Foi lançada hoje, 21, a pesquisa Tortura Blindada: Como as instituições do sistema de Justiça perpetuam a violência nas audiências de custódia, no Memorial da Resistência de São Paulo. Realizado pela ONG Conectas Direitos Humanos, o estudo traz dados alarmantes sobre a prática da tortura durante as audiências de custódia, através de depoimentos, estatísticas e investigação.
As audiências de custódia foram implementadas após muita resistência pelas carreiras jurídicas. Prevista no Pacto de San Jose da Costa Rica, significa da apresentação do preso e da presa a um juiz de direito em até 24h após a prisão. A medida visa tanto desafogar o sistema prisional, para evitar prisões mantidas de forma desnecessária, como também para fiscalizar ocorrência de abuso e tortura em sede policial.
No entanto, o que o estudo da Conectas revela é que muitas pessoas são vitimas de tortura na audiência de custódia não encontram amparo no sistema de justiça. Rafael Custódio, coordenador da pesquisa, afirmou durante o evento que as torturas em audiências de custódia não estão sendo identificadas pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
“Pela primeira vez no Brasil fomos descobrir institucionalmente o que acontecia nessas audiências. Só coletamos os dados em que houve relato, ou por outras fontes, como marca de sangue e hematomas”, disse. Outro aspecto apontado por Rafael que a pesquisa revela são relatos de “kits torturas” dentro da viatura policial no momento da prisão.
Em 80% dos casos em que na audiência de custódia houve denuncia de tortura, houve omissão promotor em não transmitir o relato ao juiz. Nos outro 20% dos casos em que a denuncia foi levada adiante, o Ministério Público deslegitima e arquiva como denuncias caluniosas.
Embora o estudo também traga relatos e vídeos em que o promotor pressiona o preso para que não faça a denuncia, Rafael afirma que também há grande responsabilidade do juiz, que deve questionar. Os dados mostram que 60% das perguntas dos juízes giravam nesse sentido, outros 40% para desqualificar.
Vivian Calderoni, que também participou da coordenação da pesquisa, afirma que as audiências de custódia não estão desenhadas para cumprir o papel que deveriam. “Audiência fantasma, são inusitadas, casos em que a pessoa não é apresentada por conta de um ferimento muito grande, hospitalizada. A cadeira fica vazia, e o promotor ou defensora falando com a parede”, denuncia.
Neste sentido, Vivian pontua que o juiz, a promotoria e a defensoria compactuam com um sistema de violência policial, e que o próprio Instituto Médico Legal (IML) também participa. Ela cita que em um dos casos em que o promotor passou adiante a denuncia de tortura, ele afirmou: “não quero que depois olhem a imagem do cara todo arrebentado e digam que eu não pedi para investigar”. Outra frase que ficou famosa vindo de um promotor foi: “se não tivesse roubando não tava matando”.
André Augusto Salvador Bezerra, presidente da Associação de Juízes para a Democracia (AJD), acredita que ainda temos um Judiciário com uma estrutura autoritária e que pouco compreende a Constituição de 88, criada para garantir que acabassem as violações dos direitos humanos. Para ele, a magistratura tem uma carreira extremamente hierarquizada, quase militar. Além disso, os magistrados que são considerados “libertários” são perseguidos.
“Isso ocorre porque a visão do mundo do juiz ainda é muito punitivista. O direito não nasceu da árvore, não é apolítico. Quando pensamos em termos de formação, as apostilas de Fernando Capez e Alexandre de Moraes é que são passadas para que as pessoas estudem e passem em concursos públicos”, afirma.
O jornalista Bruno Paes Manso acrescenta que as audiências de custodia foram incorporadas na engrenagem e vem para legitimar o sistema. “O que assusta é a eficiência e naturalidade com que isso foi feito, 80% das prisões são feitas em patrulhamento ostensivo. A tortura vem para o cara confessar o crime. Da década de 90 para cá, 30 mil para 230 mil presos em SP. É a indústria de encarceramento”, afirmou.
Deborah Duprat, Procuradora Federal dos Direitos do Cidadão, alerta que estamos vivendo um momento de profunda violação dos direitos humanos. “Tortura sistemática e invisível. Nós somos uma sociedade em sua gêneses violenta, escravocrata e colonial. O Ministério Público foi concebido nessa Constituição como o grande defensor dos direitos humanos e ele não poderia se distanciar disso”, considerou.
