Vladimir Safatle
É preciso calar quem não se contenta com a vida imposta pelo novo governo
Tomou posse o primeiro governo eleito de extrema direita do Brasil. Com ele, não há negociação alguma possível. Nem ele procura alguma forma de negociação com aqueles que não comungam com seus credos, que não louvam seus torturadores e que não acham que "é duro ser patrão no Brasil".
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domingo, 6 de janeiro de 2019
terça-feira, 15 de maio de 2018
Maio de 68 no Brasil
"Impor a uma sociedade a brutalidade da ditadura, da censura e da exceção e ainda esperar que a integralidade de seus cidadãos não use de todos os meios para se rebelar é desconhecer as dinâmicas mais profundas da história dos povos.
Nesse sentido, Maio de 68 no Brasil mostrou claramente como emergia uma juventude que não estava disposta a continuar a ser sufocada", escreve Vladimir Safatle, filósofo, professor livre-docente do Departamento de Filosofia da USP (Universidade de São Paulo), publicado por Folha de S. Paulo, 11-05-2018.
domingo, 4 de março de 2018
Safatle: Populismos
Em um campo de demandas fragmentadas, é preciso operar grandes alianças com variados interesses
É claro que "populismo" tornou-se um termo fundamental no interior da reflexão política contemporânea mundial. Seu uso recorrente mostra uma tentativa de compreender para onde vão as tendências maiores de reconfiguração do campo político. Mas podemos nos perguntar o que ele exatamente descreve. Pois seria possível insistir que temos atualmente um uso retórico do termo "populismo" que acaba por mascarar sua função analítica.
Vladimir Safatle
Não é difícil perceber como se usa normalmente populismo dentro de uma estratégia de desqualificação e aproximação dos extremos políticos, isso a fim de defini-los como posições políticas anti-democráticas, fundamentada não na força do melhor argumento, mas na mobilização de afetos e paixões. Ou seja, "populismo" aparece como a figura mesma do irracionalismo em política. Este é seu uso meramente retórico.
sábado, 6 de janeiro de 2018
Alternativa da esquerda passa pela politização dos conflitos distributivos
Vladimir Safatle
Durante esta semana, vimos várias reações virulentas a respeito da tese da unidade necessária da esquerda face às próximas eleições. Tal problematização merece análise mais ponderada que evite recorrer a estereótipos tão abundantes ao se submeter problemas políticos a cálculos eleitorais de circunstância.
O primeiro estereótipo consiste em ver nessa questão a expressão de pretensa incapacidade secular das forças à esquerda em deixar de lado os desejos de hegemonia e se unir em situação de adversidade.
A leitura é, entretanto, incorreta. Basta lembrar como a esquerda brasileira demonstrou unidade exemplar na luta contra o impeachment de Dilma Rousseff, congregando até mesmo atores que nunca participaram dos governos petistas e que não tinham com ele relação. Ou seja, o problema não é de pretensa incapacidade estrutural de composição.
Durante esta semana, vimos várias reações virulentas a respeito da tese da unidade necessária da esquerda face às próximas eleições. Tal problematização merece análise mais ponderada que evite recorrer a estereótipos tão abundantes ao se submeter problemas políticos a cálculos eleitorais de circunstância.
O primeiro estereótipo consiste em ver nessa questão a expressão de pretensa incapacidade secular das forças à esquerda em deixar de lado os desejos de hegemonia e se unir em situação de adversidade.
A leitura é, entretanto, incorreta. Basta lembrar como a esquerda brasileira demonstrou unidade exemplar na luta contra o impeachment de Dilma Rousseff, congregando até mesmo atores que nunca participaram dos governos petistas e que não tinham com ele relação. Ou seja, o problema não é de pretensa incapacidade estrutural de composição.
segunda-feira, 4 de setembro de 2017
Safatle: “Frente de esquerda para quê?”
O filósofo da USP duvida da realização de eleições em 2018 e afirma que o campo progressista ainda não sabe o que oferecer aos brasileiros
Safatle: a conciliação da Nova República chegou ao fim
Após incursões em sua área de formação, a Filosofia, Vladimir Safatle volta a se concentrar no debate político contemporâneo. O título de seu mais recente livro, “Só mais um esforço”, a ser lançado no início de setembro, é uma referência a uma famosa frase do Marquês de Sade de estímulo aos concidadãos desanimados com os rumos da Revolução Francesa. Há, portanto, no âmago da análise, uma mensagem de esperança em relação ao futuro do Brasil, erguida sobre camadas de críticas agudas aos rumos da esquerda, ao chamado lulismo e à eterna conciliação das elites.
