Fernando Graziani
Morreram assassinadas no Brasil 50.108 pessoas em 2012, mais de 137 por dia. Crimes contra o patrimônio foram 566.793 (mais de 1,5 mil diariamente). São esses alguns dos números mostrados pelo sétimo Anuário Estatístico do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Os dados são enviados pelas próprias delegacias das 27 unidades da federação. E há muitos estados que descumprem as metas de apuração do anuário, portanto, os números são certamente mais elevados do que os oficiais.
Com os dados, uma conta fica fácil de fazer. Durante os noventa minutos de uma partida de futebol, enquanto seu time está lá tentando ganhar e você fica torcendo, morrem assassinadas no Brasil entre oito e nove pessoas. É esse o cenário real do país, que também tem cerca de 50 mil mortes no trânsito por ano e registrou mais de 50 mil estupros consumados em 2012.
O que se viu nas arquibancadas entre torcedores de Atlético-PR e Vasco, neste domingo, é, então, apenas o retrato de uma sociedade extremamente violenta. Não foi nenhuma novidade. As cenas medievais dentro ou fora dos estádios são corriqueiras, como são nas ruas, nas padarias, nas farmácias, nos bancos, nas lojas, nas casas. O futebol não pode ser tratado como uma ilha da fantasia e nem a violência presente nele têm que ser supervalorizada. Ela, a violência, está completamente inserida no nosso dia a dia. Como ter o esporte mais popular do Brasil livre de tais episódios se estamos num dos lugares mais inóspitos do planeta?
Frequenta a arquibancada de um estádio todo tipo de gente, de criminosos a pessoas de bem. A generalização de que todo torcedor organizado é bandido, por sinal, é um equívoco comum a todas as generalizações. Assim como achar que todo torcedor “comum” é santo. Não é. A tentativa de acabar com as organizadas, por sinal, é risível e populista. Mais do que isso: é inócua. Não se resolve nada porque as pessoas vão continuar se associando, tendo um novo nome ou não tendo nome nenhum.
Muito mais relevante seria exigir, de verdade, que todas as entidades de torcedores fossem obrigadas a registrar seu integrantes. Não está registrado, não entra. Identificados numa briga, que se puna como prevê o Código Penal. Se comprovado auxílio do clube (ou não, pode ser uma punição objetiva, vale a discussão), perda de pontos, porque ficar sem mando na sua sede ou jogar com estádio fechado é outra barbaridade que não gera qualquer efeito produtivo.
A revolta com as imagens deste domingo (são chocantes e nojentas e geram esse sentimento de indignação mas, neste caso, brigou exatamente quem quis) precisa também ser direcionada não apenas aos criminosos que partiram para o combate em Joinville, mas também para a falta de competência do Governo Federal, do Ministério do Esporte, do Congresso Nacional, do Poder Judiciário, do Ministério Público, dos Estados, da Polícia, dos dirigentes de clubes, da CBF e do STJD. Todos sabem exatamente o que precisam fazer (nota de repúdio não serve para nada), mas o que têm realizado é insuficiente para amenizar a história do cenário grotesco que o futebol do país com mais de 50 mil mortes por ano escreve.
Em tempo: se você não conhece a realidade da violência no Brasil, faça o download gratuito do documento que cito no primeiro parágrafo, já com o link. Gaste algum tempo com ele. É estarrecedor.
Carta Capital
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