terça-feira, 19 de março de 2013

Pontos de ônibus: por que é tão difícil garantir qualidade e conforto?



Raquel Rolnik


Nas últimas semanas, começaram a ser instalados na cidade de São Paulo novos modelos de abrigo nos pontos de ônibus. Até o final de 2015, o consórcio vencedor da licitação para a realização da obra deverá trocar 6500 abrigos e 12500 totens. Os novos abrigos têm quatro diferentes modelos e serão instalados de acordo com o perfil de cada região da cidade. A notícia parece boa, mas muitos paulistanos têm reclamado.

A principal reclamação é que os novos pontos estão sendo instalados sem painéis de informação sobre as linhas de ônibus e seus itinerários. Quem anda de ônibus sabe a falta que faz esse tipo de informação. Outra queixa é com relação às coberturas de vidro dos abrigos. Embora o consórcio afirme que são vidros temperados e com proteção UV, a sensação de muita gente é de que os abrigos estão mais quentes e abafados.

Obviamente não é apenas São Paulo que enfrenta problemas com relação aos seus pontos de ônibus. Em geral, na maior parte das cidades brasileiras, os pontos de ônibus são equipamentos precários, sem conforto, sem segurança, enfim, sem nenhuma qualidade. Me parece que isso faz parte de uma cultura histórica em nosso país de associar o transporte coletivo – o ônibus, especialmente – às classes pobres. Se ricos e classe média andam de carro particular, para quê investir em pontos de ônibus?

Mesmo em São Paulo que, de qualquer forma, mesmo com críticas, está investindo em novos abrigos, ainda há regiões onde os pontos, quando existem, são totalmente precários. Às vezes há apenas um toco no meio da calçada, sem nada que o identifique com um ponto de ônibus. Enquanto isso, a população se vira como pode. Pra vencer o problema da falta de informação nos pontos, por exemplo, um pessoal de Porto Alegre criou um adesivo com os dizeres “Que ônibus passa aqui?” e um espaço para anotação das linhas. O arquivo está disponível pra download gratuito na internet e a ideia rapidamente se espalhou. Inclusive vários adesivos já foram colados nos novos abrigos de São Paulo.

Certamente falta diálogo dos gestores com a população na hora de pensar investimentos não apenas em pontos de ônibus, mas no mobiliário urbano em geral. Quais são as demandas, as queixas, os pontos positivos e negativos apontados pelos usuários desse mobiliário? Que tal ouvir a população e priorizar suas necessidades antes de implementar projetos desse tipo?

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