Os evangélicos
cacifaram pastores como eficazes cabos eleitorais. Com a condenação de Cunha,
fica o desafio para a comunidade: se não mudar, trai a vocação da reforma
protestante.
O ex-deputado
Eduardo Cunha foi condenado a 15 anos de prisão num dos inquéritos pelos quais
responde, fruto de denúncia da operação Lava Jato. O juiz de primeira instância
conseguiu condenar o peixe grande, responsável pelo principal movimento do
golpe, o impeachment. Esse condenado carregou os anseios e, agora, carrega a
frustração de parcela significativa da população evangélica.
Cunha foi o
evangélico que, ao lado da ex-ministra do meio ambiente do governo Lula, Marina
Silva, e do ex-governador Antony Garotinho, alcançou maior destaque entre os
evangélicos no que tange ao exercício do poder político na República. O poder
político, outrora desprezado por esse segmento da cristandade, conhecido como
os evangélicos, tornou-se um anseio de parte destes; principalmente, depois de
emergência da Teologia da Prosperidade, uma teologia que entende que o poder
econômico e político são provas da benção divina.
Marina Silva
mergulhou nas sombras geradas por suas decisões, no pleito que elegeu Dilma
Roussef, quando apoiou o candidato que foi derrotado, por tudo o que isso
passou a significar; e seu partido demonstrou um nível de incoerência interna e
de incapacidade de tomada de posição imperdoáveis, para quem queira, de fato,
fazer parte decisiva do jogo político pela democratização da nação.
Contudo,
Marina Silva, sempre bem cotada nas pesquisas de opinião pública, em relação a
candidaturas à Presidência da República, ainda é alimento para tal desejo,
embora, nestes momentos de tensão, porque passa o país, tenha perdido a chance
de se tornar uma protagonista expressiva e de demonstrar a liderança necessária
para a retomada e sustentação da democracia no país.
Eduardo Cunha,
entretanto, chegou lá! Tornou-se Presidente da Câmara Federal, posto
extremamente importante, que o fez um dos quatro no comando do poder
institucional no Brasil, ao lado dos Presidentes da República, do Senado e do
STF. Sua vitória, assim como o crescimento expressivo da chamada "bancada
evangélica", com uma pauta anacrônica e moralista, tornou-se símbolo da
eclosão de um outro protagonista na República: a população evangélica; e
cacifou pastores como eficazes cabos eleitorais.
Agora, o
ex-deputado Eduardo Cunha foi condenado, ainda que, em primeira instância,
embora, ainda influencie o poder; um pastor, nesse contexto, foi indiciado; e a
bancada chamada de evangélica é tida, por muitos, como parte do que há de pior
no Legislativo.
Nas próximas
eleições, quando e se houver eleições, mais evangélicos, dado ao constante
crescimento do segmento, se apresentarão; entretanto, com a decepção
generalizada e o crescimento expressivo dos resistentes ao golpe, há, cada vez
mais, espaço para outro discurso e configuração ideológica. Fica o desafio para
a comunidade: Se não mudar, trai a vocação da reforma protestante. E morre como
agência de progresso para a sociedade.
** Pastor
Ariovaldo é ex-presidente da AEVB (Associação Evangélica Brasileira) e um dos
fundadores da Frente de Evangélicos Pelo Estado de Direito, uma resposta ao
grande número de crentes que defendem a justiça, o direito e a democracia.
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