Tudo é parecido, a começar pelo comportamento da imprensa. Mas deu já para perceber que uma coisa é completamente diferente: a atitude do PT.
No Mensalão, o PT ficou acuado. Agora, como que cansado de apanhar calado, resolveu partir para o contra-ataque. É dentro dessa nova estratégia que devem ser entendidas as palavras de Lula na festa de 35 anos do PT.
Lula falou em pretensões golpistas da oposição, um “atalho” para o poder. E disse que a imprensa está ocupada primordialmente em “incriminar” o PT. Destacou, ainda, o caráter “político”, muito mais que jurídico, da Operação Lava Jato.
Você pode dizer, com razão: esperava-se que o PT renovasse a pantanosa política brasileira, e isso lamentavelmente não ocorreu.
O PT se juntou ao “sistema”, em nome da governabilidade, em vez de mudá-lo, e só a história poderá dizer se foi um gesto brilhante de sobrevivência na selva ou um ato de completa pusilanimidade.
Mas há na argumentação petista, nestes tempos, um ponto incontestável: há um rigor em relação a tudo que diga respeito ao PT que absolutamente não se vê para os demais partidos.
Isso tem pelo menos dois efeitos.
Primeiro, desmoraliza, deslegitima as acusações contra o PT. Mesmo quando elas têm fundamento, a injustiça de tratamento retira a força dos ataques.
Segundo, você acaba dando ao agredido, paradoxalmente, uma aura de perseguido.
As regras têm que valer para todos, para que a luta pela ética não seja farisaica.
Quer dizer o seguinte, trazidas as coisas para o cotidiano.
Enquanto FHC pontificar sobre a moralidade, ele que se elegeu depois da compra despudorada de votos para a emenda da reeleição, ninguém vai levar a sério a pregação anticorrupção veiculada pelas grandes empresas de mídia.
Elas mesmas: enquanto a Globo – flagrada num delito de sonegação milionária – se atrever a dar lições de moral, a hipocrisia estará triunfando.
Ainda em relação à mídia. Enquanto um jornal como a Folha fugir covardemente da obrigação de cobrir o crime fiscal da Globo, ele estará moralmente impedido de falar de esticar o dedo acusatoriamente para os outros.
Você não pode exigir decência quando age indecentemente. Um dos exemplos mais notáveis disso é Aécio.
Ele não explicou o aeroporto de Cláudio. Não se desculpou por ter colocado dinheiro público nas rádios da família, pelas mãos da irmã, como governador de Minas. Não esclareceu como podia falar tanto em meritocracia quando dava grandes empregos a tanta gente de seu círculo íntimo.
E mesmo assim, com todo esse passivo moral, ousa posar de Catão. E só tagarela porque os amigos lhe estendem o microfone continuamente sem que uma única cobrança lhe seja feita.
Poucas coisas demonstram tanto a miséria do jornalismo nacional como nenhuma empresa de mídia haver coberto o caso do helicóptero de um amigo de Aécio flagrado com 450 quilos de pasta de cocaína.
A omissão, aí, só se entende pelo empenho mórbido em poupar o amigo Aécio.
A mesma especulação já foi feita milhares de vezes, mas ei-la novamente: e se o helicóptero fosse de um amigo de Lula?
É por esse conjunto obsceno de coisas que mesmo pessoas sem vínculo com o PT – eu, se querem um caso – não se comovem em nada com as acusações que jorram dos suspeitos de sempre.
Existe apenas uma coisa pior do que não combater a corrupção. É você fingir que está combatendo-a, como em 1954 e 1964 – com finalidades inconfessáveis.
Diário do Centro do Mundo
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