"Mais programático e menos pragmático"
José Eduardo Cardozo: "Teremos embates duros e o PT tem que estar coeso"
A possibilidade de um racha à esquerda na base da presidente Dilma Rousseff, com partidos como PDT e PSB sob ameaça de se distanciarem do PT em 2014, deflagrou na corrente petista Mensagem ao Partido uma aproximação, na forma e no conteúdo, com o grupo majoritário Construindo Um Novo Brasil (CNB), com quem mais costuma rivalizar nas disputas internas.
Na sexta-feira, convenção nacional do grupo que lançou o deputado federal Paulo Teixeira (SP) a presidente do PT explicitou esse movimento com uma reacomodação em sua visão sobre dois pontos que a Mensagem mais divergia da CNB: política de alianças e mensalão.
O grupo, antes mais refratário a composições tendo o PMDB como parceiro preferencial, defende o atual desenho da base como fundamental para a reeleição. O julgamento do mensalão, outrora tido como instrumento necessário para a autocrítica, passou a ser um meio para questionar a alegada politização do Supremo Tribunal Federal (STF) e da imprensa.
Ao fim, ficou claro que a ideia de tentar dar um viés "mais programático e menos pragmático" ao PT - mantra da Mensagem - caminha para ficar para trás. Eleições e votos predominavam ali sobre o debate de políticas públicas.
A melhor expressão disso foi a fala daquele que, ao lado do governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, é maior expoente da Mensagem: o ministro da Justiça, José Eduardo Martins Cardozo. Nem bem se acomodou no púlpito, transmitiu aos presentes no auditório Nereu Ramos da Câmara dos Deputados os números da última pesquisa Datafolha, que davam a presidente Dilma Rousseff 58% de intenções de voto e uma vitória contundente no primeiro turno em 2014. "É fundamental o papel da coesão partidária e instrumentalização do partido. Teremos embates duros e o PT tem que estar coeso", disse. Completou: "A Mensagem precisa de uma nova mensagem".
Com cerca de 20% de ocupação dentro do PT - a CNB tem mais de 50% - a Mensagem foi fundada em 2005 durante a crise do mensalão com um discurso de refundação do partido. Isso passava pela retirada do comando da sigla o grupo do então ministro da Casa Civil José Dirceu, alvejado no escândalo. Na época, coube a Tarso Genro, que assumiu a presidência do PT no lugar de José Genoino, liderar a aglutinação dos indignados junto à Mensagem. Vieram forças independentes e praticamente toda a Democracia Socialista, corrente interna sempre mais à esquerda da CNB e embrião da Mensagem.
Sua tese central, lançada na "Mensagem ao Partido" em 2005, era a de que o mensalão decorria das alianças que o PT fez à direita no início do primeiro mandato do governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, como PL (atual PR), PP e PTB, protagonistas do mensalão. Por conseguinte, defendia a necessidade de uma guinada à esquerda, com a opção preferencial pelos partidos que sempre estiveram com o PT nas eleições nacionais, como PSB e PCdoB. Com esse ideal, a Mensagem lançou desde então candidaturas a presidente contra as da CNB.
Mas o discurso nunca ameaçou muito o poderio da CNB. Ciente disso, a Mensagem começou a fazer alianças internas com outras correntes, inclusive com os chamados "dissidentes da CNB", ou "CNB do B". Tratam-se dos críticos do grupo majoritário, mas mais por estarem pouco ou completamente fora do governo do que por não concordarem com seus rumos.
Nesse contexto, a Mensagem apoiou no segundo turno a reeleição do deputado Ricardo Berzoini (SP), da CNB, nas eleições internas de 2009, o que lhe garantiu o segundo cargo na hierarquia interna. Levou a fórmula para a Câmara dos Deputados e esse grupo híbrido formado por diversas correntes dominou a bancada petista no primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff. Marco Maia (RS) foi eleito presidente da Câmara neste cenário. Teixeira e Jilmar Tatto (SP), da PT de Luta e de Massas, foram eleitos líderes respectivamente em 2011 e 2012. Arlindo Chinaglia (SP), do Movimento PT, desbancou Cândido Vaccarezza (SP), da CNB, da liderança do governo. Tudo com apoio da Mensagem.
A história começou a mudar quando, no fim de 2012, Dilma assegurou apoio à eleição do deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) a presidente da Câmara; e de Renan Calheiros (PMDB-AL), a presidente do Senado. A sinalização do Palácio do Planalto de que o PMDB era o aliado preferencial para 2014 fez o grupo "autêntico" da CNB, antiga defensora dessa tese, vencer duas disputas internas: a liderança do PT na Câmara (com José Guimarães, do Ceará) e a vice-presidência da Câmara (com André Vargas, do Paraná). Para piorar, Fernando Haddad, signatário da Mensagem, elegeu-se prefeito de São Paulo apregoando não pertencer a nenhuma corrente interna.
De uma maneira geral, porém, o discurso à esquerda continua a agradar a militância da corrente. Na sexta-feira, muitos, especialmente jovens, tiveram a oportunidade de criticar a política de resultados que predomina no PT e conduz a ação política do governo. O difícil é conseguir fazer com que essa visão chegue à cúpula da Mensagem e, mais do que isso, ao PT. O próprio Paulo Teixeira parece se certificar disso quando discorreu sobre o significado de sua candidatura. Instado a falar sobre a diferença dela em relação a de Rui Falcão, da CNB, foi vago. Depois, defendeu a unidade petista: "A minha candidatura representa a unidade interna, o fortalecimento do partido para a tarefas de reeleger Dilma e continuar a governar o Brasil."
Valor
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