sábado, 20 de maio de 2017
É preciso defender o Estado de Direito
Como é flagrante, não tenho qualquer simpatia pelo governo golpista e ultraliberal de Michel Temer. No entanto, há uma série de enigmas sobre o que ocorre desde a quarta-feira passada, quando o país entrou em Estado de atenção. Vejamos.
No começo da noite do referido 17/5, colunista estrelado do maior grupo de comunicação do país divulgou pela internet que o dono do maior frigorífico do planeta tinha gravado o chefe de Estado do Brasil negociando a compra de silêncio do ex-presidente da Câmara dos Deputados, peça chave no golpe parlamentar que derrubou Dilma Rousseff. Tida como certa, a notícia, que logo inundou os telejornais, causou um terremoto, com debandada nas bases governistas.
Tal como no fatídico 16 de março de 2016, em que a divulgação de conversa privada entre Dilma e Lula reuniu um grupo à frente do palácio para protestar contra o ex-presidente ter sido nomeado para a chefia da Casa Civil, dessa vez protestos anti-Temer na praça dos Três Poderes ganharam projeção nas telinhas país afora. A quem interessava criar o clima de que havia uma demanda popular pela queda do governo?
Nas horas seguintes, enquanto o atual ocupante da cadeira presidencial decidia o que fazer, a pressão pela renúncia alcançava alta temperatura. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, cujo nome circulava como possível sucessor por via indireta, postou na quinta-feira (18) texto no Facebook, repercutido pela mídia por volta da hora do almoço, falando em necessidade de "gestos de renúncia".
Por fim, no meio da tarde, pouco depois das 16h, Temer fez pronunciamento particularmente firme para seus padrões melífluos, em que repetiu duas vezes a decisão de não renunciar. Além de afirmar que permaneceria no posto, o comandante do PMDB exigia que as gravações fossem divulgadas. Três horas depois, quando, por fim, o áudio tornou-se público, pode-se verificar que a principal acusação propalada não se confirmava. A quem interessava, então, forçar a renúncia?
O diálogo entre Temer e Batista contém elementos graves, que podem até mesmo justificar a queda do mandatário. Há indícios de prevaricação e de recebimento de propina. Tudo, no entanto, precisa ser verificado com cuidado e atenção aos detalhes específicos e probatórios, tal como, tenho insistido aqui, deve ser feito em relação ao ex-presidente Lula.
Temer está sentindo na pele a mesma metodologia usada contra Dilma e o PT, mas não será por meio dela que voltaremos à normalidade democrática. Forças que se movem sem mostrar a cara, e cujos interesses não se explicitam, nunca produzem bons resultados. Os democratas precisam fincar pé na defesa do Estado de Direito, da Constituição e da lei.
Folha
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