Safatle: a conciliação da Nova República chegou ao fim
Após incursões em sua área de formação, a Filosofia, Vladimir Safatle volta a se concentrar no debate político contemporâneo. O título de seu mais recente livro, “Só mais um esforço”, a ser lançado no início de setembro, é uma referência a uma famosa frase do Marquês de Sade de estímulo aos concidadãos desanimados com os rumos da Revolução Francesa. Há, portanto, no âmago da análise, uma mensagem de esperança em relação ao futuro do Brasil, erguida sobre camadas de críticas agudas aos rumos da esquerda, ao chamado lulismo e à eterna conciliação das elites.
sábado, 26 de agosto de 2017
Não haverá 2018
Vladimir Safatle
No Brasil, toda a reflexão e ação política parece atualmente ter os olhos única e exclusivamente voltados para o ano de 2018.
Como se o país pudesse voltar a uma normalidade mínima depois de ficar dois anos nas mãos de um ocupante do lugar de presidente da República com perfil mais adaptado a trabalhar em filmes de aprendiz de gângsteres e com aceitação popular zero, de um Congresso Nacional composto de indiciados e oligarcas e de um Poder Judiciário exímio em operar com decisões completamente contraditórias de acordo com os interesses imediatos do juiz que julga.
No entanto há de se trabalhar com uma hipótese de grande plausibilidade, a saber, a de que 2018 não existirá.
No Brasil, toda a reflexão e ação política parece atualmente ter os olhos única e exclusivamente voltados para o ano de 2018.
Como se o país pudesse voltar a uma normalidade mínima depois de ficar dois anos nas mãos de um ocupante do lugar de presidente da República com perfil mais adaptado a trabalhar em filmes de aprendiz de gângsteres e com aceitação popular zero, de um Congresso Nacional composto de indiciados e oligarcas e de um Poder Judiciário exímio em operar com decisões completamente contraditórias de acordo com os interesses imediatos do juiz que julga.
No entanto há de se trabalhar com uma hipótese de grande plausibilidade, a saber, a de que 2018 não existirá.
segunda-feira, 7 de agosto de 2017
O silêncio
Vladimir Safatle
Há algo de instrutivo no ritual que o Congresso Nacional ofereceu ao país na última quarta-feira, quando um ocupante do cargo da Presidência, gravado em situação flagrante de prevaricação e corrupção passiva, formalmente denunciado pela Procuradoria Geral da União, foi poupado.
É difícil imaginar algum país no mundo que chegaria a um espetáculo tamanho de degradação comandado por uma casta de políticos dignos de filmes de gângsteres série B. Ao menos, depois dessa confissão de desprezo oligárquico pela opinião pública, quem sabe agora parem de falar que estamos em uma "democracia".
Há algo de instrutivo no ritual que o Congresso Nacional ofereceu ao país na última quarta-feira, quando um ocupante do cargo da Presidência, gravado em situação flagrante de prevaricação e corrupção passiva, formalmente denunciado pela Procuradoria Geral da União, foi poupado.
É difícil imaginar algum país no mundo que chegaria a um espetáculo tamanho de degradação comandado por uma casta de políticos dignos de filmes de gângsteres série B. Ao menos, depois dessa confissão de desprezo oligárquico pela opinião pública, quem sabe agora parem de falar que estamos em uma "democracia".
domingo, 2 de julho de 2017
Deixar quebrar
Alguém precisa salvar o Brasil de seus salvadores. Neste momento em que, pela primeira vez em sua história, o país tem um presidente em exercício denunciado por crime, é sintomático a quantidade de vozes a ocupar a imprensa a fim de falar da "responsabilidade para com a nação", do "temos um compromisso com o país", do "não podemos deixar o país parar".
Tais vozes são sustentadas por um coro de analistas, juízes e jornalistas que entoa a cantilena do "não devemos desqualificar a política", do "é perigoso quando um povo já não acredita mais na política".
Tais vozes são sustentadas por um coro de analistas, juízes e jornalistas que entoa a cantilena do "não devemos desqualificar a política", do "é perigoso quando um povo já não acredita mais na política".
sexta-feira, 28 de abril de 2017
Safatle: Povo Brasileiro decidiu mostrar que existe
Quando é hora de parar
Segundo pesquisa recente feita pela consultoria Ipsos, 92% das brasileiras e brasileiros acreditam que o país está no rumo errado. No entanto, para quem ocupa atualmente o poder, estas pessoas não contam, a opinião delas é irrelevante. Para eles, a maioria absoluta da população brasileira deve ser tratada como crianças que se recusam a tomar "um remédio amargo" que, no entanto, seria necessário. Isto fica ainda mais evidente quando somos obrigados a ouvir alguns "analistas" a dizer que o governo deveria aproveitar a oportunidade de sua alta taxa de rejeição e impopularidade e "fazer as reformas de que o Brasil tanto precisa".
quarta-feira, 15 de março de 2017
É racional parar de dialogar
Vladimir Safatle
Faz parte de uma certa leitura hegemônica da vida social moderna a ideia de que a razão se realiza necessariamente na vida social por meio da consolidação de um horizonte de diálogo.
