domingo, 24 de setembro de 2017

Minha internação

Arapuca pra doido 
Esses últimos dois dias foram horríveis. Em meu trabalho como jornalista, fui fazer uma entrevista numa clínica psiquiátrica e tudo correu normalmente. Fiz perguntas normais e estas foram respondidas de forma convencional. O resultado ia ser tedioso como quase todas as matérias. 

Quando saí de lá, me dirigi à parada de ônibus em frente à clínica para ir pra casa. Foi quando dois enfermeiros enormes vieram, me pegaram e me levaram de volta para dentro. Eu berrava e esperneava e, quanto mais fazia isso, mais eles tinham certeza de que eu fugira de um dos quartos. 

Eu disse que era repórter do Sul21 e um dos enfermeiros respondeu que ele era o Renato Portaluppi. O outro disse que era o Gilmar Mendes. Riram de mim. Passei a dar chutes e cabeçadas na porta e eles nem se voltaram para me olhar, só disseram de forma bem audível: ih, esse surtou de vez. 

Me deram umas injeções. Dormi, é claro. Quando acordei, tinham servido um café com pão e manteiga. Todos os talheres eram de plástico, que merda, eu estava a fim de fazer em pedacinhos o primeiro que entrasse. Roguei para falar com a Elena, com minha irmã médica, com meus filhos, com o bispo, mas eles tinham pegado meu celular e não queriam devolver. Também não quiseram me levar no passeio dos loucos devido a meu estado nervoso. 

Enfim, após 48 horas, consegui atrair um médico até meu quarto. Ele me conhecia dos blogs e do facebook. Pensou que eu postava sempre ali da clínica mesmo. Tive que explicar que costumava escrever em casa ou no trabalho, que deus e minha chefe me perdoem. Pedi por meus familiares e afinal vieram a Elena, a Iracema e a Bárbara. 

O médico pediu desculpas e disse que a parada na frente da clínica era um fake, nenhum ônibus parava ali, era só para pegar os fujões, mas que eu, boca-aberta, tinha ficado esperando e já viu, pensamos que era um dos nossos. Agora, estou aqui digitando pra vocês já no meu celular, a camisa-de-força não é tão apertada assim. Consegui até coçar o sovaco entre um gol e outro do River.



Miltom Ribeiro Sul21


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