Sinduscon/RN e a inversão da noção de interesse público
O sindicato da indústria da construção civil do estado do Rio Grande Do Norte (SINDUSCON/RN) sinalizou com a perspectiva de participar do pleito eleitoral do ano que vem, subsidiando, segundo ele, os natalenses com pesquisas eleitorais e de opinião sobre a corrida municipal e temas polêmicos que gravitam na esfera pública. Conforme seu presidente, Arnaldo Gaspar Jr, será uma forma de contribuir para o debate.
DEMOCRACIA
A aspiração da entidade é legítima. Numa democracia toda e qualquer pessoa/instituição pode – acredito que deve – se manifestar no sentido de apresentar seus pontos de vista sobre aquilo que entende ser relevante. No entanto, como também num regime democrático, não somos obrigados a concordar com os argumentos do proponente.
Neste sentido, é possível identificar um conjunto de incongruências ideológicas na fala do presidente da instituição.
PASSADO ESQUECIDO?
Primeiro, não é verdade que só agora o Sinduscon irá figurar como agente político em uma sucessão eleitoral. O Sinduscon vem firmando posições, através do apoio de candidaturas que defendem os seus interesses. O referido sindicato foi, apenas para apontar uma intervenção recente, um dos principais responsáveis pela vitória de Micarla de Sousa, na medida em que ajudou fortemente em seu financiamento de campanha.
VENDER O INDIVIDUAL COMO INTERESSE DE TODOS
Segundo, a preocupação não é em contribuir para o bem da cidade e gerar informação para os natalenses. Mas de promover uma articulação ainda maior do grupo de construtores, difundindo visões de mundo que vão ao encontro dos seus interesses enquanto agrupamento econômico.
Daí que é perigosa, além das sondagens eleitorais, a idéia de levar as pesquisas de opinião do Sinduscon a sério. Fazendo um contorcionismo intelectual que beira o absurdo, por exemplo, Arnaldo Gaspar Jr afirmou, em entrevista a uma rádio da cidade, que a pessoa que deseja que o Juvenal Lamartine não seja vendido, ou que vire um parque público, está pensando apenas no seu interesse privado. Segundo ele, o ponto de vista que irá atender as expectativas do natalense passa pela venda do terreno e sua posterior transformação em espigões. Uma clara apresentação do desejo individual travestido pela busca do “bem de todos”.
PESQUISAS MANIPULADAS
Pesquisas de opinião, se comparada às eleitorais, apresentam maior margem de manipulação. Dependendo do modo como a pergunta é feita (imposição de problemática ou de possibilidades de resposta) e os dados são apresentados (supressão da maioria de indecisos para inflar outras escolhas, etc), a pesquisa de opinião pode, com certa facilidade, trazer o resultado que o agente deseja.
Significativo, portanto, é o fato de que os temas considerados importantes hoje, de acordo com o presidente, digam respeito aos assuntos de interesse do Sinduscon, tais como a venda do Juvenal Lamartine e a verticalização da Zona Norte.
DIREITO DE PERGUNTA
E aí cabe perguntar: qual será o respaldo que o Sinduscon, grande interessado no apetitoso terreno do Juvenal Lamartine e na transformação de uma Zona Norte sem estrutura em prédios, terá para publicar pesquisas de opinião pública em favor dos seus interesses?!
A perspectiva é bem clara: utilizar as pesquisas de opinião para atribuir um verniz de verdade as aspirações sociais e econômicas do sindicato. Mostrar, através do enviesamento, que a população quer o que o Sinduscon deseja.
INTERFERÊNCIA PERNICIOSA
A atuação do Sinduscon/RN nos últimos anos tem trazido malefícios para a cidade. Na medida em que tenta universalizar desejos setoriais, este sindicato tenta difundir a ideia de que Natal só se desenvolverá se se transformar numa plantação de milho com muitos espigões.
Portanto, o ataque contra candidaturas/projetos políticos que não comunguem dos seus pontos de vista vem representando uma clara desqualificação (lembrar da celeuma do plano diretor) de qualquer perspectiva que vise criar uma cidade sustentável.
Carta Potiguar
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