Duas manifestações contra a construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, no Rio Xingu, no Pará, foram realizadas no sábado, 17 de dezembro, nas duas maiores cidades do país. Em São Paulo, mais de cem pessoas estiveram no vão livre do Museus de Arte Moderna (Masp) com cartazes, megafones e instrumentos musicais. Alguns dos manifestantes, pintados de verde, pediram à presidente Dilma Rousseff que o governo desista de avançar com o projeto. Cena semelhante foi vista na orla de Copacabana, onde cerca de 50 pessoas também protestaram.
“É um vasto problema de populações atingidas por barragens, reservas ambientais comprometidas. E para que essa energia? É para exportarmos lingote de alumínio a preço vil e reimportarmos pelo triplo do preço”, criticou José Prata, do movimento Brasil pelas Florestas, em entrevista à Agência Brasil. Indígenas do Alto Xingu também participaram do protesto em São Paulo, dançaram e tocaram instrumentos tradicionais.
O índio Farema, da etnia Kalapalo, afirmou estar preocupado com a possibilidade de a usina afetar os peixes dos rios da região. “Não podemos construir essa usina. Nosso alimento é o peixe. Alto Xingu não come animal, só peixe. Estamos preocupados é com a usina acabar com tudo, estragar tudo.”
No Rio, com o slogan “Belo Monte: com Meu Dinheiro Não!”, manifestantes carregaram cartazes, acusando o governo de gastar dinheiro público no empreendimento, orçado em R$ 26 milhões. Eles alegam que a obra vai prejudicar o meio ambiente e a vida dos povos indígenas e das populações tradicionais da Amazônia.
A marcha foi organizada pelo Movimento Xingu Vivo para Sempre e também foi realizada em oito estados e no Distrito Federal. A representante da organização no Rio, Maíra Irigaray, explicou que o objetivo do protesto é informar à população que a obra deve passar de R$ 30 bilhões e que 80% desse dinheiro será repassado pelo do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) com juros abaixo do cobrado pelo mercado e prazo de 30 anos para pagar, segundo ela.
“Esse protesto é um dos muitos que virão e é uma onda de conscientização crescente. Vamos conseguir com isso o fim da construção de Belo Monte, a abertura de um diálogo verdadeiro, uma renovação da política energética do país e o respeito aos povos tradicionais da floresta e à natureza”, projetou a ativista.
Zélia Soares do Movimento Brasil pelas Florestas acredita que apenas a população pode impedir a construção de Belo Monte. “Tudo que começa pode ser impedido de novo, por isso temos que protestar. Além disso, faltam 14 ações contra a usina para serem julgadas na Justiça, que podem parar a obra a qualquer momento”, lembrou.
Ana Bittencourt, de 20 anos, ficou informada sobre o movimento pela rede social Facebook. “Vim porque me importo, acho que essa ideia de que só porque está acontecendo fora do meu quintal não é problema meu é errada. [A obra] é lá no Xingu, muita gente não sabe onde fica, mas a população devia se importar com os direitos de quem está perdendo sua casa e sua terra.”
Justiça voltou atrás para autorizar obra
Na sexta-feira (16), o juiz Carlos Eduardo Castro Martins, da 9ª Vara Federal no Pará, determinou a retomada das obras de Belo Monte. A decisão revoga liminar do próprio magistrado, que havia suspendido, em setembro, as obras da usina no curso do Rio Xingu, por entender que ameaçavam o transporte da população local e poderiam causar danos ambientais irreversíveis.
Segundo a nova sentença, não haverá impedimento do trânsito de embarcações pesqueiras, uma vez que “estão previstos mecanismos de transposição, sejam provisórios, enquanto está em construção a obra, sejam definitivos, para quanto estiver em operação a UHE [Usina Hidrelétrica]“.
Prevista para ser a segunda maior hidrelétrica do país, atrás somente da binacional Itaipu, Belo Monte vai ocupar parte da área de cinco municípios: Altamira, Anapu, Brasil Novo, Senador José Porfírio e Vitória do Xingu. O empreendimento custará pelo menos R$ 25 bilhões, segundo a Norte Energia, mas há estimativas de que o custo chegue a R$ 30 bilhões. Trata-se de uma das maiores obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), uma das principais bandeiras do governo federal.
Embora tenha capacidade para gerar 11,2 mil MW de energia, Belo Monte deverá operar com menos potência. Segundo o governo, a potência máxima só pode ser obtida em tempo de cheia. Na seca, a geração pode ficar abaixo de mil MW. A energia média assegurada é de 4,5 mil MW. Para críticos da obra, o custo-benefício não compensa. O governo contesta e afirma que a energia a ser gerada é fundamental para o país.
* Publicado originalmete no site EcoD.
(EcoD)
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