Assim, uma sociedade cujas instituições e práticas são racionais seria necessariamente capaz de regular seus conflitos a partir da capacidade de exigir dos sujeitos a explicitação de suas razões para agir e a avaliação de tais ações a partir da procura do melhor argumento. Ou seja, a razão nos permitiria orientar nossas ações a partir do consenso possível produzido pela procura do melhor argumento.
Faz parte de uma certa leitura hegemônica da vida social moderna a ideia de que a razão se realiza necessariamente na vida social por meio da consolidação de um horizonte de diálogo.
Assim, uma sociedade cujas instituições e práticas são racionais seria necessariamente capaz de regular seus conflitos a partir da capacidade de exigir dos sujeitos a explicitação de suas razões para agir e a avaliação de tais ações a partir da procura do melhor argumento. Ou seja, a razão nos permitiria orientar nossas ações a partir do consenso possível produzido pela procura do melhor argumento.
quarta-feira, 8 de março de 2017
Um fascista mora ao lado
Vladimir Safatle
Há alguns dias, foi publicada a última pesquisa CNT/MDA para a eleição presidencial de 2018. Três fenômenos são dignos de nota: a ascensão de Lula, que venceria hoje em todos os cenários, a queda de todos os candidatos ligados de forma ou outra ao atual desgoverno e a consolidação do sr. Jair Bolsonaro em segundo lugar, em empate técnico com Marina Silva.
Uma leitura mais detalhada da pesquisa revela fatos ainda mais surpreendentes. Bolsonaro é o candidato mais votado dentre aqueles que possuem ensino superior (20,7%) e aparece empatado com Lula na escolha dos que ganham acima de cinco salários mínimos (20,5%).
Há alguns dias, foi publicada a última pesquisa CNT/MDA para a eleição presidencial de 2018. Três fenômenos são dignos de nota: a ascensão de Lula, que venceria hoje em todos os cenários, a queda de todos os candidatos ligados de forma ou outra ao atual desgoverno e a consolidação do sr. Jair Bolsonaro em segundo lugar, em empate técnico com Marina Silva.
Uma leitura mais detalhada da pesquisa revela fatos ainda mais surpreendentes. Bolsonaro é o candidato mais votado dentre aqueles que possuem ensino superior (20,7%) e aparece empatado com Lula na escolha dos que ganham acima de cinco salários mínimos (20,5%).
domingo, 1 de janeiro de 2017
domingo, 4 de setembro de 2016
Safatle: Esquerda precisa fazer "uma dura e profunda autocrítica"
O recado do editor
O filósofo Vladimir Safatle tem uma das melhores cabeças da esquerda atual, mas, como muitos intelectuais, não ousa expor suas consistentes críticas ao petismo sem acrescentar, como uma espécie de álibi para evitar a hostilização por parte dos repetidores de slogans simplórios, os desaforos de praxe contra o novo governo.
O filósofo Vladimir Safatle tem uma das melhores cabeças da esquerda atual, mas, como muitos intelectuais, não ousa expor suas consistentes críticas ao petismo sem acrescentar, como uma espécie de álibi para evitar a hostilização por parte dos repetidores de slogans simplórios, os desaforos de praxe contra o novo governo.
segunda-feira, 18 de julho de 2016
Safatle: Quando as ruas queimam: sobre a constituição de sujeitos políticos
Vladimir Safatle
Em Brasília, manifestantes ocupam a cúpula e o gramado do Congresso Nacional durante as manifestações de junho de 2013
Haveria de chegar um tempo no qual as ruas começariam a queimar. Desde 2008, elas queimam nos mais variados lugares. Em Túnis, em São Paulo, no Cairo, em Istambul, no Rio de Janeiro, em Madri, em Nova York, em Santiago, em Brasília. Elas ainda queimarão em muitos outros e imprevistos lugares, recolocando o que é separado pelo espaço em uma série convergente no tempo. Por mais que alguns procurem se convencer do contrário, por mais que agora o fogo pareça ter se retraído, as ruas não pararam de queimar desde então, elas só deslocaram suas intensidades. É importante lembrar disso, pois há algo que pode existir apenas quando as chamas explodem em uma coreografia incontrolada de intensidades variáveis. Por isso, diante de ruas queimando não há de se correr, não há de se gritar, há apenas de se perguntar: o que fala o fogo? O que se diz apenas sob a forma do fogo?
