sexta-feira, 1 de novembro de 2013

O marxismo da adversidade: Hannah Arendt e Walter Benjamin




O painel Transformações da teoria marxista, no II Congresso Marx, reuniu investigadores interessados em dois filósofos: Hannah Arendt e Walter Benjamin. 

Cristina Portella

Lisboa - O sugestivo painel “Transformações da teoria marxista”, no II Congresso Karl Marx, reuniu investigadores interessados em dois grandes filósofos que, apesar de não poderem ser definidos como marxistas, a este pensamento não foram indiferentes. Trata-se de Hannah Arendt e Walter Benjamin.

Sofia Roque, doutoranda em Filosofia pela Universidade de Lisboa, considera que “no legado de Hannah Arendt encontramos uma original tentativa de pensar o presente sem se estar condicionado pelas condições do presente”. Para a filósofa alemã, só seríamos contemporâneos daquilo que a nossa compreensão alcançar.

“Afirmando a capacidade criadora da ação humana, ligada a uma faculdade capaz de formulação de juízos originais sobre o mundo, Hannah Arendt não anuncia nas suas obras a possibilidade da humanidade salvar-se de si mesma, antes defende que é o próprio mundo, enquanto artifício humano, que tem de ser transformado – essa é a resposta política, em todos os seus sentidos”, escreveu Sofia.

No trabalho apresentado, Sofia procurou refletir sobre a condição humana a partir do estudo de Arendt e “o seu estreito diálogo crítico com o pensamento de Karl Marx”. “Considerar a definição da política como a experiência performativa e positiva da liberdade, criticar a relação entre necessidade e liberdade, bem como uma visão determinista da História, e questionar a problemática distinção entre o social e o político, são alguns passos da investigação sobre a qual se baseia esta comunicação.”

Um dos livros sobre os quais a estudiosa de Arendt se debruçou foi A Condição Humana. Nele, encontraríamos a “elaboração de um novo conceito de poder que recupera e implica novas noções, como a do espaço público como espaço de poder; a da legitimidade da organização comunitária assente num contracto social original; a do ser humano como animal político; a da esfera da ação humana como a esfera política e a relação desta com as outras atividades humanas, a saber, o labor e o trabalho”.

O marxismo pela lente de Benjamin

Fabio Mascaro Querido, doutorando em Sociologia pela Universidade de Campinas, dedicou-se à obra de Walter Benjamin, mas pelo olhar de dois conhecidos intelectuais e militantes trotskistas, Michael Löwy e Daniel Bensaïd. Além do interesse pelo filósofo alemão, tinham muitos outros pontos de contato em sua história de vida.

Herdeiros do marxismo de Lênin, Rosa Luxemburgo e Trotsky, acabam por encontrar nas reflexões de Benjamin uma espécie de “bússola”, por meio da qual se orientar em meio às mudanças históricas do capitalismo global e ao refluxo das lutas sociais no pós-1968 em França. Militantes da Liga Comunista Revolucionária (LCR), seção francesa da IV Internacional, e vivendo desde os anos 60 em Paris, ambos inscrevem-se, segundo Fabio, numa mesma “geração intelectual” cuja marca fundamental foi a “passagem” de um mundo no qual a revolução social parecia iminente para outro no qual os horizontes pareciam cada vez mais estreitos.

Para enfrentar esta “passagem” de crise do pensamento marxista, o marxismo “herético” e “infiel” de Walter Benjamin parecia uma saída. Bensaïd afirmou: “A fim de nos aventurarmos neste labirinto, nós escolhemos Walter Benjamin, não como guia, mas como modesto passador. Quem, melhor que este outsider errante e rebelde, poderia religar as pistas da linguagem, da história e da política na encruzilhada das grandes tradições culturais europeias?” “Em Löwy, do mesmo modo, o 'marxismo da adversidade' de Benjamin atuava como meio de passagem, de abertura a novos horizontes, em uma palavra, como resposta ao enfraquecimento da esquerda política radical”, explicou Fabio.

“Para Michael Löwy, a originalidade do pensamento de Walter Benjamin decorre de sua capacidade incomum de articular o marxismo (do qual ele se aproximou em meados da década de 1920), às raízes românticas e utópico-teológicos de suas reflexões de juventude. Segundo ele, marxismo libertário, romantismo e messianismo judaico combinam-se, no pensamento benjaminiano, no contexto de uma crítica radical às ideologias do progresso e ao paradigma civilizatório moderno.”

Carta Maior

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