Ivana Bentes
As pessoas falam aqui em "alternância de poder" como se fosse uma palavra mágica, quando não adianta nada alternar "poder" e deixar intacta as forcas obscurantistas, retrógradas (ruralistas, fundamentalistas, corporações de mineração e midia) que assujeitam a vida. O paradoxo atual no meu entender é muito claro. Dilma tem um projeto desenvolvimentista que chegou no teto, mas que articulou, emponderou e tornou protagonista os movimentos culturais e sociais mais decisivos para uma reviravolta, radicalização e subversão desse proprio projeto desenvolvimentista (que faz justiça social, mas desvincula as lutas dos pobres das lutas pelo meio ambiente, das mudanças de comportamento, etc.).
O discurso de Marina é uma colcha de retalhos que antecipa essa "virada de imaginário" desejada, mas não tem força para fazê-lo. O que interessa nesta eleição é explicitar que a mudança em curso no Brasil não pode se desconectar de processos globais, que diminuir a pobreza não significa entrar no mundo do consumo infinito e predador, que o modelo industrial fordista já "deu ruim" no mundo inteiro e que o Brasil não pode "exterminar futuros" emburacando em um sistema econômico que ao inves de redistribuir as riquezas existentes vai produzir novas desigualdades e catástofres (mudanças do clima, epidemias, doenças). Ou seja, não morreremos de pobreza, mas de consumo excessivo (bulimia e não anorexia é a metáfora do capitalismo do consumo).
Marina fica só no discurso e suas propostas não tem condições politicas, com os aliados que já abduziram sua sensibilidade, de se materializar, emparedada desde agora pelas forças obscurantistas, refém e atada em relação as mudanças de comportamento e outras.
As contradições de Dilma (que permitiram o "dark side" se estabelecer em alguns campos) não retiram a força de todo esse processo em curso nesses 12 anos e são muito mais interessantes e potentes pois criaram a própria perspectiva, de dentro mesmo do processo, da sua critica mais radical e superação e/ou remediação.
12 anos em que os movimentos sociais e culturais acumularam forças, organização, velocidade. Não tem volta, o verticalismo do Estado se fortaleceu em alguns campos (tivemos retrocessos e derrotas terriveis), mas em outros (cultura, ativismo, sem tetos, sem terra, sem mídias, movimentos de minorias) emergiu um Estado-rede e experiências autônomas e horizontais que estão num processo de auto-organização gigantesco. São essas forças que farão e forçam hoje a uma "virada de imaginário".
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