quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

"Evasão fiscal é a principal causa da dívida grega", diz investigador



A causa da dívida grega reside na evasão fiscal que nos últimos 20 anos provocou um prejuízo anual ao orçamento de Estado avaliado entre 12 e 15 mil milhões de euros, disse à Lusa um especialista em Economias de Política Social.

"Todas as medidas de austeridade aplicadas na Grécia desde 2010 são contra os assalariados e reformados e não atingem quem tem o dinheiro", argumenta o professor e investigador Savas Robolis, 65 anos, diretor científico do Instituto do Trabalho (INE), associado às duas confederações sindicais gregas do setor público e privado (GSEE/ADEDY). "No nosso estudo concluímos que existe uma evasão fiscal entre 30 a 35 por cento. Nos últimos 20 anos a evasão fiscal fez perder ao orçamento de Estado entre 12 a 15 mil milhões de euros por ano e no fundo essa é a causa da dívida", precisa professor de Economia das Políticas Sociais na universidade Panteion de Atenas, numa referência ao mais recente estudo do INE "Economia do Trabalho e do Emprego/ Relatório Anual 2011".



"Assim não é de estranhar que exista um elevado défice. Em vez de tomar medidas para diminuir ou enfrentar a evasão fiscal, os decisores foram ao mercado financeiro e pediram empréstimos com elevadas taxas de juro. Com esta política financeira ao longo de 30 anos, é óbvio que a dívida vai acumular-se. E é por isso que estamos na atual situação". Comentador regular nas televisões gregas e articulista em diversos periódicos, Savos Robolis é um investigador respeitado. E bem documentado. "Se analisarmos o orçamento de Estado, cerca de 68 por cento das receitas provêm dos impostos dos trabalhadores e reformados. Não é possível num país como a Grécia, ou Portugal, que o orçamento de Estado viva somente com dinheiro de reformados e assalariados. No fundo, é esse o problema", sintetiza.


Um opção que, segundo o investigador, é ainda anticonstitucional. "No artigo 24, parágrafo d) da Constituição refere-se que neste país cada um deve pagar os impostos de acordo com o seu rendimento. Mas é como se não existisse, é nulo". Em alternativa, tem apresentado "no diálogo público que decorre no país" um programa de quatro pontos "que repito sempre que vou à televisão". E pormenoriza: "intervenção decisiva dos bancos centrais europeus para aceitarem a dívida" dos países mais fragilizados "incluindo a Itália", investimentos no "desenvolvimento público para a criação de postos de trabalho e o relançamento económico", a "redistribuição dos rendimentos" e o "estímulo ao Estado-providência" para garantir a coesão social. "Quando o PASOK estava na oposição aceitou estas propostas, mas já no poder e após as reuniões com a troika, esqueceu-as. E o mercado de trabalho tornou-se uma selva. Como vai ser possível viver nos próximos anos num país como Portugal, Grécia ou Itália? Não é possível", assegura Robolis.


A avaliação da política da troika internacional da Grécia entre 2009 e 2011 é um aspeto decisivo do relatório do INE, onde se conclui que, nos dois últimos anos, a procura interna recuou 16,4 por cento para se situar ao nível de 2003. Sublinha diversos dados alarmantes, mas destaca um que considera particularmente preocupante: "Os investimentos públicos e privados diminuíram na Grécia 38,2 por cento, um recuo ao ano de 1998. Isto é muito sério". O diretor do INE é rigoroso nos números. Recorda que entre 2000 e 2008 a economia grega entre 2000 e 2008 criou 320 mil postos de trabalho, que foram "totalmente eliminados" em 2010-2011. "Tudo o que fizemos ao nível de postos de trabalho durante oito anos foi perdido em dois anos", assevera.


O consultor económico das centrais sindicais anuncia que as suas direções já decidiram convocar uma nova greve geral quando o atual governo de coligação aprovar o de orçamento de Estado para 2012. O executivo de Lucas Papademos prepara-se para aplicar novas e duras medidas de austeridade impostas pelos credores internacionais. Mas Robolis perspetiva um curto "estado de graça" ao novo governo, apesar de o acordo de coligação prever eleições antecipadas. "O anterior governo manteve-se 18 meses, o que se seguirá após as eleições de fevereiro de 2012 talvez resista por um ano. Mas acabará por cair, não é possível manter-se com estas medidas de austeridade", garante. E também prevê "enormes manifestações" em 2012. "Julgo que serão reações mais fortes que em 2011. As famílias gregas estão numa situação limite. E estão a dizer: sempre mais impostos, mais impostos, mais impostos. Assim não podemos viver'".

Globo




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