Vitor Sapienza*
Os jogos olímpicos bateram à porta, e entraram. E a televisão manda, pra todos os cantos do mundo, imagens de atletas que buscam resultados muitas vezes além dos limites que a condição humana impõe. É hora de competição quando as carências ficam de lado e ignora-se o abandono a que muitos dos nossos atletas foram relegados, no intervalo entre uma Olimpíada e outra. É claro que não estamos falando dos badalados atletas do nosso famoso porém nunca rico futebol. Sobre isso, reservamos um parágrafo mais à frente nesta humilde opinião de torcedor.
A tal “pátria de chuteiras” dá lugar a outras modalidades e, sempre, mascarando verdades que fingimos ignorar. No entanto, na hora do resultado a nossa cobrança é uniforme, pouco importa se o atleta recebeu o apoio oficial ou se foi mantido graças ao “paitrocínio”. Atletas anônimos perante a população se emocionam, muitas vezes mais pelo esforço particular do que pelo amparo que receberam, e que levaram até a Olimpíada. É nesta hora que vemos os nossos cronistas despejando ufanismo nos microfones quando pouco ou nada fizeram para que os nossos atletas tivessem o efetivo apoio. E isso, infelizmente, atinge a classe política, os empresários e aqueles que, mediante escolha nem sempre condizente com a condição do cargo, integram a comissão que cuida do assunto.
Falemos do futebol. Chegou a hora da disputa, e quem acompanha o que acontece no nosso futebol certamente deposita as suas fichas em três ou quatro nomes que, devidamente orientados por marqueteiros, tentam trazer para o país o sonhado título olímpico, tantas vezes tentado e sempre frustrado. Destaque-se que o termo “devidamente orientados por marqueteiros” não está solto no contexto. Ele integra a rotina do nosso futebol. A falsa vibração na hora do gol, a simulação de falta, o fingimento, a preocupação com o visual, a constante mudança na imagem, a postura, tudo isso vai a campo, e muitas vezes o caráter da disputa é deixado de lado. Traça-se uma imagem que será o parâmetro na hora do contrato publicitário. O esporte, em si, é mero coadjuvante.
Não vamos, aqui, condenar quem usa esses subterfúgios para vender o seu peixe, para se enriquecer no esporte. O que criticamos é a conivência de gente que, direta ou indiretamente, participa do processo, fabricando e vendendo imagens muitas vezes irreais. E isso é facilmente notado no comentário enaltecendo virtudes de determinados atletas, talentos que muitas vezes nos colocam na condição que questionadores. Não são poucas as vezes que fazemos e ouvimos a simplória pergunta: será que estamos vendo o mesmo jogo? Ou será que apenas eles entendem do assunto? A parceria caminha para a conivência, e em larga escala nos coloca como o principal celeiro mundial de atletas. Mas, será verdade tudo isso? Ainda somos os melhores do mundo?
Seremos de fato os melhores do mundo quando usarmos essa mesma ferramenta para promover os esportes amadores, aqueles cujos praticantes apenas aparecem na mídia quando são cobrados, participando de grandes eventos.
Terminados os jogos de Londres, teremos seis anos para colocar em prática uma política séria para evitar que continuemos cobrando de atletas sem apoio os mesmos resultados de outros, badalados, protegidos e tratados como deuses. Certamente depois disso, esqueceremos a corriqueira pergunta de nossos dias: será que estamos assistindo ao mesmo jogo?
*Vitor Sapienza deputado estadual (PPS), é presidente da Comissão de Ciência, Tecnologia e Informação, economista e agente fiscal de rendas.
Jornal do Brasil
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