terça-feira, 3 de junho de 2014

O Tempo e as Jabuticabas

Rubens Alves 

Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver

daqui para frente do que já vivi até agora. Sinto-me como aquela

menina que ganhou uma bacia de jabuticabas. As primeiras, ela

chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço.


Já não tenho tempo para lidar com mediocridades.

Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflados.

Não tolero gabolices. Inquieto-me com invejosos tentando destruir

quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte.

Já não tenho tempo para projetos megalomaníacos.

Não participarei de conferências que estabelecem prazos fixos

para reverter a miséria do mundo. Não quero que me convidem

para eventos de um fim de semana com a proposta de abalar o milênio.

Já não tenho tempo para reuniões intermináveis para discutir estatutos, normas, procedimentos e regimentos internos.

Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas,

que apesar da idade cronológica, são imaturos.

Não quero ver os ponteiros do relógio avançando em reuniões

de 'confrontação', onde 'tiramos fatos a limpo'.

Detesto fazer acareação de desafetos que brigaram pelo majestoso cargo de secretário geral do coral.

Lembrei-me agora de Mário de Andrade que afirmou: 'as pessoas

não debatem conteúdos, apenas os rótulos'.

Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a

essência, minha alma tem pressa...

Sem muitas jabuticabas na bacia, quero viver ao lado de gente

humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleita antes da hora, não

foge de sua mortalidade, defende a dignidade dos marginalizados,

e deseja tão somente andar ao lado do que é justo.

Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade, desfrutar desse

amor absolutamente sem fraudes, nunca será perda de tempo.'

O essencial faz a vida valer a pena.


Facebook Gisélia Potengy

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