Cid Benjamin
1. Num debate com sete candidatos é difícil haver um vencedor ou um perdedor claro. Isso só acontece no caso de uma tirada genial ou de um escorregão fenomenal, o que não houve.
2. Aécio mostrou que, dos “grandes”, é disparado o mais à direita. Em matéria de posições políticas, é quase um pastor mais bonitinho que o outro. E, por incrível que pareça, ninguém lhe perguntou sobre os aeroportos maneiros que construiu em fazendas da família com dinheiro público. É, também, muito menos consistente que FHC e Serra.
3. Marina apresenta o novo, que quer personificar, como uma combinação dos programas sociais do PT (coisa que o PSDB manteria) com a política econômica neoliberal do PSDB (coisa que o PT manteve, pelo menos nas suas linhas gerais). Mostrou, também, um conceito peculiar de “elites”, para fugir de qualquer coisa que parecesse diferença de classes na sociedade e crítica às “elites econômicas”, para as quais se apresenta como alternativa. Quando chamada a precisar algo, equilibrou-se sobre generalidades. Mas, como ela é isso mesmo, cumpriu o papel a que se propunha. Como disse Palmério Dória, "Marina deixou no debate forte impressão. Seus óculos coloridos também não passam de armação".
4. Dilma, mesmo sem dizer nada de novo, não foi mal no conteúdo. Mas sua dificuldade de expressão, que parece crescer a cada dia, a prejudica. Sobre a Petrobrás, calcanhar de Aquiles do PT nesta conjuntura, conseguiu sair-se bem. Em relação a outros pontos, foi ajudada porque ninguém lhe perguntou sobre aborto e otras cositas sobre as quais ela defenderia posições conservadoras na disputa pelo voto evangélico. De qualquer forma, neste momento delicado da campanha, uma participação desastrosa no debate poderia prejudicá-la muito e fazer crescer o fantasma do “volta Lula”. Isso não aconteceu. O que, tratando-se de Dilma, que é ruim de gogó, já foi uma vitória.
5. Luciana Genro foi prejudicada no sorteio e meio ignorada pelos demais candidatos e pelos jornalistas. As razões disso, me parece, são duas: está atrás nas pesquisas e, penso, de que pudesse bater com mais consistência nas posições dominantes. Sua participação acabou sendo periférica. Esteve bem no conteúdo, mas não teve presença marcante no debate. De qualquer forma, na TV seria bom que falasse de forma mais pausada, meio que conversando com o telespectador.
6. Eduardo Jorge, com seu jeito matuto, foi bem. Passou uma imagem simpática e defendeu boas posições. Que, diga-se, não são as do PV. Mas, como esse partido não costuma ser tão rigoroso com princípios, sua boa participação deve ser vir para amainar qualquer crítica que venha por aí. Talvez tenha sido o único que lucrou com o debate.
7. O Pastor Everaldo, mesmo sofrendo de grave desidratação depois da entrada da Marina em cena, mostrou mais uma que tem uma só função nesta eleição: puxar pra direita a discussão.
8. E o tal Levy Fidelix, figura folclórica, com certeza pegou emprestada com o Sarney o corante Asa de Graúna, para escurecer cabelo e bigode.
9. Por fim, uma impressão e uma pergunta. A impressão: 90% das pessoas que veem até o fim um debate que começa às dez da noite e vai até uma da manhã, a 40 dias da eleição, só é visto integralmente por quem se interessa muito por política e, quase com certeza, já tem candidato. Ele vai servir mais para que um ou outro trecho seja explorado no programa de TV ou em matérias dos jornais.
10. A pergunta: será que a Band não tinha um jornalista – que fosse um só, entre os três - menos reacionário pra que também fizesse perguntas? Os outros dois ficaram no mesmo plano do Boris Casoy, ex-integrante do CCC. Valha-me deus!
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