Em Brasília, manifestantes ocupam a cúpula e o gramado do Congresso Nacional durante as manifestações de junho de 2013
Haveria de chegar um tempo no qual as ruas começariam a queimar. Desde 2008, elas queimam nos mais variados lugares. Em Túnis, em São Paulo, no Cairo, em Istambul, no Rio de Janeiro, em Madri, em Nova York, em Santiago, em Brasília. Elas ainda queimarão em muitos outros e imprevistos lugares, recolocando o que é separado pelo espaço em uma série convergente no tempo. Por mais que alguns procurem se convencer do contrário, por mais que agora o fogo pareça ter se retraído, as ruas não pararam de queimar desde então, elas só deslocaram suas intensidades. É importante lembrar disso, pois há algo que pode existir apenas quando as chamas explodem em uma coreografia incontrolada de intensidades variáveis. Por isso, diante de ruas queimando não há de se correr, não há de se gritar, há apenas de se perguntar: o que fala o fogo? O que se diz apenas sob a forma do fogo?
sexta-feira, 8 de julho de 2016
Proibido Educar ou Sócrates em Alagoas
Vladimir Safatle
Doutrinação da juventude, desrespeito a crenças e valores, aliciamento dos jovens para manifestações e posições contrárias à democracia. Essas podem ser algumas acusações que levarão, no futuro próximo, professores brasileiros a serem julgados pelo crime de "abuso de liberdade de ensinar".
Doutrinação da juventude, desrespeito a crenças e valores, aliciamento dos jovens para manifestações e posições contrárias à democracia. Essas podem ser algumas acusações que levarão, no futuro próximo, professores brasileiros a serem julgados pelo crime de "abuso de liberdade de ensinar".
Afinal, segundo os defensores de uma "escola sem partido", não é possível admitir que professores desrespeitem as crenças morais e religiosas de seus alunos, que eles os doutrinem inculcando atitudes contrárias à ordem vigente.
terça-feira, 24 de maio de 2016
Safatle: “A era das panelas em fúria terminou. A verdadeira era da indignação pode começar”
Vladimir Safatle
“Sete citados na Operação Lava Jato viram ministro e ganham foro privilegiado”, “Novo ministro dos Transportes é suspeito de desvio de verba de merenda escolar”, “Itamaraty fornece passaporte diplomático a pastor citado na Lava Jato”, “Brasil tem pela primeira vez presidente acusado de ser ficha suja”, “Gilmar Mendes [quem mais?] reenvia processo contra Aécio Neves à Procuradoria-Geral da República em menos de 24 horas”, “Novo líder do governo na Câmara é acusado de homicídio”.
sexta-feira, 22 de abril de 2016
Safatle: Sob o olhar do mundo
Vladimir Safatle
Dilma está absolutamente certa em querer ir à ONU denunciar o golpe de Estado brasileiro. Sensibilizar a opinião pública mundial para o que está ocorrendo em nosso país é obrigação de todos os que querem uma democracia real no Brasil. Afinal, é sintomático que a imprensa mundial não tenha engolido o enredo do impeachment como prova de força da democracia brasileira, nem o enredo das "pedaladas fiscais" como crime supremo e o carnaval macabro do Congresso de Cunha como festa cívica da moralidade nacional. Tal cenário não é a expressão da consolidação democrática, mas a degradação final das ilusões políticas gestadas na Nova República.
segunda-feira, 28 de março de 2016
Um golpe nada mais por Vladimir Safatle
domingo, 3 de janeiro de 2016
Sem perspectiva
Vladimir Safatle
Há uma conhecida história que teria envolvido Angela Davis e Theodor Adorno nos anos 1960. Em um dos seminários do frankfurtiano, a ativista e filósofa norte-americana teria iniciado uma discussão ao insistir na necessidade dos intelectuais "assumirem a perspectiva dos oprimidos", agindo principalmente a fim de garantir espaço para que oprimidos pudessem falar, reconhecendo a especificidade de seu lugar de fala.
quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014
A barbárie de sempre
Vladimir Safatle
A esta altura, todos conhecem a história do rapaz negro amarrado nu em um poste e espancado por populares no Rio de Janeiro por pretensamente ser um assaltante e ter supostamente roubado uma bicicleta. Todos devem conhecer também o teor dos comentários de certos apresentadores do noticiário televisivo que resolveram surfar na onda da mais nova modalidade de "indignação popular contra a insegurança e a ausência de mão forte do poder público".
Mas, ainda mais surpreendente do que os dois acontecimentos, é o teor da reação monitorada na internet, em sua ampla maioria favorável ao velho "justiça feita com as próprias mãos" ou ao "chegou o momento da revolta do homem comum".
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