se espalhando. O WorkIT, que licencia seu sistema para outras organizações trabalhistas, tem seis participantes, incluindo o Pilipino Workers Center, em Los Angeles, e o United Voice, um sindicato australiano. O Coworker.org tem sido usado por funcionários de mais de 50 empresas. Para a Starbucks, tornou-se uma espécie de sindicato. Mais de 42.000 pessoas em 30 países estão conectadas através do serviço.
No entanto, como qualquer startup confirmará, lançar um novo serviço é muito mais fácil do que expandi-lo. A maioria dos novos projetos de tecnologias trabalhistas conta com doações de filiados, fundos de investimento entidades sociais e fontes similares. Não está claro de onde o dinheiro virá para permitir que eles cresçam. Além disso, esses serviços não têm a legitimidade legal e o poder político dos sindicatos convencionais, ressalta David Rolf, do Sindicato Internacional dos Funcionários de Serviços da América.
As startups de trabalho podem precisar do apoio dos sindicatos existentes para se transformar em uma força a ser considerada. O melhor resultado seria se os grupos de base e os sindicatos convencionais se unissem, diz Ayad Al-Ani, do Instituto Alexander von Humboldt para Internet e Sociedade. Os sindicatos podem se tornar prestadores de serviços para grupos auto-organizados, ajudando-os com coisas como assessoria jurídica e lobby.
O mundo digital foi abraçado por alguns sindicatos. Preocupado com a ascensão do crowdworking, o IG Metall, da Alemanha, o maior sindicato do país, agora permite a participação de trabalhadores autônomos. Em 2015, também lançou um site para comparar as condições em diferentes plataformas de crowdworking, chamado Fair Crowd Work.
Alguns sindicatos criaram centros de inovação. Um deles é o HK Lab, criado há um ano pelo Sindicato Nacional dos Funcionários Comerciais e Clericais, o maior sindicato da Dinamarca. As experiências incluem um chatbot para consultas de membros e um centro de serviços para freelancers. A National National Workers Alliance da América opera o Fair Care Labs, um serviço para beneficiar babás, cuidadores e faxineiros. Em breve, lançará o Alia, um serviço de benefícios portáteis. Os clientes fazem pagamentos voluntários de 5 dólares por serviço, o que permite que os associados obtenham alguma cobertura de seguro e paguem suas próprias folgas.
O trabalho desnorteado
Por mais promissores que sejam esses projetos, é improvável que ajudem os trabalhadores a recuperar seu antigo poder de barganha em breve. Mas se o movimento trabalhista digital provou algo até agora, é que as informações e os dados são cada vez mais poderosos. A Coworker.org usou as pesquisas online para confirmar que a Uber novamente cortou tarifas em todo o país, reduzindo também o pagamento dos motoristas. Má publicidade é o equivalente digital da linha de piquete, diz Michelle Miller, co-fundadora da Coworker.org.
A obtenção de mais e melhores dados poderia dar origem ao que Fredrik Soderqvist, do Unionen, um sindicato sueco, se refere como “sindicalismo preditivo”[vi]. Sua organização está construindo um sistema que pode coletar informações sobre seus membros, bem como dados de outras fontes. A ideia é oferecer serviços como dizer aos trabalhadores quando eles devem pedir um aumento. Algoritmos também poderiam prever a probabilidade de demissões, se um novo executivo-chefe assumir o cargo, e, portanto, a necessidade de preparar os membros para agir.
Talvez o melhor exemplo para o poder dos dados até agora seja o Mystro, um aplicativo para os motoristas de serviços de passeio, como o Lyft e o Uber. Ele permite que os motoristas alternem facilmente entre os serviços, avaliem as solicitações de viagem, rejeitem as não-lucrativas e acompanhem todos os tipos de informações que ajudem a tomar melhores decisões.
Por enquanto, os sindicatos ainda parecem fracos. A adesão continua a diminuir. Mas a história deles mostra que o poder relativo do trabalho e do capital está constantemente em mudança. As últimas décadas foram duras para o trabalho, em grande parte como conseqüência da mudança tecnológica. Mas a tecnologia também pode ser aquilo que ajuda a transformar seu destino.
