quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Chico de Oliveira: com Dilma, PT terá mais força no governo



Neste domingo, 22, o PT realiza eleições internas para escolher seu novo presidente nacional, além de definir a composição e a liderança dos diretórios estaduais da legenda. Um dos fundadores do partido, mas desfiliado desde 2003, o sociólogo Chico de Oliveira não acredita em mudanças substanciais na sigla, seja qual for o resultado do pleito.

"O que vai acontecer é que, se a Dilma Rousseff ganhar, o partido terá maior importância do que tem hoje", avalia, ao se referir a um aumento da influência do PT no governo federal em caso de vitória da atual ministra chefe da Casa Civil.

Oliveira saiu do PT por divergências em relação às políticas -consideradas por ele "neoliberais" - implementadas pelo governo Lula à época. Em seguida, ajudou a fundar o PSOL, com o qual também viria a romper posteriormente.

A disputa interna no PT está polarizada entre a corrente Construindo um Novo Brasil, favorita e encabeçada pelo ex-diretor da Petrobrás José Eduardo Dutra, e a oposicionista Mensagem ao Partido, liderada pelo deputado José Eduardo Cardozo (SP).
- Desilusão você só tem no amor (risos). O PT nunca foi minha paixão.

Confira a entrevista com Chico de Oliveira:

Terra Magazine - Qual a importância da eleição à presidência do PT para a definição dos rumos do partido hoje? Haverá mudança ou tudo fica como está?

Chico de Oliveira - Tudo fica como está. Qual é a corrente principal de novo? O ex-Campo Majoritário (NR: agora chamada de Construindo Um Novo Brasil). A única oposição é do José Eduardo Cardozo, que é muito minoritária dentro do partido. Não há mudança e, principalmente, os nomes mais importantes do mensalão farão parte da diretoria (da chapa favorita). Não vai haver mudanças.

A direção do partido continuará subordinada às necessidades políticas do presidente Lula?

Sempre está subordinada. O que vai acontecer é que, se a Dilma Rousseff ganhar, o partido terá maior importância do que tem hoje (dentro do governo).

Por quê?

Porque a Dilma Rousseff não tem história dentro do partido. Ela é isolada; na verdade, ela foi tirada da manga do colete do presidente Lula e ela vai ter que formar quadros para governar.

Para se legitimar no governo perante o PT...

Ela vai ter um governo muito dividido entre a forte influência do Lula, de um lado, e a forte influência dos chefões do partido, de outro. Esse conjunto de gente ao redor da candidatura à presidência do PT certamente terá um poder muito grande.

Até mesmo José Eduardo Cardozo, da oposição, defende a política de alianças do governo. Como vê isso?

Eles não têm como formar maiorias na Congresso sem o PMDB, e o PMDB é austucioso: pode estar preparando uma "boa" para o PT.

Tem também essa aproximação do Ciro Gomes (PSB-CE) com o governador Aécio Neves (MG)...

Exatamente. Estão construindo uma terceira candidatura, alternativa, que pode sair às vésperas da descompatibilização (NR: data limite para os candidatos à presidência da República se afastarem de seus cargos eletivos). Se isso ocorrer, o panorama da eleição presidencial muda completamente.

Em meio às eleições dentro do PT, parece haver uma retomada de um discurso mais à esquerda, que não chega a ser socialista, mas de defesa da atuação do Estado na economia. Qual a sua opinião a respeito?

Isso não vai ter nenhuma importância. O PT se acomodará a qualquer situação, com ou sem o reforço (da atuação) do Estado. Esse reforço não vai depender de nenhuma orientação ideológica, sequer programática. Vai depender das conjunturas econômicas que se apresentam. Pode existir certo discurso, mas não tem efeito prático nenhum.

Isso não pode ser visto como um "afago" eleitoral nos setores mais à esquerda dentro do partido?

Talvez, mas a esquerda (dentro do PT) não tem nenhuma importância. Não decidem eleição, nem decidem lugares na Executiva Nacional... Vão fazer um discurso que agrada a certa audiência interna, mas é só.

Pela avaliação do senhor, não há mais nenhum resquício de ideologia ou ação programática dentro do PT...

Não tem, não tem. Há pessoas que ainda têm suas convicções, mas essas pessoas não tem, sobretudo, influência dentro do partido, nem podem levá-lo para nenhum lado. Permanecem pessoas que se consideram de esquerda, que vibram cada vez que surge uma medida "estatal", mas isso não tem importância nenhuma do ponto de vista dos rumos que o partido toma. O PT é um partido pragmático, que está no poder, quer se manter e fará qualquer coisa para isso.

O PT aproveitou, ou está aproveitando, a crise financeira para se firmar mais à esquerda no espectro político? Ou isso também está subordinado ao pragmatismo mencionado pelo senhor?

Está subordinado. Não tem nada disso. Eles apenas viram, no governo, que em certa conjunturas ou você age ou... e a única mola que age a todo momento são as forças que controlam o Estado, e eles fazem isso. Mas isso não tem nenhuma consequência ideológica, nem programática, nem nenhuma consistência prática. Se a conjuntura mudasse, se o mundo como um todo saísse da crise de forma mais consistente, o neoliberalismo voltaria a dominar. Aliás, ele nunca esteve fora. O PT hoje é um partido neoliberal igual aos outros.

O senhor não vislumbra uma solução para isso a longo prazo?

Não, não vislumbro. Não tem solução. A não ser que outras forças cresçam no Brasil. Mas no horizonte não se vê nada disso.

O senhor parece meio desiludido com a conjuntura política...

Não, eu não sou desiludido, não. Desilusão você só tem no amor (risos). O PT nunca foi minha paixão.

Diego Salmen
Terra Magazine

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