Fernando Brito
Numa ação despropositada, tomada contra alguém que não se recusa a depor, que
não foi sequer intimado a isso e que não tem poder de interferir em nada nas
investigações, a Polícia Federal levou, esta manhã, o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega para prestar depoimento
forçado.
É a nova fase do que agora se chama “Justiça” no Brasil: primeiro humilha-se
a pessoa, depois se arranja alguma suposição ou um delator bem encrencado
e…pronto: salta aí uma condenação para um petista.
Que diferença para gente como Eduardo Cunha, que é um comprovado negocista,
com uma dezena de denúncias, recibos, extratos e investigações internacionais
a sustentar suas culpas e que, apesar da medida drástica de cassarem-lhe o
mandato (na prática, o efeito da suspensão) permanece livre destes
constrangimentos, embora cheio de poder para interferir em tudo, inclusive
indicar ministros ao governo Temer.
Infelizmente, é só um ensaio para o que vem aí nos próximos dias.
É essencial para o usurpador que as suas propostas de corte de direitos
sociais e trabalhistas e de desmonte da máquina pública dividam o noticiário
nos primeiros dias de sua aventura ilegítima.
Fala até o Estadão que Temer irá à TV dizer que apoia e ajuda a Operação Lava
Jato que será tratada “como um “patrimônio nacional” que precisa ser
preservado e ter autonomia para prosseguir com suas apurações”. Diz o jornal
que o ” objetivo com o gesto é tentar manter uma base de sustentação popular
à sua gestão”.
Imaginem se isso fosse verdade e Temer ali no estúdio:
Brasileiros e brasileiras. Meu governo apoia e incentiva a Operação Lava
Jato, mesmo que prenda meu ministro do Planejamento, Romero Jucá, mesmo que
casse o padrinho do meu golpe, Eduardo Cunha, mesmo que leve meus ministros
Henrique Eduardo Alves e Geddel Vieira Lima, que também andam por lá. Meu
apoio à Lava Jato é tão grande que até mesmo podem investigar a mim, que sou
citado nos depoimentos e delações… É tanto que…epa! O que é que esse japonês
está fazendo aqui no estúdio!?!?
Claro que isso não vai ocorrer, não é? A nova turma do poder, tirando o
mártir Eduardo Cunha, não vem ao caso.
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