Um ponto de partida possível é compreendermos que não existe uma bancada evangélica. Existem pastores e lideranças de igrejas que professam posições de direita / extrema direita e buscam se apresentar como representantes da massa evangélica e protestante. O que temos na verdade são deputados de direita que se reclamam do Evangelho. Muitos dos quais se aproveitam da exploração descarada de temores básicos presentes na população. Medo da morte, da pobreza, de comportamentos morais e sexuais considerados “desviantes” e que são por eles demonizados e até medo “do comunismo”...
Acho que duas questões [ao menos] dificultam nossa ação em direção a essa população: nosso preconceito em relação ao empreendedorismo popular e a dificuldade de diálogo com a massa e a intelectualidade religiosa. O empreendedorismo popular não deve ser assimilado ao “buscar ser patrão”. Ser patrão de si mesmo na selva urbana é de forma expressiva uma reação às poucas perspectivas de emprego e a ocupação de espaços de serviços populares. É, no fundamental, uma luta pela saída da miséria e da pobreza.
Tenho dificuldade de entender porque vemos os pequenos produtores rurais como aliados naturais e não os pequenos empreendedores populares. São também vítimas da exploração capitalista. E necessitam de organização para reivindicar e de políticas de apoio para sua sobrevivência e consolidação.
Em termos culturais seria fundamental conhecer melhor o mundo evangélico e buscar estabelecer um dialogo a partir do que podemos ter em comum. O respeito ao diálogo e ao próximo, a solidariedade, a busca de melhores condições de vida, a busca da felicidade. Imagino que ao menos em tese, essa base cultural das religiões está muito mais próxima dos ideais da esquerda do que da pregação muitas vezes fascista e totalitária de muitas de suas atuais lideranças. O discurso de muitas delas não se distingue, na verdade, do fanatismo religioso que orienta a Al Qaeda e o exército islâmico. .
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