quarta-feira, 18 de outubro de 2017

Jornalismo assume papel de protagonista nesta crise

Francisco Paes de Barros

A política brasileira vive a maior crise ética e moral da sua história. Os brasileiros estão descrentes de tudo e de todos.

É uma situação que me fez lembrar os ensinamentos encontrados no livro “Por uma civilização do amor” (Paulinas), do renomado escritor, teólogo e politicólogo italiano Bartolomeo Sorge, jesuíta. Seus ensinamentos são inspirados na proposta social da Igreja. Um dos capítulos do livro é sobre a maneira de fazer política como cristão. Aborda também a crise moral e ética da política de então, 1996.


Nas suas colocações, o autor chamou a minha atenção com vários comentários que considero úteis à política brasileira.

É o caso da pergunta que o politicólogo italiano fez: “Será que uma das principais causas da crise política atual não é justamente a falta de uma nova classe dirigente preparada, capaz de substituir aquela velha, que já não mais corresponde?”


A pergunta se transforma em resposta. Na política do Brasil, é imprescindível surgir com urgência uma nova classe dirigente. Nesse contexto, o jornalismo assume papel de protagonista e deve liderar uma ampla discussão de ideias.

O verdadeiro jornalismo, como protagonista, poderá dar significativa contribuição para a renovação do quadro de políticos no Brasil. Como disse o renomado padre jesuíta: “As reformas institucionais mais corajosas e sábias, sozinhas, jamais serão suficientes para preencher a ausência de homens e mulheres preparados. Só políticos novos, honestos, idealmente motivados e profissionalmente formados, poderão ser os artífices de uma nova sociedade. Isto é, são necessários homens e mulheres que vivam a política como ‘vocação’...”



“Uma das maiores desgraças é o poder gerido pelo ‘empresário’ da política...”



Entendo que seja este o momento de o jornalismo, como protagonista, reunir as grandes cabeças do Brasil “agindo (à direita ou à esquerda, no Norte ou no Sul), elas se descobrirão tendencial e instintivamente unidos na defesa dos valores éticos fundamentais”.



O jornalismo sabe que “o compromisso de preparar consciências e inteligências para o serviço político não pode ter outras fronteiras senão as do bem comum de todos”.



O jornalismo, como protagonista, deve levantar a bandeira de transformar o povo brasileiro em um povo politizado. Sinto que as redes sociais estão entre os responsáveis pela despolitização do brasileiro.



Hoje, sob o domínio da tecnologia, pouco se discute sobre ideias. Há de se provocar o senso crítico da sociedade. A política brasileira está na UTI. A grande maioria dos brasileiros alienada passa horas e horas conversando e contando piadas nas redes sociais sobre os escândalos envolvendo políticos e empresários.



Quanto à enorme corrupção que emporcalha o Brasil, entendo que o jornalismo, sem prejuízo da investigação, da denúncia e da crítica a respeito dessa situação que envergonha a todos nós, tem a missão de levar aos brasileiros a esperança de mudanças no exercício de fazer política. “Fazer política é uma coisa séria, é uma opção exigente”.



Bartolomeo Sorge observa em seu livro que “no atual vazio de esperanças, agravado pelo desaparecimento de ideais, a inspiração cristã não só mantém toda a sua validez, mas saiu reforçada pela ulterior confirmação histórica da sua verdade. De fato, a queda do muro de Berlim mais uma vez lhe deu razão. Por isso, hoje mais do que ontem, cresce o número dos que são levados a crer que ‘para uma sociedade como a nossa, que corre o risco de perder a verdadeira e integral medida do homem, o Evangelho da caridade pode oferecer uma visão antropológica autêntica e equilibrada, capaz de descobrir e propor as referências éticas necessárias para enfrentar e resolver os grandes problemas da nossa época’ (CEI)”.



É importante que o jornalismo desperte o povo alienado e o insira na discussão de temas relevantes a toda sociedade, com o intuito de encontrar elementos que possam fazer o brasileiro sonhar com um Brasil melhor (deixar os escândalos de corrupção para o noticiário de polícia).



A propósito de trazer o povo para participar da discussão dos grandes temas nacionais, o politicólogo Bartolomeu Sorge lembra que as “ideologias, apesar de tudo, dão alma ao compromisso político – mesmo aquelas que posteriormente a história demonstrou serem errôneas, não deixavam de ter elementos de verdade e de estimular o compromisso de gerações inteiras, impulsionando em alguns casos até ao heroísmo”.



Bartolomeo Sorge continua: “Uma das consequências mais graves da falta de ideologias, atualmente, é o risco de um pragmatismo sem ideais. Pode parecer paradoxal, mas é preferível uma atividade inspirada por uma visão ideal cheia de erros do que agir sem ideais. Porque se um projeto ideal contém referências erradas, estas podem até ser corrigidas; mas uma política não vivificada por um ideal transforma-se irremediavelmente em busca do poder pelo poder e abre a porta para todos os tipos de desvios”.



O Brasil incrivelmente ainda respira. Foram 21 anos de ditadura e mais 30 anos de democracia traída, judiada, maltratada e ameaçada pelos corruptores e corruptos.



O povo brasileiro espera que o jornalismo ajude a trazer de volta a esperança de um Brasil melhor. Pelo menos é preciso “viver de esperança em esperança”.



Gostaria de concluir fazendo uma observação. Para tanto, uso, mais uma vez, as palavras do notável teólogo e politólogo italiano Bartolomeo Sorge: “Participar da política como cristãos não significa pretender tornar a sociedade mais religiosa ou defender os interesses da Igreja. O cristão, como qualquer outro, mediante o compromisso político se preocupa exclusivamente em realizar o bem político comum dos cidadãos. Isto é, ‘o conjunto das condições da vida social que permitem, tanto aos grupos como a cada membro, alcançar mais plena e facilmente a própria perfeição’”.


Francisco Paes de Barros é radialista

Radio Capital

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