[i] NOTA DO TRADUTOR: uma das grandes limitações do texto é se encerrar quase por completo no “mundo desenvolvido” do “Norte”, desconsiderando assim o grande peso do “Sul Global” para o sindicalismo contemporâneo. Harvey, em O enigma do capital e as crises do capitalismo, afirma: “é importante levar em consideração o desenvolvimento geográfico desigual das lutas sindicais”. Conclusão semelhante podemos tirar da imensa pesquisa de Beverly Silver, Forças do Trabalho: movimentos de trabalhadores e globalização desde 1870. Ora, como diz ainda Immanuel Ness, em seu Southern Insurgency: the Coming of the Global Working Class, “enquanto as fábricas continuam fechando na Europa, Japão, América do Norte e em todo o mundo, a produção global está crescendo dramaticamente. No entanto, por mais de 40 anos, pesquisadores e jornalistas têm ponderado sobre a classe trabalhadora, principalmente sem considerar a grande maioria dos operários que estão trabalhando no Sul Global. No momento em que a atenção pública destaca a integração desses países emergentes e em desenvolvimento na economia capitalista mundial, pouca atenção é dada à repressão corporativa e à resistência dos trabalhadores nas modernas fábricas e minas que são parte integrante da economia mundial”.
[ii] NOTA DO TRADUTOR: a taxa de sindicalização, no contexto atual, deve ser relativizada, dizem alguns pesquisadores. Segundo Ruy Braga, em A rebeldia do precariado: trabalho e neoliberalismo no Sul Global, “as formas de representação das classes trabalhadoras atravessam uma transição na qual as velhas estruturas organizacionais fordistas já não são mais eficazes para alterar os rumos desse declínio [sindical], enquanto novas experiências organizativas estão ainda em seus estágios embrionários”. A própria reportagem em questão se debruça sobre essas novas experiências ainda embrionárias. Tal taxa declinante hoje pode inclusive esconder aumento de ativismo trabalhista em alguns países, como a recente explosão de greves na China, o envolvimento de trabalhadores em protestos de rua nos anos início dos anos 2010 etc.
[iii] NOTA DO TRADUTOR: curioso notar o viés determinista e neutro que a tecnologia assume nesse momento do argumento. Determinista porque subordina por completo o poder de associação dos trabalhadores ao poder estrutural, para usar os termos de Olin Wright, poder este dada pela sua posição no mercado/sistema econômico – dependente, por sua vez, do avanço tecnológico, de acordo com o texto. Neutro porque não pressupõe de nenhum conteúdo sociopolítico. No Capital, Marx já afirmava que “a maquinaria não atua, no entanto, apenas como concorrente mais poderoso, sempre pronto para tornar trabalhador assalariado ‘supérfluo’. Aberta e tendencialmente, o capital a proclama e maneja como uma potência hostil ao trabalhador. Ela se torna a arma mais poderosa para reprimir as periódicas revoltas operárias, greves etc.”. A tecnologia enquanto ofensiva burguesa está presente também nas pesquisas de Stephen Marglin sobre os sistemas fabris. Para Silver, em livro já citado, na história do movimento de trabalhadores, mudanças tecnológicas são tomadas como soluções/respostas para problemas de lucratividade e controle do capital.
[iv] NOTA DO TRADUTOR: o autor do texto ignora, por exemplo, a pesquisa de Kimball e Mishel (2015), que cruzaram dados de Colin Gordon e Piketty-Saez para correlacionarem o declínio do sindicalismo e o aumento da desigualdade de renda. Entre 1917 e 2013, nos EUA, quanto menor a taxa de sindicalização, maior a concentração de riqueza dos 10% do topo. Ver: http://www.epi.org/publication/unions-decline-and-the-rise-of-the-top-10-percents-share-of-income/ . Fora tantos outros exemplos históricos nos quais a repressão ao movimento sindical e ao ativismo trabalhista, normalmente associado à repressão política e ideológica, foi essencial para rebaixar salários, eliminar conquistas, aumentar exploração etc.
[v] NOTA DO TRADUTOR: a repressão não entra no radar do autor, por motivos óbvios. Para pensar a repressão e problemas de segurança no ambiente virtual, ver: https://lavrapalavra.com/2018/11/14/redes-sociais-e-centralismo-democratico-oportunidades-e-desafios/
[vi] NOTA DO TRADUTOR: em texto sobre a recente greve dos caminhoneiros no Brasil, na qual as redes sociais tiveram papel fundamental, discorri um pouco sobre o que alguns chamaram à época de “sindicalismo de internet”, “sindicalismo de redes”, “sindicato digital”, dentre outras denominações similares. Ver: https://lavrapalavra.com/2018/06/11/o-paradoxo-do-autonomo/
Lavrapalavra
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