sábado, 22 de fevereiro de 2014

Das Antigas e das Novas Tábuas


Nietzsche

Ó! Meus irmãos! Ao ensinar-vos que deveis ser para mim criadores e educadores — semeadores do futuro — invisto-vos de uma nova nobreza; não é, na verdade, nobreza que possais comprar como bufarinheiros, e com ouro de bufarinheiros, porque tudo quanto tem preço, pouco valor tem.

O que vos honrará para o futuro não será a origem donde vindes, mas o tempo para onde ides! A vossa vontade e o vosso passo que querem ir mais longe do que vós: cifre-se nisto a vossa nova honra!

Não em terdes servido um príncipe — que importam já os príncipes! — ou em vos terdes tornado muralha do existente para o existente ser mais sólido.

Não em ter-se a vossa linhagem feito cortesã na corte, e me terdes aprendido como o flamengo, a estar durante longas horas à beira do lago: porque saber estar de pé é um mérito nos cortesãos; e todos os cortesãos julgam que ter a autorização de se sentar faz parte da felicidade depois da morte.

Nem tampouco em que um espírito a que chamam santo conduziu os vossos ascendentes a terras prometidas, que eu não elogio; porque no país onde brotou a pior das árvores — a cruz — nada há a elogiar!

E na verdade, onde quer que esse “Espirito Santo” conduza os seus cavaleiros, tais cortejos são sempre... precedidos de cabras, gansos, loucos e tresloucados.

Ó! Meus irmãos! Não é para trás que a vossa nobreza deve olhar, mas para a frente! Deveis ser expulsos de todas as pátrias e de todos os países dos vossos ascendentes.

Deveis amar o país dos vossos filhos: seja este amor a vossa nobreza; o país inexplorado no meio de longínquos mares; é isto que eu digo às vossas velas que procurem e tornem a procurar!

Deveis redimir-vos em vossos filhos de serdes filhos de vossos pais: assim libertareis o passado todo! Ponho por cima de vós esta nova tábua.


Assim Falava Zaratustra; Das Antigas e das Novas Tábuas; parte 12

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