quinta-feira, 24 de julho de 2014

Pertencer à cidade é uma construção constante


Luiz Augusto Amoedo

Recentemente a Tribuna publicou reportagem mostrando que a violência contra o patrimônio público e privado não decorre somente por motivos econômicos, a exemplo de roubar fios de cobre da rede elétrica, para revendê-los. Ouvindo antropólogos, a matéria mostra que aqueles que depredam a cidade não têm o sentimento de pertencer ao espaço social que habitam.

Os atos de violência são para marcar, deixar explícito, de que a cidadania está fora de alcance e por isso mesmo é preciso marcar uma outra presença na cidade e de modo violento, para que todos tomem conhecimento de uma existência diferenciada.

Mas há também aqueles que, embora não usem de violência, reclamam da pouca cidadania que lhe é oferecida, principalmente no que concerne os serviços públicos, nas áreas de educação, saúde, transporte, lazer, segurança etc.

Nesse quadro, em que aparecem várias discórdias em relação ao indivíduo ser de um determinado lugar, a questão do direito à cidade se torna provocativa tanto para os que ainda se permitem sonhar quanto para os descrentes, e mais ainda para o poder público.

A pergunta que surge, então, é: como fazer com que a população participe no nível dos interesses dos problemas do bairro, da rua, do quarteirão, do conjunto habitacional? Como exercitar o nível de participação dos cidadãos, de uma forma mais ampla que a simples defesa dos seus interesses?

E mais ainda, como cobrar, protestar e reivindicar do poder público uma atenção maior à cidade, sem que isso implique um ônus pesado para o cidadão, cuja única fonte de receita provém do trabalho e não da remuneração do capital.

As limitações que encontramos para responder a essas questões são de ordem política, econômica e cultural. É preciso consolidar uma forte participação nas coisas da cidade de modo que venhamos a se tornar um interlocutor reconhecido pelo Estado. Nesse sentido, as instituições civis têm um papel preponderante, como caixa de ressonância dos cidadãos, hoje às voltas com sua capacidade monetária para enfrentar um elevado custo de vida e surpresas tributárias, bem acima da sua capacidade contributiva.

Estamos acostumados a viver na cidade pensando sempre na apropriação individual, no espaço do nosso grupo social.

Esquecemos das coisas mais simples que podem encaminhar a grandes transformações: formas de solidariedade que nos obriguem a desenvolver a nossa capacidade de conviver com as diferenças.

O diálogo é o caminho a ser seguido para que todas as pessoas que vivem na cidade se sintam cidadãos. Na verdade, todos têm direito à cidade e têm direito de se assumirem como cidadãos, o exercício da cidadania é uma construção, com base na comunicação entre o poder público e o homem da cidade.


Tribuna da Bahia

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