segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Os novos humanistas e a nova catequese



Petrarca (1304-1374): o homem como centro de toda ação e agente de mudanças sociais. 



Políticos e governantes de extração mais humanista, presentes em partidos do campo da chamada esquerda, tais como PT, PCdoB, PSB e PSOL, vem pouco a pouco mudando o jeito de pensar e governar esse país. A prioridade hoje está, finalmente, centrada nas classes menos abastadas e favorecidas. 


Lula Miranda

Uma nova “catequese” se faz necessária. É preciso ter “paciência jesuítica” e explicar, para assim deixar bem claro a todos os cidadãos brasileiros, um por um, do mais rico ao mais pobre, do mais letrado àquele que ainda dá os passos iniciais nas primeiras letras; que existem hoje, de forma cristalina e inequívoca, duas correntes distintas na política brasileira: os humanistas e os patrimonialistas. E essa velha nova catequese é missão para educadores, jornalistas, escritores, religiosos e de todos os homens e mulheres de bem desse país. Vamos a ela, pois.

Aqueles a que chamo aqui de “humanistas” são indivíduos, que, como indica o próprio conceito, priorizam, em seus pensamentos e ações, o ser humano – não o patrimônio ou o capital. São aqueles políticos e governantes cujos planos de governo são voltados para criar e pôr em prática políticas públicas voltadas, em primeiro lugar, para cuidar dos homens, das mulheres, das crianças e dos idosos mais carentes da sociedade. Políticas públicas na área da saúde, da educação, da habitação, da cultura - da seguridade, em síntese.

“Patrimonialistas”, como também já revela o próprio nome, são os que dão uma maior ênfase ao direito escritural (de posse) à propriedade em detrimento da fundamental função social desta. Os que mandam a polícia escorraçar, utilizando-se quase sempre de gratuita violência, sem-teto e sem-terra que ocupam propriedades em ruínas nos centros urbanos ou terras devolutas e improdutivas no campo – muitas delas abandonadas pelos seus proprietários ou a serviço da especulação imobiliária. “Patrimonialistas” foram responsáveis pela irreparável vergonha de “Pinheirinho”.

Os “patrimonialistas” são os políticos velhos - não exatamente na idade, mas no espírito. Velhos e velhacos. Caducos. Os coronéis (ou seus legítimos herdeiros), os inapropriadamente chamados “liberais”; aqueles que arruínam o patrimônio público em vez de edificá-lo e fortalecê-lo; aqueles que nos vendem a terceirização e a precarização do trabalho como a panaceia que irá curar todos os problemas do capitalismo ou de um (in)certo “custo Brasil”. São os mesmos das privatizações, da chamada “privataria”; aqueles que, ladinos, confundem o público com o privado; os que, “exemplarmente”, mandam prender o pobre miserável que rouba um frango ou um reles shampoo num supermercado, mas que na calada da noite encomendam habeas corpus e ordenam a soltura de banqueiros bandidos e dos filhos criminosos da elite.

Para os “humanistas” os gastos sociais são definidos como prioridade absoluta e são considerados “investimento” - e não propriamente “custo” ou “despesa”. Alguns princípios e conceitos da economia são então subvertidos e melhorados por essa nova maneira de ver e pensar o mundo. O abstrato conceito de FELICIDADE torna-se variável a ser mensurada, juntamente com o crescimento do PIB, como elemento indissociável na busca do desenvolvimento dos povos. Para os “humanistas”, existirá déficit da Previdência enquanto existirem idosos que não possuam a mínima renda necessária a uma sobrevivência digna.

Para estes, o retórico e estatístico “déficit habitacional” ganha concretude doída na desumana vergonha de se testemunhar, nas grandes cidades, homens, mulheres, crianças e idosos morando em favelas e no abandono das sarjetas.

É característico do ideário de determinados partidos políticos e governantes “humanistas”, por exemplo, políticas compensatórias de garantia de uma renda mínima ao cidadão; o acesso à Universidade franqueado aos chamados “filhos da pobreza”; os cartões de passe que integram ônibus, metrô e trem (do tipo “bilhete único” na cidade de São Paulo); escolas como os CEUS (também em SP) ou os antigos CIEPs (no RJ de Darcy Ribeiro e Leonel Brizola); projetos na área da moradia popular; políticas inclusivas como as das cotas para negros e pobres etc. Já os “patrimonialistas” condenam, com indisfarçável veemência, aquilo que chamam de “bolsa-esmola”; são contrários às cotas; priorizam a construção de grandes obras viárias (grandes vias marginais, viadutos e pontes), shopping centers; preconizam o Estado-mínimo e um mercado autorregulador [baseado no ultrapassado conceito da “mão invisível”, do pensador clássico do liberalismo Adam Smith – portanto, do séc. XVIII].

O leitor certamente já fez a óbvia associação: os “humanistas” estão no campo da “esquerda”; já os “patrimonialistas” representam o campo da “direita”. Sei que até pode lhe parecer uma espécie de “pedagogia da obviedade”, que todo o mundo já sabe disso, “cousa e lousa”. Você se espantaria em saber que a maioria dos brasileiros ainda não tem plena consciência dessa suposta “obviedade” que trago aqui à baila; que existem jornalistas, historiadores e intelectuais que andam pregando por aí que “já não existe mais esse negócio de esquerda e direita”. Mas eu lhe asseguro: é de suma importância fazer essa separação e sedimentar/cristalizar esse entendimento na população em geral, essa distinção essencial entre “patrimonialistas” e “humanistas”. Aqueles que servem ao deus mercado (e aos seus próprios interesses) e aos que servem à vida, às pessoas; que buscam o bem-estar comum.

Políticos e governantes de extração mais humanista, presentes em partidos do campo da chamada esquerda, tais como PT, PCdoB, PSB e PSOL, vem pouco a pouco mudando o jeito de pensar e governar esse país. A prioridade hoje está, finalmente, centrada nas classes menos abastadas e favorecidas. Assim, lenta e gradualmente, vai-se diminuindo a enorme dívida social que este país tem para com os seus cidadãos.

É previdente, pois, que relembremos e que “ressignifiquemos” esses conceitos já tão desgastados pelo tempo e pelo mau uso, e corrompidos por ardilosos sofismas, por pregadores “malandros”.

Espalhe essa boa nova por aí! Temos todos uma missão a cumprir na construção de um novo Brasil: defender e difundir o ideário desses novos humanistas, realizar essa nova “catequese”. Não podemos retroceder à época dos políticos velhacos, dos coronéis - com sua “caridade” e chibata.

Carta Maior

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