domingo, 10 de julho de 2016

Como Cunha, Moro também será descartado assim que não for mais necessário.

Kiko Nogueira

Os caminhos de Eduardo Cunha e Sérgio Moro vão se cruzar não apenas na Justiça, mas num espectro mais amplo da vida nacional.

No roteiro do golpe, Cunha é Moro amanhã, tanto quanto Joaquim Barbosa foi Moro ontem.

O chamado acordão com o governo interino para livrar Cunha da cassação passava pela renúncia da Câmara. Foi um gesto para salvar o mandato, mas ele sabe que o STF não livrará sua cara. Vai espernear, mas está morto.

O cadáver será mantido em formol pelo comparsa Michel Temer, que deve ao colega o cargo que ocupa. Entregou a mercadoria, fez o impeachment, sua situação ficou insustentável e agora ele será atirado aos tubarões.

Roberto Requião está correto quando diz que “Cunha é o Judiciário e Cunha é a mídia”. Segundo o senador, são todos a mesma coisa.

Moro e Cunha foram saudados como heróis por sua luta contra o diabo, o PT. Em janeiro de 2015, Cunha deu seu recado sobre o que faria se assumisse o comando da Câmara.

“Regulação de mídia, jamais. Eu colocaria na gaveta. Não faz parte do meu propósito. Eu sou muito claro, transparente para que todos saibam que eu eleito presidente da Câmara não darei curso a um projeto desse tipo”. Assumido o cargo, foi mais enfático: “Regulação de mídia e aborto só por cima do meu cadáver”.

Cunha caiu na quinta feira 7 de podre. Nunca foi incomodado em décadas de crime. Sua mulher permaneceu como apresentadora da Globo quando folha corrida do marido já era notória.

Barbosa e Moro foram adotados pela Globo. Receberam ambos o prêmio de Personalidade do Ano. No palco, Barbosa falou: “Vejo que a vida pública deve ser e tem que ser vigiada pela imprensa. Não consigo ver a vida do Estado e de seus agentes e personagens sem a vigilância da imprensa. Na minha concepção, a transparência e abertura total e absoluta devem ser a regra.”

Moro disse a mesma coisa, com ligeiras variações. A imprensa tem tido um papel fundamental na Lava Jato “levando a informação de tudo o que acontece no processo para o público em geral. É a Constituição que determina que o processo deve ser, em regra, público, e apenas, excepcionalmente, ser conduzido em sigilo.”

Barbosa desapareceu. Cunha virou vilão enquanto se prepara para a cana.

Moro ainda é necessário, sobretudo, porque está na rota de Lula para as eleições de 2018 e porque pode, eventualmente, prendê-lo — possibilidade esta que, a cada dia, parece mais remota.

Mas ele tem prazo de validade. A Lava Jato não vai durar para sempre. Como na indústria de celebridades, os ídolos cansam e precisam ser trocados como fralda de bebê.

Moro será também substituído a partir do instante em que não for mais útil. A questão é quem virá depois dele.

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