sábado, 21 de junho de 2014

Caatinga: patinho feio dos biomas do Brasil


Quando falamos em Caatinga, a maioria das pessoas pensa em um gado morrendo de sede sob um solo rachado, mas não é nada disso. O bioma é a região semiárida com maior biodiversidade do planeta e, por falta de proteção, está ameaçado: 46% da Caatinga já foi desmatada e, apenas, 7,5% do que resta está protegido

Débora Spitzcovsky

Na língua tupi, Caatinga quer dizer mata branca, mas para a maioria das pessoas a palavra é sinônimo de seca e pouca vida. Puro engano: o bioma é a região semiárida mais rica em biodiversidade do planeta.

Segundo o Ministério do Meio Ambiente, na Caatinga vivem:

- 932 espécies diferentes de plantas;
- 591 de aves;
- 241 de peixes;
- 221 de abelhas;
- 178 de mamíferos;
- 177 de répteis e
- 79 de anfíbios.  Ufa...

E ainda tem mais: várias delas são endêmicas, ou seja, não existem em nenhum outro lugar do mundo. Só para ter uma ideia, o índice de endemismo entre os peixes, por exemplo, chega a 57%. Bastante, né? E, se a Caatinga desaparecer, todas essas espécies também estarão extintas para sempre.

Então, por que o bioma é tão desprezado pelos brasileiros? O biólogo Bráulio Almeida Santos, do Centro de Ciências Exatas e da Natureza da Universidade Federal da Paraíba (CCEN/UFPB), explica. "A Caatinga sempre foi um patinho feio porque é comparada a biomas como Amazônia, Mata Atlântica e Cerrado. Nessa competição, seu número de espécies descritas pode mesmo parecer pequeno, mas temos que lembrar que estamos falando de regiões do Brasil, que é o país com maior biodiversidade do planeta", disse o especialista, durante o quinto encontro do Ciclo de Conferências 2013 do BIOTA Educação, organizado pela Fapesp.

Em uma competição mais leal, quando é comparada a regiões que possuem características climáticas parecidas com as suas, a Caatinga faz bonito. "Perto das áreas desérticas mais bem estudadas da América, ela apresenta bem mais do que o dobro de espécies, além de altos níveis de endemismo. Isso porque 40% do bioma nunca foi inventariado, ou seja, a biodiversidade da Caatinga deve ser ainda maior", conta o biólogo Adrian Antonio Garda, do Centro de Biociências da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (CB/UFRN), que também estava no evento.

DESPREZADA E AMEAÇADA

Enquanto os brasileiros - sobretudo os governantes - não acordam para a importância da Caatinga, o bioma segue correndo sério risco de desaparecer. Sabia que os cientistas já consideram a região como a mais sensível do Brasil às interferências do homem e às mudanças climáticas?

O principal vilão da Caatinga é o famoso desmatamento. Lá, a floresta é devastada, principalmente nos estados do Ceará e da Bahia, para a produção de lenha e carvão vegetal, que abastecem casas e indústrias. Mas há outro problema - um pouco inusitado - que também está ajudando a acabar com o bioma: as cabras e ovelhas. Existem cerca de 17 milhões de exemplares desses animais na Caatinga - é quase um por habitante -, que vivem soltos, comendo (muita!) vegetação.

Juntos, esses e alguns outros problemas - como a prática de queimadas e o mau uso da água - fizeram com que 46% da Caatinga fosse destruída. Resta 54% do bioma, mas apenas 7,5% está protegido. São 113 Unidades de Conservação (UCs) criadas com o propósito de conservar a região, sendo que quase metade delas é particular e, apenas, 9% têm plano de manejo.

Ou seja, muito pouco está sendo feito para proteger a Caatinga. Já está mais do que na hora de mudar essa situação, não?


Planeta Sustentável

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