O bravo Leonel Brizola dizia com todas as letras que se eleito presidente da República cassaria a concessão da Rede Globo de televisão. Difícil duvidar do cumprimento dessa promessa, por mais interesses poderosos que viesse a contrariar, pois certamente não faltaria coragem a um homem de sua têmpera, que entrou para a história das lutas democráticas do país ao comandar a campanha da legalidade pela posse de Jango, entrincheirado e de armas na mão no seu Rio Grande.
Nunca fui brizolista, mas sempre é importante enfatizar o quanto Brizola queria bem ao povo. Por isso, desde que a organização dos Marinho despontou como inimiga do Brasil e dos brasileiros, ele percebeu que era preciso combatê-la sem tréguas. Suas lições de como enfrentar a cabeça do monopólio midiático, infelizmente, foram desprezadas pelos governos de Lula e Dilma.
Mas não há mal que sempre dure. O império romano, considerado invulnerável por mais de mil anos, acabou ruindo. No Brasil, assim que os golpistas forem postos para correr do Planalto, os democratas têm o dever de não repetir erros crassos do passado. Não haverá lugar para tergiversações no que se refere à urgentíssima democratização das comunicações. Para isso, basta a regulamentação dos artigos 220, 221, 222, 223 e 224 da Constituição.
Dentre outros avanços, esses artigos preveem a proibição da propriedade cruzada dos meios, a divisão dos sistema de radiodifusão entre os espaços estatal, público e privado e a obrigação de um conteúdo mínimo de produção local e regional. Só essas medidas, aliadas à vedação da concessão de canais a políticos, já teriam o condão de pavimentar o caminho para o fim da concentração das plataformas nas mãos de meia dúzia de famílias e para um sistema de comunicações sintonizado com uma sociedade complexa como a nossa.
Mas com a Globo a história é diferente. Sua ficha corrida merece uma resposta exemplar por parte da cidadania, um acerto de contas civilizatório. Não é necessário repetir aqui a sucessão de investidas globais ao longo da história contra os interesses nacionais, a soberania popular, as boas causas do povo brasileiro e o regime democrático. Um artigo que escrevi recentemente ("A trajetória da maior inimiga do Brasil e dos brasileiros"), listando através de uma linha do tempo 22 ações nefastas da Globo viralizou na internet. E isso não acontece por acaso.
Existe clima na sociedade para um debate sério sobre a cassação da concessão da Globo. Haja vista o que ocorre nas manifestações populares de rua, das quais a Globo foi banida. Haja vista a visão crítica de formadores de opinião de A a Z sobe a Globo. Também no povão não são raros os descontentes com o papel da emissora, pois sentem na pela a criminalização da pobreza e de suas lutas. Mas é preciso insistir no esclarecimento do conjunto da população sobre um ponto complicado.
Muita gente não sabe que os Marinho não são donos da Globo; que a família Sayad não é proprietária da Band; que a Record e o SBT não pertencem aos bispo Macedo e a Sílvio Santos, respectivamente. Todas são concessões públicas do Estado brasileiro, uma vez que operam no espaço eletromagnético do país. O dia que o Brasil contar com um governo dotado de coragem política suficiente para elevar esse debate ao topo da agenda, o fim da Globo se tornará um imperativo para o resgate e a consolidação da democracia no Brasil.
Quando todos souberem que a concessão da Globo serviu apenas para incluir os irmãos Marinho na lista dos homens mais ricos do planeta, sem qualquer contrapartida pública, a chances de conquistarmos um país mais justo e igualitário serão infinitamente maiores. Ou o Brasil acaba com a Globo, ou a Globo acaba com o Brasil.
Brasil 247
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