sábado, 12 de setembro de 2015

Michel é nossa voz: irrestrita solidariedade a Michel Zaidan

Wagner Braga Batista*

Nosso querido Michel, mais uma vez, é alvo dos costumeiros ataques das oligarquias pernambucanas.

O incansável paladino das boas causas, mais uma vez, defronta-se com espectros da nossa cultura política. Com horrores, que se disseminam pelo nosso país. Que assolam os quatro ou cinco poderes constitucionais, as chamadas instituições republicanas e chegam às pirambeiras íngremes, onde estão empoleiradas algumas de nossas centrais sindicais e associações de classe.



O bom Michel dos tempos de bom combate, sobreviveu. Subsistiu às lutas de resistência, à penosa defesa das liberdades políticas, da democratização da universidade e da construção dos canais de participação da sociedade civil no embate contra o regime militar. Incansável, reúne as gratificantes energias trazidas do bom combate.



Participamos da recomposição da antiga ADUPB-CG, de árduas refregas para que não se transformasse numa associação recreativa, e do Congresso, no qual se definia a configuração da ANDES. Esta gente, que ora disputa o espólio do PT, pretendia rifar a democracia da entidade sindical no nascedouro.



Michel, por conta de seu descortino crítico, quase foi brindado com a primeira moção de repúdio da ANDES.



À época, Aloisio Mercadante já exercitava seus dotes. Como notável ameba, que se encaixa em qualquer recipiente, inseria-se na direção do sindicato como posteriormente em quaisquer cargos ou futuros governos. Com a mesma maleabilidade com que entra e sai. Assim como se desvencilha de convicções, de aloprados, de José Dirceu e até do camarada Lula, no momento oportuno. Com sua capacidade de amoldar-se às circunstâncias, prenunciando esmagadora derrota em eleições democráticas, livres e diretas, recorreu à metodologia do politbureau soviético. Vejam só !



A denúncia da tentativa de enfiar goela abaixo dos professores a escolha indireta de seus dirigentes rendeu a Michel a ira dos revolucionários de então. Derrotados na votação, elegeram seus inimigos ocasionais, os defensores da inquestionável democracia direta com a participação de todos professores.



Diga-se, a massa inexpressiva. Aquela mesma, que nas greves e mobilizações dos anos 1980 conferia legitimidade e lastro ao sindicato nacional, homologa à atual parcela atrasada, incapaz de acompanhar a dinâmica da vanguarda classista em viagens aéreas, na militância das diárias em associações esvaziadas, assembleias de meia dúzia e petits comités, que regem os destinos da humanidade.



Michel sempre teve este mérito. Não se curvar frente o golpismo e se abster do questionamento de práticas lesivas à democracia.



Enquanto professor do antigo Departamento de Sociologia, do Centro de Humanidades, do campus II, da UFCG, participou ativamente do processo de democratização da universidade. Sem hesitação, denunciou os conchavos que asseguravam a sobrevida dos revolucionários da Nova República, articulados com o que havia de mais atrasado na universidade. Interpelou o falso radicalismo emergente, gerado em proveta, inseminado ao abrigo das ¨liberdades burguesas¨, tão depreciadas, mas que lhes deram luz. Padeceu a truculência e a infâmia, utilizadas como métodos de intervenção política, para desqualificar e intimidar interlocutores. Diga-se, de modo análogo ao golpismo de direita, observado nos dias atuais.



Nesta conjuntura, amadurecemos politica e sindicalmente, graças a profícuo convívio com o velho Raimundo Santos. Hoje, algumas opções políticas nos separam. No essencial, continuamos juntos, valorizando a democracia substantiva, móvel da construção do socialismo.



Sem temeridade, na última década, Michel tornou-se um dos mais argutos críticos das manobras, desmandos e volúpia das oligarquias pernambucanas. Especialmente da trajetória que culminou com a ascensão de Eduardo Campos. Das disputas familiares, da luta sem quartéis pelo butim de Arraes. Ao ponto de se despojarem de qualquer escrúpulo para espetacularizar acidente trágico, transformando-o em autêntico festim macabro.



Suas críticas ao patrimonialismo e aos diversos estratagemas empregados para instrumentalizar o aparelho de Estado como fonte de apropriação privada de recursos públicos, renderam-lhe inúmeras ameaças e processo judicial.



Incontestes, seus questionamentos ganharam força, com a simpatia e a adesão de diferentes segmentos da sociedade civil pernambucana. Sem se deixar intimidar, Michel não renunciou às suas convicções, à defesa da democracia substantiva, do reconhecimento e da ampliação de direitos sociais inadiáveis. Michel não esmoreceu. Continuo firme na luta desigual contra a ditadura sutil de oligarquias, que controlam parcela expressiva da imprensa, tornaram-se hegemônicas na esfera legislativa, exercem influência sobre o judiciário e gozam prerrogativas próprias do poder Executivo.



Com seus procedentes questionamentos, Michel Zaidan nos traz à lembrança a ação, aparentemente solitária, de D Helder Câmara.



Frente ao silencio imposto pela ditadura, D Helder parecia pregar na solidão do deserto. Como vimos, com o passar dos anos, sua voz ecoava fundo nos nossos corações.



#Michel é nossa voz: irrestrita solidariedade a Michel Zaidan.



* Wagner Braga Batista é professor aposentado da UFCG


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...