Olof Palme e Fidel |
Sempre existiu uma esquerda que observou os princípios democráticos: prevalência da maioria, respeito à minoria, pluripartidarismo, livre manifestação do pensamento, autonomia da sociedade civil (sindicatos, etc.) ante o Estado, direito de greve para os trabalhadores.
Esta esquerda democrática não expropriou os proprietários, mas taxou a riqueza e a distribuiu através de políticas sociais. Como regime econômico, estabeleceu uma economia mista, de convivência entre os setores estatal e privado, sob coordenação governamental.
O seu exemplo clássico é a Suécia, governada pelo Partido Social-Democrata desde 1932, com alguns intervalos. O ápice do Estado de Bem-Estar Social sueco foi durante os governos de Olof Palme; na Alemanha, durante os governos dos social-democratas Willy Brandt e Helmut Schmidt.
Curiosamente, na Itália, foram os comunistas que se estabeleceram como esquerda democrática. O PCI foi um dos fortes pilares da democracia italiana do pós-guerra, liderado por políticos da estatura de Palmiro Togliatti e Enrico Berlinguer.
Esquerda autoritária
E sempre existiu uma esquerda autoritária, que estabeleceu regimes de partido único, reprimiu violentamente qualquer oposição, de direita ou de esquerda, suprimiu a liberdade de opinião, subordinou a sociedade civil (sindicatos, etc.) ao partido e ao Estado.
Seu exemplo clássico foi a União Soviética, especialmente no período de Josef Stalin. Os seu sucessores ideológicos esmagaram tentativas de democratização, como a Primavera de Praga, de Alexander Dubcek, e a Glasnost, de Mikhail Gorbachev.
O autoritário modelo soviético serviu de inspiração para a China de Mao Tsé-Tung e a Cuba de Fidel Castro.
Na América Latina, a esquerda autoritária parece ter ainda grande influência.
É lamentável que setores expressivos no PT e Psol se solidarizem com o regime da Venezuela, que teima em não reconhecer o Congresso de maioria oposicionista, democraticamente eleito, persegue os adversários e restringe as liberdades civis. Além disso, instituiu uma Constituinte que não respeitou o sufrágio universal e agora destituiu a procuradora-geral da República. Mais uma experiência de esquerda autoritária, justificada com os argumentos de sempre.
Espero que setores do PT e do Psol, bem como o PDT, partido brasileiro filiado à Internacional Socialista, o PSB, nascido em 1947 sob o lema de socialismo e liberdade, o PPS, a alma democrática do antigo PCB, e novas expressões do campo da esquerda, como o PV e a Rede Sustentabilidade, se coloquem claramente em defesa de valores democráticos.
Nestes tempos em que a extrema-direita começa a ganhar expressão política de alguma relevância, o Brasil precisa não só da afirmação de uma centro-direita e de um centro democráticos e civilizados, como também de uma esquerda democrática, fiadora dos princípios do Estado de Direito.
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Cláudio de Oliveira, jornalista e cartunista.
Gramsci Brasil
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