quarta-feira, 18 de outubro de 2017

Em Aparecida, fiéis pretendem anular voto e desconhecem MBL


Rovena Rosa

Ao menos 31% dos presentes em Aparecida pretendem anular o voto em 2018

No dia 12 de outubro, milhares de fiéis visitaram o santuário de Aparecida do Norte, em São Paulo, para comemorar os 300 anos do surgimento da imagem de Nossa Senhora Aparecida, santa considerada padroeira do Brasil.

Além dos católicos, pesquisadores da Unifesp e da USP participaram das festividades com o objetivo de traçar um perfil político dos frequentadores do evento religioso.

Os resultados obtidos a partir de 363 entrevistas realizadas no local refletem o desânimo e a desconfiança do brasileiro com a política institucional: ao menos 31% dos presentes em Aparecida pretendem anular o voto nas eleições de 2018.


A festividade, uma das mais importantes para o catolicismo brasileiro, contou com poucas autoridades. O presidente Michel Temer não compareceu - e por isso foi criticado pelo reitor do santuário - e enviou apenas como emissários os ministros Gilberto Kassab (Ciência e Tecnologia) e Antonio Imbassahy (secretário de governo da Presidência). O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, também esteve na cerimônia. Todos os políticos presentes, porém, foram vaiados pelos participantes ao serem anunciados.



Entre os que desejam votar, 19% depositam sua confiança em Lula e 11% em Jair Bolsonaro. Em seguida aparece o prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), com 7% das intenções de voto, Marina Silva (6%), Ciro Gomes (3%) e Geraldo Alckmin (3%).



A pesquisa, coordenada por Esther Solano e Pablo Ortellado da Unifesp e por Marcio Moretto, da USP, também sondou a confiança dos fiéis em três movimentos sociais distintos: o Movimento dos Sem Terra (MST), Movimento Brasil Livre (MBL) e o Movimento Passe Livre (MPL).



A maior parte (77%) dos entrevistados disse desconhecer o MBL, recentemente envolvido episódios polêmicos. Já o MPL, protagonista dos movimentos pela tarifa zero em 2013, é conhecido por metade dos entrevistados e tem a confiança de 27% deles. A maior desconfiança é registrada contra o MST: 52% não confiam e só 15% disse desconhecer o movimento social.



Comparação com os cristãos evangélicos



Os pesquisadores também compararam os perfis dos católicos em Aparecida com o dos evangélicos na Marcha para Jesus, realizada em 15 de junho. De forma geral, os perfis políticos dos dois grupos são similares, com posições em geral conservadoras ou moralistas.



A tentativa de traçar o perfil político deu-se a partir de 25 afirmações sobre temas morais, como o direito ao aborto, a pena de morte ou o porte de armas. De forma geral, as opiniões dos dois grupos coincidiram dentro da margem de erro. Apenas em quatro questões surgiram diferenças importantes.



Os participantes da Marcha para Jesus, cuja maioria do público é evangélico, são mais resistentes à adoção de cotas raciais, ao direito de trans usarem o banheiro feminino e em relação a casais LGBT constituírem família. Os católicos de Aparecida, porém, são mais favoráveis à pena de morte.



A execução do criminoso foi defendida por 59% dos entrevistados em Aparecida do Norte, ante 48% na marcha para Jesus.



Já a afirmação de que "a união de pessoas do mesmo sexo não constitui família" teve a concordância de 59% dos evangélicos, contra 48% de aprovação entre os fiéis de Aparecida.



Questionados se a adoção de cotas raciais seria uma boa medida para que a população negra tenha acesso à universidade, mais católicos (56%) do que evangélicos (42%) concordaram.



Por fim, 67% dos evangélicos é contra o uso do banheiro feminino por travestis. A resistência um pouco menor em Aparecida, onde 55% concordaram com a afirmação.



Os pesquisadores apontam, ainda, para a diferença etária dos dois públicos. Na Marcha para Jesus, a média de idade era de 34 anos, ante 44 entre os católicos. Além disso, apesar do perfil econômico também ser parecido, os católicos tiveram menos acesso à educação formal: 19% não completaram o Ensino Fundamental - na Marcha para Jesus, o índice ficava em 3%. A pesquisa contou com apoio da Fundação Friedrich Ebert.


Carta Capital



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