A nova classe dos brasileiros que não podem viajar para o Exterior. Por Paulo Nogueira
Cunha comemora presidência da Câmara: ia tudo bem até ir mal
Há hoje duas categorias de brasileiros: os que podem ir para o exterior e os demais.
José Maria Marin não sabia que pertencia à classe dos que não podem, e no momento em que você lê este artigo está numa prisão na Suíça.
Seu substituto na CBF sabe, e por isso você jamais vai vê-lo no aeroporto.
Eduardo Cunha também tem noção do lado em que se situa na divisão que tracei entre os brasileiros.
Por isso, se há pouco tempo comandou uma extravagante superviagem a Israel para demonstrar seu novo poder, agora sofre de fobia de aviãode rotas internacionais.
Acaba de desistir, com uma justificativa que não deve ter convencido nem aos fiéis de sua igreja, de ir para a Itália.
E se?
O Globo deu uma matéria sobre essa desistência aérea.
Ri sozinho ao lê-la.
Suspeito que os Marinhos também não tenham nenhuma pretensão de ir para fora tão cedo.
Considere o que aconteceu com um sócio deles numa afiliada, Jota Hawilla, hoje detido em solo americano com uma tornozeleira.
A Justiça americana está particularmente empenhada em punir roubalheira na FIFA. E as relações entre a Globo e a FIFA, sobretudo nos dias de Havelange na presidência, são antigas e deram muitos frutos, talvez nem todos imaculados.
E se?
O pânico de viagens é uma demonstração de como as coisas são ainda frágeis no Brasil.
Os aerofóbicos sabem que no território brasileiro tudo está dominado. Eles não têm medo de Moro, ou da PF, ou da Lava Jato.
Mas fora do solo brasileiro a história é outra.
Isso remete a um episódio clássico do jornalismo brasileiro.
Paulo Francis se colocou a caluniar diretores da Petrobras, que ele chamava de Petrossauro em sua obsessão thatcheriana.
Os caluniados fizeram o que tinham que fazer. Foram buscar Justiça. Mas não no Brasil, onde estava tudo sob controle para Francis e o grupo que ele representava.
Processaram-no nos Estados Unidos, porque ele fizera as acusações em solo americano, no programa Manhattan Connection.
A Justiça americana pediu provas a ele, e Francis não tinha nada além de sua garganta maledicente.
Na iminência de uma indenização milionária – lá se você é culpado de calúnia não vai pagar uma ninharia como no Brasil – ele se desesperou, e morreu de infarto.
No meio do caminho, FHC e Serra, então no poder, tentaram convencer os diretores da Petrobras a desistir do processo.
Mas, pelo menos ao que se saiba, nem FHC e nem Serra se atreveram a procurar autoridades americanas na busca por um jeitinho que salvasse Francis.
Muitos brasileiros se queixam, hoje, de que não podem ir ao exterior por causa do dólar alto.
É uma reclamação justa.
Mas é melhor não viajar por causa do dólar alto do que pela suspeita de que a polícia pode aparecer subitamente na sua frente em terras estrangeiras, como ocorreu com Marin.
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