quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Marina para Dilma: “eu sou você amanhã”


Ivana Bentes

Dilma e Marina. Não existe folha em branco e nem floresta virgem! Em poucas semanas o cenário das eleições presidenciais sofreu tal reviravolta que ainda estou aqui tentando entender o que aconteceu que transformou Marina num tipo especial de "viral" e alternativa eleitoral. Digo viral e mesmo um "meme" eleitoral sem qualquer tom pejorativo, mas pensando que as eleições tem um componente simbólico e de "narrativa" que ultrapassa em muito qualquer racionalidade ou matemática.

Marina tem a "melhor" narrativa, da seringueira da floresta alfabetizada aos 17 anos que por um golpe do destino teve a candidatura a presidência jogada no seu colo. Mas me pergunto se segura a candidatura para além da comoção memética. Tem os piores defeitos e incoerências de Dilma em relação aos temas comportamentais como o aborto, as drogas, o casamento gay. Como pode ser uma alternativa aos sem voto ou aos que foram para as ruas em junho de 2013 com esse perfil conservador no campo do comportamento?

A proposta ambientalista de Marina também ainda é nebulosa. É anti-desenvolvimentista? Obviamente que o governo Dilma foi pifio em relação as questoes ambientais e indigenas. Mas que tipo de governabilidade um partido como o PSB vai ter que negociar, já que a eleição presidencial não muda a configuração over conservadora do Congresso? Faz como?

Marina está ao lado de uma elite empresarial e de certo "capitalismo verde" , da "responsabilidade social" o equivalente aos ecobags, o consumidor verde que acha que já faz muito por não usar saco plástico descartável no supermercado ou por comprar a cenoura orgânica do Marcos Palmeira (também acho ótimo, mas insuficiente).

O desenvolvimentismo fordista de Dilma e a sustentabilidade “flex” da economia verde são igualmente insuficientes e insustentáveis. Um é a remediação do outro.

O que Lula fez (contra toda uma elite midiática e conservadora, contra uma parte da classe média preconceituosa e voltada pra seu umbigo) com a Bolsa Familia, a expansão das Universidades públicas, as cotas, tem que ser feito com ruralistas e sistema de segurança e de mídia.

São as forças mais pernósticas desse pais: Ruralistas, mídia corporativa e segurança pública. Marina, faz como? Dilma, quando vai encarar?

O que mais me incomoda é a forma como Marina capitaliza o voto anti pobres, anti Lula, o voto anti PT que desqualifica de forma grosseira uma década de conquistas e avanços no Brasil.

A força de Marina é o imaginário da mudança, que abre brechas, mas a meu ver são exatamente as mesmas brechas e contradições que já existem dentro do governo Dilma.

Marina para Dilma: “eu sou você amanhã” talvez sem o mesmo lastro e força de um partido como o PT que ainda é a mais completa tradução da bipolaridade esquizofrênica na politica brasileira e que por isso mesmo está aberto as pressões, de todos os lados.

Vimos isso com a aprovação (depois de uma gestão pífia na Cultura) da Lei Cultura Viva e do Marco Civil para a Internet tornando Lei duas das maiores conquistas da gestão de Gilberto Gil no MinC. Também o Marco Regulatório das Organizações civis e o decreto da Participação Social, são reais avanços, descriminalizando as Ongs que podem co-gerir politicas públicas e tornando lei "participação" com direito a grita midiática e conservadora, que não admitem um Estado-rede aberto a co-gestão da sociedade.

As questões continuam e não tem respostas fáceis. luto para que o atual sistema partidário, inclusive o governo Dilma, incorpore as pautas e questões urgentes que emergiram nas ruas. Temos que sair do infantilismo político e purista que é o compromisso atávico com o inviável, pois a governança e a democracia direta vão brotar da remediação e ruptura com o atual sistema partidário. Não existe "folha em branco" nem floresta virgem!

Acho de um equivoco sem tamanho o discurso anti-petista que quer a todo custo "o PT fora do poder" mas também os que defendem a todo custo o governo. Os governistas são um atraso para discutirmos, criticarmos e pressionarmos governos "de dentro" deles. Criticar e exigir mudanças não como inimigos, mas aliados!

Por enquanto votei e votarei na Dilma e na possibilidade de tensionar seu governo por fora e por dentro.

Quem precisa de politicas públicas não vai se dar o luxo de votar nulo. Quem precisa de politicas públicas nos transportes, na saúde, banda larga, politicas para a juventude e para as minorias, não vai votar nulo. Votar nulo é o luxo de quem "não precisa", ao meu ver. Mas acho legitimo como expressão simbólica.

A “classe C” quer mais direitos e mais politicas públicas que potencializam a vida, potencializem a sua cultura e jeito de estar no mundo, não apenas ser consumidora e será decisiva nessa eleição. A Marina fala para uma classe média e para uma elite liberal com pautas que Dilma subestimou. Muito justo, mas insuficiente ao meu ver.

Ainda acho que Marina é mais um meme do legitimo desejo de mudança que uma candidatura consistente. Mas é ótimo tê-la no debate e no páreo!

Voto na Dilma e acredito que as ruas são ingovernáveis e temos que lutar contra a financeirização da vida, seja de onde for!


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