sábado, 26 de agosto de 2017

Lula justifica alianças políticas: ‘Gostaria que a esquerda tivesse mais força’

Campo progressista precisa mais cadeiras no parlamento, mais votos.
Ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva concedeu entrevista à imprensa alternativa de Pernambuco. (Foto: Instituto Lula)

Rede Brasil Atual

Em entrevista coletiva concedida à imprensa alternativa de Pernambuco na manhã desta sexta-feira (25), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva buscou justificar a formação de alianças políticas para vencer eleições e governar. Questionado sobre a presença de Renan Calheiros em eventos públicos da caravana em Alagoas e a respeito de um eventual apoio a Katia Abreu no Tocantins, ele defendeu a aproximação, ressaltando que composições similares puderam viabilizar diversas iniciativas em seus dois mandatos. “Acho que é importante que o movimento social e a esquerda se preocupem com isso. Quando um partido como o PT procura fazer alianças políticas, só procura fazer essas alianças porque tem clareza de que, sozinho, não ganha as eleições, e, se ganhar, não tem como governar se não tiver maioria no Congresso Nacional. Esse é o dado concreto.”



“Não quero ter um partido que faça como o Partido Comunista italiano fez durante 30 anos. Era o melhor PC do ocidente, mas não passava dos 30%. Aqui no Brasil, para ganhar, tem que ter 50% mais um”, exemplificou Lula. “Posso ser como fui em 89, 94, 98, como candidato de esquerda, e a gente ficava com 24%, 28%, 30%. Em 2002, disse ao PT que não seria candidato para fazer 30%, queria ser candidato para ganhar. Então, tenho que procurar onde estão os outros 20%, e fui procurar no Zé Alencar, que representava um setor empresarial importante – um homem altamente digno e decente –, e conseguimos ultrapassar a barreira dos 50%.”



Lula falou a respeito da necessidade de organização para que o campo progressista consiga obter mais cadeiras no parlamento. “O povo, as entidades, o movimento sindical, a CUT, os sem-terra, sem-teto, estudantes, mulheres, LGBTs, todos têm que pensar o seguinte: se todo mundo se organizar e tiver capacidade de fazer com que a gente eleja uma maioria de deputados comprometidos com algumas transformações, não precisa fazer aliança”, defendeu. “Tenho que construir uma maioria para votar. Não posso conversar com suplente, que não tem voto. Não posso conversar com o cara bom, que não foi eleito. Tem um cara de direita que eu não gosto, mas tem voto.”



O ex-presidente ressaltou, entretanto, que aumentar a representação no Congresso Nacional não é tarefa fácil. “As mulheres são 52% da população. Como é que a gente vai construir uma narrativa para que elas participem da vida política e sejam eleitas? Sabendo que tem mulher de direita, reacionária, ainda tem que convencer o povo a votar nas progressistas. Aí é que começam as dificuldades”, exemplificou. “Quando criei o PT, imaginei que trabalhador votava em trabalhador. Não é assim. Negro vota em negro, homossexual em homossexual… Não é assim. O voto não é automático, não tem equação matemática. O voto é um despertar de consciência da sociedade.”



Na entrevista, Lula ainda justificou alianças feitas no passado, por exemplo, com a família Sarney no Maranhão. “Sou grato ao Sarney. É importante dizer. Sou grato a ele como presidente do Senado. Tinha um tempo em que as pessoas queriam que eu rompesse com o Sarney, aí eu ia ganhar de presente o Marconi Perillo. Ora… Vai deixar de ter um tubarãozinho manso, para ter um tubarão novo mordendo até o pé?”, questionou. “Tem que medir essas decisões em cada momento. Não precisa fazer acordo definitivo, pode fazer acordos pontuais, em cima de cada projeto.”



“Gostaria que a esquerda tivesse mais força, que o PCdoB elegesse 50 deputados, que o Psol elegesse 50, o PSTU elegesse 50, que a esquerda do PMDB elegesse 80. Eu queria, mas é o seguinte: quem vota é o eleitor. Quando o eleitor vota, temos que nos subordinar ao desejo das urnas”, disse.



Ato em Ipojuca



Em Ipojuca, cidade com pouco mais de 90 mil habitantes e a quase 50 quilômetros de Recife, Lula fez um ato público que contou com a presença da ex-presidente Dilma Rousseff, que se incorporou à caravana ontem.



Na cidade, que tem a planta da Refinaria de Abreu e Lima, projetada para transformar óleo bruto em diesel fino, Dilma falou da política de conteúdo local. “Ao invés de importar da Coreia ou do Japão plataformas, navios, equipamentos, vimos que poderíamos produzir aqui. O trabalhador, que antes colhia cana de açúcar, tinha todas as condições de se transformar em um petroleiro, em um petroquímico, em um metalúrgico, se fossem criadas todas as condições para que produzíssemos no Brasil aquilo que somos competentes para produzir”, disse. “É gravíssimo o que esse governo ilegítimo e golpista está fazendo, acabar com o chamado conteúdo local.”



Dilma criticou duramente o governo Temer, afirmando que seu impeachment era apenas parte do enredo do golpe. “É um governo que não tem o menor compromisso com o povo brasileiro, tem compromisso sim com o bolso e o lucro dos ricos, e não com o que o povo brasileiro precisa”, afirmou. “O meu processo de saída do governo de forma ilegal e ilegítima é um ato que não é todo o golpe. O golpe só começa com meu impeachment e agora eles farão de tudo para impedir que em 2018 o povo tenha novamente seu voto respeitado, porque nenhum de nós votaria para acabar com a refinaria, acabar com toda a produção local”, argumentou, afirmando ainda que “eles tentarão impedir que nós ganhemos outra vez a eleição com o presidente Lula”.



Em seu discurso, ele também atacou o atual governo, lembrando ainda as críticas que recebeu à época em que foi implementado o Bolsa Família. “Eles não sabem o milagre que uma mãe fazia com uma nota de 100 reais, entrava no supermercado e comprava comida pelo menos para 15 dias. E tudo isso pra eles é gasto. São tão incompetentes que, por não saber o que fazer com a economia, estão vendendo tudo”, apontou. “Eles estão vendendo o que não é deles, o patrimônio nosso construído ao longo de anos pelo povo brasileiro.”



O ex-presidente falou sobre a nova tentativa do governo de viabilizar a reforma previdenciária. “A gente resolve o problema da Previdência criando emprego, aumentando o salário mínimo e formalizando a economia. De 2004 a 2014 a Previdência foi superavitária. Sabe por que? Por que a gente criou 22 milhões de empregos nesse período, formalizou 6 milhões de micro e pequenas empresas e durante 12 anos aumentou o salário de todas as categorias e o salário mínimo.”



“Muito dinheiro nas mãos de poucos é concentração de renda, pouco dinheiro nas mãos de muitos é distribuição de renda. Na hora que a gente colocar mais crédito para a agricultura familiar, para o pequeno e médio empresário, para o micro empreendedor, a economia vai pra frente”, assegurou.


Sul 21


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