Por trás das operações policiais-militares no Jacarezinho, existem fatos incontestáveis. Primeiro: a população daquela favela, como das demais no Rio de Janeiro, é composta, em sua esmagadora maioria, por negros/as e pobres; em segundo lugar, até agora se desconhece a existência de fábricas de armas e munições no Jacarezinho, como também jamais foi localizado qualquer sofisticado laboratório para processamento de pasta de coca naquela favela; e Terceiro: Esse show de horrores e palco de violações dos direitos básicos dos direitos humanos fundamentais de milhares de pessoas – mesmo que se queira tratar de outra forma – tem como pano de fundo agradar e iludir a parcela da sociedade que se sente insegura muito em consequência do desastre dos governos do golpista Temer e de Pezão, ambos enrolados até a alma com a corrupção.
Portanto, a tal “guerra às drogas”, na verdade, se transformou numa guerra à população negra e favelada. Essa Guerra, mesmo sob os marcos do Estado Democrático de Direito, é sádica por expor ao sofrimento constante a população favelada tratada como cidadãos de segunda categoria ou inimigos; é burra posto que os barões da droga continuam a ganhar bilhões e lavar seus lucros via mercado financeiro; e é ineficaz porque morrem mais pessoas pela repressão à venda do que pelos efeitos da droga em si.
Qualquer habitante da cidade do Rio de Janeiro, razoavelmente informado, sabe que os verdadeiros traficantes de drogas moram em luxuosos condomínios fechados e apartamentos à beira da praia, na Barra, em Ipanema ou no Leblon, quando não possuem residência no exterior, em Miami ou Nova Iorque. Possuem ainda mandato parlamentar, grandes fazendas para o cultivo e refino das drogas e as transportam livremente em seus helicópteros.
No Jacarezinho, para usar a linguagem do povão no varejão do bagulho, estão os buchas, os pé-de-chinelo, com seus fuzis, bermudas e sandálias, descamisados. São esquecidos na infância, a quem o Estado negou saúde digna, educação de qualidade, esporte e lazer acessível e que agora o mesmo Estado escolhe como inimigos públicos.
Do outro lado, parte considerável de uma PM criada no século XIX para perseguir negros escravos fujões e tornada ainda mais repressora na Ditadura Militar, cumprindo o papel de máquina de matar e reprimir a população negra nas favelas, num verdadeiro genocídio da juventude negra.
No Brasil do século XXI, a história se repete como farsa, onde os capitães do mato são substituídos por policiais – aqueles que sobem às favelas, praças, em sua grande maioria negros – que matam muito, e morrem muito, para a manutenção dos lucros da casa grande, hoje representada pelos barões do tráfico (de drogas, de informações midiáticas deturpadoras e tóxicas ou de propaganda de mercadorias que inflam a cobiça), e suas ligações com o mundo político brasileiro. E a favela, como outrora a senzala, segue como espaço de resistência e luta da população negra.
As operações desnudam a hipocrisia e insensibilidade da classe dominante brasileira, que se emociona e chora por Paris e Barcelona, mas dá de ombros quando o genocídio atinge os negros/as e pobres do Jacarezinho. Essa elite consegue ainda condicionar muitos outros segmentos da sociedade a relativizar a percepção e a comoção com relação a violência conforme a classe das vítimas, através de seu oligopólio dos meios de comunicação.
O debate sobre o fim da criminalização da venda das drogas – desculpa esfarrapada para o Estado continuar o genocídio nas favelas – e o da inviolabilidade das casas nas favelas – para entrar na Vieira Souto tem de ter mandado judicial e na favela não? – deve ganhar não só as favelas como toda a população. A militarização da vida nas favelas só serve para controlar e matar as pessoas que ali vivem.
Pelo fim da Guerra aos pobres!
Pelo fim das UPPs!
Pela desmilitarização da segurança pública!
Manguinhos e Jacarezinho resistem!
PCB/RJ
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