Justificando
As audiências de custódia foram implementadas após muita resistência pelas carreiras jurídicas. Prevista no Pacto de San Jose da Costa Rica, significa da apresentação do preso e da presa a um juiz de direito em até 24h após a prisão. A medida visa tanto desafogar o sistema prisional, para evitar prisões mantidas de forma desnecessária, como também para fiscalizar ocorrência de abuso e tortura em sede policial.
No entanto, o que o estudo da Conectas revela é que muitas pessoas são vitimas de tortura na audiência de custódia não encontram amparo no sistema de justiça. Rafael Custódio, coordenador da pesquisa, afirmou durante o evento que as torturas em audiências de custódia não estão sendo identificadas pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
“Pela primeira vez no Brasil fomos descobrir institucionalmente o que acontecia nessas audiências. Só coletamos os dados em que houve relato, ou por outras fontes, como marca de sangue e hematomas”, disse. Outro aspecto apontado por Rafael que a pesquisa revela são relatos de “kits torturas” dentro da viatura policial no momento da prisão.
Em 80% dos casos em que na audiência de custódia houve denuncia de tortura, houve omissão promotor em não transmitir o relato ao juiz. Nos outro 20% dos casos em que a denuncia foi levada adiante, o Ministério Público deslegitima e arquiva como denuncias caluniosas.
Embora o estudo também traga relatos e vídeos em que o promotor pressiona o preso para que não faça a denuncia, Rafael afirma que também há grande responsabilidade do juiz, que deve questionar. Os dados mostram que 60% das perguntas dos juízes giravam nesse sentido, outros 40% para desqualificar.
Vivian Calderoni, que também participou da coordenação da pesquisa, afirma que as audiências de custódia não estão desenhadas para cumprir o papel que deveriam. “Audiência fantasma, são inusitadas, casos em que a pessoa não é apresentada por conta de um ferimento muito grande, hospitalizada. A cadeira fica vazia, e o promotor ou defensora falando com a parede”, denuncia.
Neste sentido, Vivian pontua que o juiz, a promotoria e a defensoria compactuam com um sistema de violência policial, e que o próprio Instituto Médico Legal (IML) também participa. Ela cita que em um dos casos em que o promotor passou adiante a denuncia de tortura, ele afirmou: “não quero que depois olhem a imagem do cara todo arrebentado e digam que eu não pedi para investigar”. Outra frase que ficou famosa vindo de um promotor foi: “se não tivesse roubando não tava matando”.
André Augusto Salvador Bezerra, presidente da Associação de Juízes para a Democracia (AJD), acredita que ainda temos um Judiciário com uma estrutura autoritária e que pouco compreende a Constituição de 88, criada para garantir que acabassem as violações dos direitos humanos. Para ele, a magistratura tem uma carreira extremamente hierarquizada, quase militar. Além disso, os magistrados que são considerados “libertários” são perseguidos.
“Isso ocorre porque a visão do mundo do juiz ainda é muito punitivista. O direito não nasceu da árvore, não é apolítico. Quando pensamos em termos de formação, as apostilas de Fernando Capez e Alexandre de Moraes é que são passadas para que as pessoas estudem e passem em concursos públicos”, afirma.
O jornalista Bruno Paes Manso acrescenta que as audiências de custodia foram incorporadas na engrenagem e vem para legitimar o sistema. “O que assusta é a eficiência e naturalidade com que isso foi feito, 80% das prisões são feitas em patrulhamento ostensivo. A tortura vem para o cara confessar o crime. Da década de 90 para cá, 30 mil para 230 mil presos em SP. É a indústria de encarceramento”, afirmou.
Deborah Duprat, Procuradora Federal dos Direitos do Cidadão, alerta que estamos vivendo um momento de profunda violação dos direitos humanos. “Tortura sistemática e invisível. Nós somos uma sociedade em sua gêneses violenta, escravocrata e colonial. O Ministério Público foi concebido nessa Constituição como o grande defensor dos direitos humanos e ele não poderia se distanciar disso”, considerou.
Justificando
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