Turismo e progresso em Maragogi
Edmilson Lopes Jr
Nosso litoral será cada vez mais tragado pela lógica espacial da atividade turística
Se um turista hospedado em Maragogi, na divisa entre Alagoas e Pernambuco, conversar com as pessoas da região, especialmente comerciantes, constatará a grande expectativa de parte dos moradores locais em relação a duas grandes obras que redefinirão espacialmente o litoral nordestino entre Maceió e Recife: a construção do Aeroporto de Maragogi e a duplicação das rodovias AL-101 e PE-60. Quando essas obras serão executadas, ninguém sabe direito. Mas serão, pode apostar. No momento, o que se pode adiantar é que a sua proximidade imaginativa já impacta fortemente a ocupação historicamente desordenada desse que é um dos mais belos pedaços do litoral brasileiro.
Deslocando-se de automóvel de Maragogi para Maceió, esse mesmo turista não deixará de observar os outdoors gigantes, com imagens paradisíacas, anunciado a venda de lotes, apartamentos ou casas em condomínios fechados. Isso quando se aproxima da orla, pois, mais afastado dela, a rodovia corta a monótona paisagem da monocultura da cana de açúcar, com as plantações que quase não deixam nenhuma margem para o acostamento. De vez em quando, pequenos ajuntamentos de casebres e casas de taipa quebram a monotonia do verde da cana. Mas esse território, com as suas pequenas cidades que orbitam em torno das usinas de açúcar e seus insuportáveis resíduos, logo é deixado para trás, quando nos aproximamos mais de Maceió.
Que o nosso litoral será cada vez mais tragado pela lógica espacial da atividade turística, caso o país continue a crescer, essa é uma constatação trivial. Entretanto, não deixa de ser chocante testemunharmos como essa lógica, que devora paisagens e devolve espaços uniformes e ambientalmente depredados, está reproduzindo no litoral nordestino, com a substancial ajuda de recursos públicos, a mesma modernização excludente que marcou, por exemplo, o nosso desenvolvimento agrícola.
As elites locais reproduzem o discurso de que as obras mais acima apontadas são "estruturantes" e se reverterão em "emprego e renda" para a população local. Quem conhece o mundo social das comunidades pesqueiras da região não se seduz por essa retórica. Às margens da AL-101, ex-moradores de povoados à beira-mar, deslocados pela especulação imobiliária, muitos deles filhos de pescadores, sobrevivem agora das ajudas dos programas sociais governamentais e dos serviços domésticos temporários.
Essa realidade não deixará de atrair a atenção, nem que seja por breves minutos, do nosso turista. Basta que em algum ponto da viagem, em meio a um dos inúmeros aglomerados urbanos situados às margens da rodovia, ele baixe os vidros do seu automóvel. Nesse momento, quando o odor fétido dos esgotos que correm a céu aberto invadir as suas narinas, ele poderá refletir sobre as ilusões desastrosas que o seu consumo de bens, serviços e lugares alimenta.
Edmilson Lopes Júnior é professor de sociologia na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
Terra Magazine
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