O
movimento de saúde da zona leste já era protagonista da luta por uma saúde
pública de qualidade muito antes da existência do SUS. E dessa forma
conquistaram muita coisa. Quem vive na região sabe disto. Entretanto, ainda
falta muito.
Itaquera
deveria ter sozinha pelo menos 18 Unidades Básicas de Saúde ou 73 equipes
completas de saúde da família, mas hoje temos apenas 8 UBS e a quantidade de
equipes de saúde é muito menor que o ideal. Nesta região da cidade existe uma
comunidade que luta pela criação de um serviço de saúde há mais de trinta
anos.
Estamos
falando do Jardim Helian - bairro que atualmente luta pela construção da UBS
Jardim Helian. Esta comunidade fica há cerca de três quilômetros do chamado
“Itaquerão” – estádio da abertura da Copa do Mundo no Brasil. Também próximo
deste bairro, milhões de reais foram investidos na construção de um
planetário – o planetário do Parque do Carmo - que até hoje não funciona.
O
movimento no bairro, organizado pela associação de bairro e apoiado pelo
Fórum Popular de Saúde e outros movimentos como o dos Trabalhadores Sem Teto
(MTST), já realizou diversas ações, desde abaixo assinado, intervenção nos
conselhos de saúde, reuniões com a Secretaria Municipal de Saúde,
manifestações, ocupação da Secretaria de Saúde, e nada de sair a construção
desta UBS. Enquanto isso, moradores sofrem com a falta de acesso à saúde.
O SUS é
uma política universal que deveria acolher todas as pessoas. Mas essa não é a
realidade da saúde brasileira e vemos um vácuo institucional cujo maior
sintoma é o descaso com a população. Os governos contam com a apatia do povo
diante do descaso para não serem incomodados. Alguns lugares como o Jardim
Helian reclamam, fazem barulho e os governos fingem que ouvem e estão fazendo
algo, mas na verdade o descaso continua.
Agora,
o movimento resolveu inovar nesta luta, com a criação de uma intervenção
chamada de Posto de Saúde Popular do Jardim Helian. O leitor, à primeira
vista, pode pensar que o movimento, ao invés de lutar por um direito,
escolheu o caminho do assistencialismo.
Mas não
se enganem, se a prefeitura só ouve as demandas populares quando é
incomodada, a existência – mesmo que pontual - do Posto de Saúde Popular é
uma ameaça significativa, pois quando as pessoas decidem realizar ações que
deveriam ser realizadas pelo Estado, este perde sua capacidade de ação. O que
isto significa? Significa que o Estado perde a capacidade de implementar suas
decisões políticas e de intervir na vida dos cidadãos.
Diminuir
a capacidade do Estado é uma estratégia das classes privilegiadas que
matriculam seus filhos em escolas particulares e moram em condomínios
fechados com segurança própria, segregando a cidade para seu próprio
benefício. O Posto de Saúde Popular – ligado aos movimentos sociais - diminui
a capacidade do Estado em dois sentidos diferentes aos das classes
privilegiadas: 1) como repertório de confronto, exigindo que a prefeitura
cumpra seu papel; 2) como embrião de auto-organização para além do Estado.
O
prefeito Haddad e sua Secretaria de Saúde não cumprem a antiga promessa da
construção da UBS Jardim Helian e as pessoas caminham em direção ao
questionamento radical da legitimidade de um Estado que não as beneficia.
Imaginem se o Jardim Helian - com seu Posto de Saúde Popular - começar a
questionar o pagamento dos impostos e a legitimidade de burocracias como a
subprefeitura e os próprios políticos?
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